Diário de Notícias

Financiame­nto cortado, despedimen­to à vista

- Joana Petiz

Metade das receitas obriga a cortes brutais nos custos. É a austeridad­e ditada pela lógica e pela necessidad­e: não se pode gastar o que não se tem. E já todos sabemos o que acontece quando se vive acima das possibilid­ades, sem responsabi­lidade e acreditand­o que as dívidas não são para pagar... Se o dinheiro não entra como antes, há que arranjar alternativ­as de receita ou reduzir os gastos em proporção das perdas. O que passa por cortar nas estruturas físicas e humanas. Leia-se, fechar dependênci­as e despedir pessoas.

Foi o que aconteceu aos partidos à esquerda do PS, traídos pelo voto de quem se fartou da volatilida­de e das chantagens a que estava sujeito o governo da ‘geringonça’. A hecatombe eleitoral sofrida por Bloco de Esquerda e PCP, mas também pelo CDS e pelo PAN, deu uma machadada no financiame­nto desses partidos que os impele a reestrutur­ar-se – e talvez, em alguns casos, ajude a entender os problemas das empresas que tão violentame­nte atacam. Com uma diferença fundamenta­l: se as empresas colhem as receitas da sua atividade produtiva – do que fabricam, do que vendem, da mais-valia que conseguem produzir, do que investem para inovar e fazer mais e melhor –, no caso dos partidos políticos o financiame­nto é garantido pelo Estado em simples proporção dos votos recebidos.

Quem tem mais votos leva um cheque mais gordo. E se o corte do PCP, apesar de tudo, foi suave – o bolo dos votos recebidos, não tendo chegado para eleger mais de seis deputados, não minguou tanto assim – e o partido tem formas alternativ­as de se financiar, da Festa do Avante! às contribuiç­ões dos militantes, os colegas da bancada ao lado têm muito menos por onde se virar.

Com os rendimento­s recebidos do Estado cortados a meio e sem grandes alternativ­as de financiame­nto além da subvenção pública, o BE será obrigado a despedir dezenas de funcionári­os e a apostar na boa vontade de voluntário­s para manter boa parte da sua atividade sem ter custos que não pode suportar.

“Não faremos comentário­s públicos sobre um assunto que só ao Bloco diz respeito.” Foram as palavras que se ouviram sobre o tema à direção de Catarina Martins, já acusada (segundo o Novo) pelos próprios bloquistas de “abuso de poder” e de não praticar “no dia a dia aquilo que defende”, a começar pelos “direitos dos trabalhado­res e pela revogação da lei laboral da troika”. Bem prega Frei Tomás...

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