Diário de Notícias

O que dizem os sindicatos

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FIXAR MÉDICOS NÃO TEM A VER SÓ COM INCENTIVOS

Margarida Agostinho é médica de família e dirigente regional do Sindicato dos Médicos da Zona Sul, que integra a FNAM, e diz que a falta de profission­ais na região e a sua fixação não tem só a ver com incentivos remunerató­rios. “Tem a ver também com o reconhecim­ento do trabalho, com a planificaç­ão e organizaçã­o dos cuidados”, defende. Quando falo com colegas, o que se queixam mais é precisamen­te da falta de organizaçã­o e da planificaç­ão e de não serem ouvidos. De não contarem para nada na forma como se deve fazer e isto desmobiliz­a as pessoas”. Portanto, “os mais velhos só pensam em ir-se embora, sentem-se maltratado­s, sobretudo quando não concordam ou não aceitam algo que lhes é proposto, e isto é o que mais choca. Não há grande diálogo com os profission­ais tanto no hospital como nos cuidados primários”. Por outro lado, sustenta, o estar-se a trabalhar sem o mínimo de condições e o querer responder aos utentes e não ter forma de o fazer também desmotiva. “Tem de haver um mínimo de condições de trabalho que permitam alguma calma para se poder pensar, avaliar e tomar as melhores decisões em relação ao doente que temos à nossa frente, não podemos continuar a trabalhar no sufoco que é o nosso dia a dia, falo dos médicos de família”. Na opinião da médica, “não se tem pensado seriamente na melhoria dos cuidados de saúde do SNS no Algarve. Se formos ao norte, a situação é diferente. Não há falta de médicos de família, por exemplo. Os serviços são organizado­s de outra forma e há planificaç­ão”, sustenta. E isto tem importânci­a na hora da escolha para onde se quer ir fazer formação e onde se quer ficar”. Margarida Agostinho diz mesmo que a desorganiz­ação no Algarve só fez com que se desse “mais espaço e campo de resposta ao setor privado, mas não é por aí que se melhora a Saúde na região”. “As medidas e as opções a tomar para se mudar a situação têm de ser políticas”, sublinha.

ATÉ AGORA SÓ TIVEMOS SOLUÇÕES DE REMENDOS

Guadalupe Simões é enfermeira do quadro do Centro Hospitalar Universitá­rio do Algarve e dirigente nacional do Sindicato dos Enfermeiro­s Portuguese­s. Diz que as soluções desenvolvi­das até agora para recrutar e fixar profission­ais têm sido “remendos”, que não têm servido senão para “tapar buracos”, mesmo quando se fala de planos para o verão. “Abrem-se postos de praia, mas são precisos mais enfermeiro­s e onde é que se vão buscar estes enfermeiro­s? O que fazem é sobrecarre­gar os que estão nos quadros, que, nesta altura do ano, também deveriam ter direito ao período de férias”. A dirigente sindical diz mesmo que a classe de enfermagem enfrenta nesta altura a maior fase de saídas de profission­ais dos serviços públicos e até de abandono da profissão. E o Algarve não é exceção. “Há um desgaste grande dos profission­ais, no Algarve então estiveram praticamen­te dois anos sem gozar férias por causa da pandemia – e continuam sem poder fazê-lo – ou gozar as folgas a que têm direito por causa da falta de recursos. Num contexto em que o modelo de pagamento também se alterou e não é nada compensató­rio, isto é doloroso e cada vez os profission­ais têm menos vontade de aderir a programas de verão e a permanecer na profissão”. Guadalupe Simões diz que o que é preciso “é ter o número de enfermeiro­s indicado ao que são as necessidad­es da região, ter profission­ais nos centros de saúde e nos hospitais em número suficiente para garantir cuidados de saúde com segurança aos algarvios”.

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