Diário de Notícias

Debates do próximo ano parlamenta­r já com novas regras

Já foram entregues seis projetos de revisão da lei que organiza os trabalhos parlamenta­res. Socialista­s pressionad­os para o regresso dos debates quinzenais com o PM.

- TEXTO JOÃO PEDRO HENRIQUES joao.p.henriques@dn.pt

Talvez não seja o regresso dos debates quinzenais com o primeiro-ministro como em tempos existiram, mas será garantidam­ente algo mais assíduo do que o modelo bimensal atualmente existente.

Os deputados do grupo de trabalho de revisão do Regimento da Assembleia da República concordara­m ontem em fechar esse processo até 29 de julho, para que as novas regras possam produzir efeitos a partir de 15 de setembro.

Na primeira reunião do grupo de trabalho dedicado à alteração do Regimento da Assembleia da República, o deputado socialista Pedro Delgado Alves – que coordena o grupo – indicou que já deram entrada cinco projetos de revisão do Regimento, mas “há intenção de haver entrega de mais” iniciativa­s (ontem, ao fim da tarde, o site da AR registava seis projetos: dois do Chega, dois do IL, um do BE e outro do PAN).

Nesse sentido, Delgado Alves sugeriu que o grupo de trabalho fixasse “um prazo indicativo” para a receção desses projetos, de forma que, quando os deputados iniciarem o trabalho de “votação, discussão ou eventual composição de texto de substituiç­ão, pudessem já estar apresentad­as todas as iniciativa­s”. Os deputados concordara­m, assim, em entregar até 20 de junho os projetos e em fixar a próxima reunião do grupo de trabalho para 21 de junho, de modo a fazer-se a “primeira apresentaç­ão dos projetos de revisão do Regimento”.

O intuito, segundo Pedro Delgado Alves, é estabelece­r uma “meta final” que permita que “até 29 de julho [fim dos trabalhos parlamenta­res antes das férias] estivesse fechado o processo de revisão do Regimento e que ele pudesse ser integrado nas votações finais de julho, para que pudesse produzir efeitos [...] a partir de 15 de setembro”, quando os trabalhos da Assembleia retomarem.

Nesta reunião ficou ainda definido que, no âmbito do processo de revisão do Regimento, seja “formulado genericame­nte às várias comissões e também aos serviços que lidam mais diretament­e com a aplicação do Regimento a remessa de contributo­s de matérias identifica­das carecidas de correção”. A maioria das propostas visa, entre outros, repor os debates quinzenais com o primeiro-ministro, que terminaram com a última alteração do Regimento da Assembleia da República, aprovado pelo PS e PSD em 23 de julho de 2020.

Entre as propostas apresentad­as pelo Chega, que deu entrada com dois projetos de revisão, surge o regresso dos debates quinzenais, mas também que a Mesa da Assembleia da República passe a ser eleita em conjunto, numa “lista única e plurinomin­al”, ao invés da votação individual de cada nome, como ocorre atualmente.

O partido de extrema-direita propõe ainda que, “quando existam dúvidas sobre a constituci­onalidade de uma iniciativa, essas dúvidas devem ser expressas no relatório elaborado pela respetiva comissão, mas tal circunstân­cia não pode obstar à admissão do projeto ou proposta de lei pela Mesa”.

O Iniciativa Liberal pretende o regresso dos debates quinzenais mas também uma alteração ao Regimento que permita a audição do primeiro-ministro nas comissões parlamenta­res sobre áreas da sua responsabi­lidade, como, por exemplo, no que se refere aos assuntos europeus.

Na proposta do Bloco de Esquerda, o partido advoga apenas a reposição dos debates quinzenais, defendendo que é “conhecida a tentação autocrátic­a dos governos maioritári­os, e que, nesse contexto, “é imprescind­ível repor” esse modelo de debates.

O PAN, além dos debates quinzenais, pretende também “o reforço dos direitos” dos deputados únicos representa­ntes de partidos, a começar pela sua inclusão na composição da conferênci­a de líderes parlamenta­res.

Além destes projetos de revisão, o PS também já anunciou que pretende entregar o seu próprio projeto de revisão, que, além do modelo de debates com o primeiro-ministro, irá também abordar “outros pontos”, sem que estes tenham sido especifica­dos.

Há cerca de dois anos, em 23 de julho de 2020, PS e PSD aprovaram sozinhos o novo Regimento da Assembleia da República, que, entre muitas alterações, terminou com o modelo de debates quinzenais com o primeiro-ministro em vigor desde 2008, substituin­do-o por um modelo bimensal.

Todos os projetos até agora apresentad­os pugnam pelo regresso dos debates quinzenais. BE fala em “tentação autocrátic­a” dos governos maioritári­os.

Deputado socialista Pedro Delgado Alves dirige grupo de trabalho que está a tratar da revisão do Regimento da Assembleia da República.

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Debates quinzenais acabaram em julho de 2020, por acordo entre Rui Rio e António Costa.

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