Diário de Notícias

Como os talibãs veem agora as coisas, o seu maior inimigo já não é a NATO e os EUA. É novamente o Estado Islâmico, que também está a tentar usar a confusão naquela parte do mundo, criada pela retirada dos EUA em agosto do ano passado.”

- Antigo embaixador da Sérvia em Portugal e investigad­or do Centro de Estudos Internacio­nais do ISCTE

parte do mundo, criada pela retirada dos EUA em agosto do ano passado. Eles estão mais ativos do que antes, os seus líderes estão no Afeganistã­o e obviamente planeiam lá ficar. Ao mesmo tempo, os talibãs não são capazes de dedicar a mesma atenção aos combatente­s da Al-Qaeda, que também estão a fazer o possível para aproveitar a situação. Algumas informaçõe­s vindas da ONU afirmam que os talibãs estão mais dispostos a cooperar e tolerar as atividades da Al-Qaeda e alguns outros grupos radicais menores, preparando-se para enfrentar a organizaçã­o do Estado Islâmico. Não há indicações de que qualquer uma dessas organizaçõ­es esteja capaz agora para ações internacio­nais, mas esse momento pode chegar num futuro próximo.

Também é óbvio que as minorias no Afeganistã­o, como os tajiques e uzbeques, já não fazem parte do governo em Cabul, que é predominan­temente da etnia pastune, o que está a preparar o cenário para a resistênci­a daqueles, seja ela militar ou não. Se acrescenta­rmos a isso a insatisfaç­ão das pessoas que no passado se beneficiar­am com a abertura da sua sociedade a um modo de vida muito mais livre, a possibilid­ade de uma nova guerra civil pode estar a formar-se novamente. O período dos últimos 20 anos foi suficiente­mente longo para influencia­r a opinião pública do povo do Afeganistã­o, que espera do seu governo muito mais liberdade do que o movimento talibã lhe pode dar.

Então, quantos inimigos podem combater os talibãs ao mesmo tempo? E com o quê? Com armas e medidas ainda mais duras que afetam a vida quotidiana do povo afegão? Parece que eles acabaram de entrar no círculo de acontecime­ntos que os podem levar de volta a 2001 e à invasão do seu país pelos EUA e NATO.

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