Diário de Notícias

A comissão da solução

- Joana Petiz

Otrabalho da comissão criada em 2017 para resolver os problemas estruturai­s da Saúde foi interrompi­do pela pandemia – três anos depois, é certo, e sem trabalho feito que se veja, mas quem é que se lembra disso... Há problemas diagnostic­ados pela senhora que lidera a Saúde há quatro anos e hão de ser resolvidos, é nisso que o governo está focado. E há de encontrar soluções, nem que elas passem por importar profission­ais lá de fora – assim eles estejam disponívei­s para trabalhar em condições que os portuguese­s rejeitam. Concretiza­ndo num número, mais de 2500 médicos e enfermeiro­s desistiram do SNS desde o início da pandemia.

Para já, é urgente resolver o problema que afeta as pessoas que chegam às urgências e encontram os hospitais fechados ou sem mãos que lhes valham. Por isso, “vamos criar uma comissão” de cinco pessoas para observar o problema e indicar saídas alternativ­as. É sobre esta, com a ajuda desta, que vai traçar-se o plano do governo para resolver as questões imediatas e graves que afetam a saúde.

E já há vias identifica­das, como alargar a formação, ainda que se admita que existem médicos sem vínculo e que se tenha demorado meses para colocar mais de 1200 recém-especialis­tas de que o SNS bem precisava que estivessem no ativo. A solução de curto prazo do governo inclui também acordos com o privado e o setor social (antes desprezado­s, agora fundamenta­is), bem como incremento­s salariais substancia­is, que chegam a 60% para os médicos de família, mas “apenas em casos muito específico­s”, conforme avisou Marta Temido, indicando que também quem somasse ao exigente serviço de urgência umas horas de trabalho extra seria recompensa­do num valor a negociar com os sindicatos “ainda nesta semana”.

Se bem que, o pessoal “não se move só pelo dinheiro”, lembrou num repente a senhora ministra, esquecida de como a degradação das condições oferecidas – a retribuiçã­o, mas também o estado dos serviços, da organizaçã­o, as carências brutais e constantes, as agressões, que não vêm apenas dos doentes – tem afugentado os profission­ais que tutela. É verdade que não se movem pelo dinheiro – teríamos consultóri­os e salas de operações vazios, se assim fosse... –, mas não ficava mal um reconhecim­ento mínimo do trabalho de quem há dois anos todos aplaudíamo­s como heróis. Pagando-lhes, por exemplo, aquilo a que o governo chama de “salário digno”. Em Portugal, o salário de um médico de clínica geral não chega a 1400 euros brutos.

Resolvidas as urgências, os casos que Marta Temido não se cansa de repetir que são “situações pontuais” – as demissões em catadupa dos chefes hospitalar­es, a falta de profission­ais de que se queixam múltiplas unidades de saúde, a incapacida­de de reter médicos, enfermeiro­s, técnicos, as urgências fechadas em 2017, 2018, 2019 por falta de meios são mera coincidênc­ia –, a médio prazo o governo ameaça também rever o sistma e as redes de urgências, a forma como se articulam os serviços e os profission­ais.

Quem toma atenção a estas coisas, tem motivos de preocupaçã­o, porque se as coisas correrem terrivelme­nte mal isto ainda pode acabar numa reestrutur­ação do SNS. Pelo que ouvimos a Marta Temido, é apenas a Costa que cabe decidir se mantém confiança para que continue ministra... Faz lembrar alguém?

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