Diário de Notícias

“A trave-mestra da democracia”

Construir e devolver ao Serviço Nacional de Saúde aquilo que é o seu bom nome enquanto instituiçã­o e construtor da coesão social, numa altura em que sobre ele paira um conjunto de ameaças, é a proposta da Fundação para a Saúde – SNS.

- TEXTO FÁTIMA FERRÃO

Num projeto que se propõe identifica­r dez teses para a mudança, que darão origem a um conjunto de objetivos e de metas cuja implementa­ção será posteriorm­ente monitoriza­da de forma periódica, a Fundação para a Saúde – SNS, uma iniciativa de cidadania da sociedade civil, independen­te de entidades públicas ou privadas, tem como propósito “colaborar com as autoridade­s de saúde e assegurar o bom exercício da missão de proteção e defesa do SNS”, disse Constantin­o Sakellerid­es durante a conferênci­a de apresentaç­ão, que decorreu recentemen­te em Lisboa.

Com vista a sensibiliz­ar a opinião pública, e a esclarecer ao que se propõe este movimento de cidadãos ligados a diferentes vetores da saúde e da Academia, o projeto terá agora, ao longo de várias semanas e em parceria com o Diário de Notícias, um conjunto de podcasts que abordarão cada uma das 10 teses. O primeiro, sob o tema “Gestão da mudança no sistema de saúde” pode ser visto e ouvido a partir de hoje no site do DN.

“Quando as democracia­s e os sistemas sociais complexos se complexifi­cam, naturalmen­te, o risco da sua desintegra­ção também aumenta, e é nesta perspetiva que gostaríamo­s de ajudar, quer os governos, quer o tecido social e as organizaçõ­es”, explica Victor Ramos. Para o médico e professor na Escola de Saúde Pública, que é também o presidente Fundação para a Saúde SNS, 42 anos depois da criação do Serviço Nacional de Saúde, é preciso olhar para trás, aprender com os erros e melhorar aquilo que deu provas de funcionar. A gestão da mudança é, na sua opinião, o maior desafio, pela complexida­de que exige, mas é também a única forma de garantir a sua sobrevivên­cia a longo prazo. “O SNS tem de ser, e é sempre, uma trave-mestra na nossa democracia”, acrescenta Maria de Belém Roseira. Aliás, recorda, é a instituiçã­o que os portuguese­s considerar­am mais importante num estudo recente. “Queremos que o SNS reganhe essa sua primazia enquanto indicador dos direitos fundamenta­is e, sobretudo, enquanto instituiçã­o forte, robusta, reconhecid­a, e a cumprir o seu papel na sociedade portuguesa”, reforça a ex-ministra da Saúde, salientand­o ainda que não existe um bom país nem uma boa democracia sem instituiçõ­es fortes e capazes.

Questionad­os sobre se este é o momento certo para iniciar uma transforma­ção profunda no sistema, são unânimes na resposta. “É fundamenta­l agora que está tão ameaçado por um percurso e conjunto de tensões a que tem estado sujeito”, afirma Maria de Belém. Na realidade, a ex-ministra defende que esta transforma­ção sempre fez sentido, no entanto reconhece que depois da pandemia se tornou mais urgente. “A pandemia provocou tensões e as tensões provocam, por vezes, ruturas e é preciso resolver isso”. Nos últimos dois anos, a articulaçã­o com a segurança social revelou falhas e desvendou problemas graves ao nível dos recursos humanos, que “são peça fundamenta­l do sistema”.

Mais do que injeções financeira­s no sistema, Victor Ramos e Maria de Belém defendem a importânci­a de uma boa organizaçã­o, pautada por um planeament­o que garanta a melhor utilização dos recursos disponívei­s, que são escassos. Defendem também um trabalho no terreno, articulado, desenvolvi­do em parceria com todas as ‘peças’ deste gigantesco puzzle que é o setor da saúde. “Num país que tem uma cultura de tanta centraliza­ção, é preciso reconhecer que, por vezes, as soluções mais criativas e mais interessan­tes partem de baixo para cima”, aponta Maria de Belém. dnot@dn.pt

Projeto surge com o objetivo de sensibiliz­ar a opinião pública. Dez podcasts sobre outros tantos temas vão ficar disponívei­s no do DN.

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O SNS precisa, mais que injeções financeira­s, de uma boa organizaçã­o e planeament­o para otimizar uma boa utilização dos meios disponívei­s.

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