“Transformar vidas”
André Eiras, mediador juvenil da E2O de Matosinhos há 7 anos, é mais do que um formador para os alunos da instituição. “Tenho noção de que fazemos a diferença e que temos uma responsabilidade acrescida, porque os jovens depositam em nós muitas expectativas e não temos espaço para falhar. É muito importante para eles sentir que cumprimos a nossa palavra e esta ligação de proximidade é a que transforma vidas de jovens de uma forma muito significativa. Trata-se de uma escola para mudar de vida e não apenas para estudar”, salienta. O mediador destaca “um mural de 360 metros quadrados que pintou com os alunos, em apenas duas semanas, que “funcionou como um farol para os alunos, aproximando-os da comunidade”. nossos indicadores de sucesso são elevados. E por indicador de sucesso compreende-se, por exemplo, jovens que saem daqui para outras formações, para o mercado de trabalho ou para concluir uma certificação”, explica.
Na E2O não há turmas e aceitam-se alunos em qualquer altura do ano. O processo de ensino faz-se através de planos de formação individual, adaptados às preferências de cada aluno. “Estamos a falar de jovens que enfrentam um conjunto de problemas que não conseguem resolver. Não se deram bem com o sistema de ensino regular por variadas razões, desde problemas sociofamiliares, de orientação sexual, de gravidez na adolescência, consumo de drogas, pobreza, bullying, entre outros”, avança. A E2O aposta, por isso, numa “uma abordagem alternativa à dos sistemas regulares, construindo com cada um deles uma proposta de formação ajustada aos seus interesses, capacidades e experiências, residindo a sua força na flexibilidade para se adequar às necessidades dos jovens”.
Os módulos são flexíveis e passam por quatro áreas principais: o desen
volvimento pessoal e social (apoio educacional e a intervenção psicossocial), a educação artística (teatro, música, dança, artes visuais, média), a certificação escolar de 6.º e 9.º anos e a formação vocacional em têxteis, madeiras, cozinha e outras.
Ao DN, Luís Mesquita afirma que a E2O não é “uma fileira ao lado do ensino público”, mas “um sistema de retaguarda”. “As causas de abandono são muito diversas e algumas são da responsabilidade da escola que, pela sua inflexibilidade e falta de envolvimento, vai abandonando estes jovens. Sentem-se esmagados. A verdade é que a escola mudou muito nos últimos anos, mas ainda há muito caminho a fazer e nós somos aqueles que amparamos os alunos que caem do sistema”, sublinha. O presidente da AE2O explica que a rede de Escolas de Segunda Oportunidade atua quando “tudo falhou”. “Há três áreas críticas que devem ser articuladas: a prevenção, a intervenção e a compensação. E é nesta última que nos encontramos e é aí que precisamos de mais. Queremos estruturar este campo da compensação que existe, mas de forma frágil e apenas por impulso nosso, das E2O”, afirma.
Luís Mesquita relembra que no campo do abandono escolar existem “abandonantes e abandonados”. “Muitos jovens abandonaram a escola, mas também foram abandonados pelo sistema”. E para combater esta realidade, conta, é preciso “mais apoio do Estado, mas também da sociedade”. A verdade é que, diz, apesar das melhorias nos últimos anos, “a taxa de abandono precoce em Portugal é uma das mais altas da Europa e agravada pelo facto de os nossos jovens abandonarem a escola com muito baixas qualificações, muitos sem o 6.º ou o 9.º ano, o que não se verifica em nenhum outro país da União Europeia”.