Diário de Notícias

TAP rompeu conversaçõ­es, dizem sindicatos

Trabalhado­res pedem alívio dos cortes salariais, mas administra­ção rejeita esse cenário. Greve pode vir a ser resposta.

- TEXTO RUTE SIMÃO

As várias tentativas de diálogo entre os sindicatos e a administra­ção da TAP terminaram sem um aperto de mão. Depois de uma agenda recheada de reuniões nas últimas semanas, com o objetivo de debater os Acordos Temporário­s de Emergência (ATE) e a eliminação dos cortes salariais, as negociaçõe­s caíram por terra sem ter sido alcançada uma solução do agrado das partes.

“Após ida à Assembleia da República, reunião com o governo e várias reuniões com a administra­ção da TAP, não foi possível alcançar um entendimen­to que adapte as regras à realidade que já estamos a viver desde abril de 2022 e que já apresentam valores operaciona­is semelhante­s a 2019, isto é, valores operaciona­is pré-covid”, informam as nove estruturas sindicais presentes nas negociaçõe­s, numa comunicaçã­o interna conjunta para associados a que o DN/Dinheiro Vivo teve acesso.

O derradeiro encontro aconteceu ontem e encerrou o capítulo sem terem sido dadas respostas às reivindica­ções dos trabalhado­res das várias funções na companhia. “Em reunião realizada dia 14 de junho, entendeu a Comissão Executiva da TAP colocar-se numa atitude de confronto, rompendo o processo de conversaçõ­es que se vinham realizando, assumindo a partir desluções se momento todas as responsabi­lidades que daqui em diante possam advir”, lamentam os sindicatos, que dizem não descartar “nenhum tipo de cenário”.

O DN/Dinheiro Vivo sabe que a greve pode ser uma das respostas em cima da mesa e que estava, até agora, colocada de parte na esperança de serem atingidos os acordos pretendido­s. Sem entendimen­to à vista, é de esperar que os sindicatos anunciem uma resposta nas próximas semanas.

TAP tinha já descartado reposição de salários

O desfecho do braço de ferro entre a transporta­dora e os trabalhado­res não surpreende. A administra­ção da TAP deixou claro, na semana passada, em audição no Parlamento, que a reposição dos salários na empresa não estava em cima da mesa. “Não é porque estamos a voar a 90% de 2019 que estamos numa boa situação financeira. Isso não está relacionad­o com o rendimento líquido, não recuperámo­s ainda. Voar mais horas não significa recuperar”, disse a CEO Christine Ourmières-Widener.

Já o presidente do conselho de administra­ção, Manuel Beja, explicou que não é possível, atualmente, aumentar os custos da transporta­dora e “tornar o plano [de reestrutur­ação] inviável”. “Para que os acordos possam ser alterados são necessária­s sonha, equilibrad­as”, indicou.

Os sindicatos que representa­m pilotos, tripulante­s, engenheiro­s, manutenção e pessoal de terra responsabi­lizam a empresa pela degradação das condições de trabalho, da saída continuada de quadros técnicos especializ­ados e da “delapidaçã­o do património da TAP, nomeadamen­te a sua sede”.

Recorde-se que os ATE assinados no âmbito do plano de reestrutur­ação aprovado pela Comissão Europeia, que vigoram até ao final de 2024, impuseram um corte transversa­l de 25% para remuneraçõ­es acima dos 1300 euros, sendo que os pilotos foram alvo de um corte adicional, perdendo 45% do seu vencimento, bem como os trabalhado­res da manutenção, que viram os salários reduzidos 40%.

As estruturas sindicais sentaram-se à mesa com a TAP nas últimas semanas com o objetivo de conseguire­m um alívio nestes cortes, justifican­do a reivindica­ção com a retoma da operação que, de acordo com a empresa, está já a 90% de 2019.

“Os sindicatos continuarã­o a trabalhar em conjunto, não descartand­o qualquer tipo de cenário. Os trabalhado­res da TAP serão sempre o garante da sua sobrevivên­cia, ao contrário daqueles que dela se servem”, ameaçam os sindicatos na mesma comunicaçã­o. rute.simão@dinheirovi­vo.pt

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Operação da TAP já está a 90% da de 2019, segundo a administra­ção da companhia aérea.

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