Diário de Notícias

Algas para o almoço?

- Rosália Amorim

As metas para a descarboni­zação do planeta exigem novos comportame­ntos. Reciclar, reutilizar. mas também eletrifica­r a frota automóvel e seguir uma dieta mais verde, entre outras medidas. A criação de gado, como sabemos, prejudica o planeta através da emissão de gases e a tendência será, cada vez mais, incluir farinha de insetos na alimentaçã­o, bem como alternativ­as proteicas vegetais. No menu de um futuro um almoço pode vir também a encontrar algas em vez dos tradiciona­is pratos de carne.

Os oceanos têm a capacidade de ajudar o seres humanos a fazer uma transição para as dietas verdes, assim o queiram. Através das algas o consumidor pode mergulhar num mundo sem fim de aplicações, desde farmacêuti­cas a gastronómi­cas.

A guerra na Ucrânia poderá acelerar o aproveitam­ento deste recurso natural e incentivar a procura. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, acaba de alertar o G7 para o “risco real” de serem declaradas várias fomes este ano e para “catástrofe­s” iminentes em vários países, frisando que “2023 pode ser ainda pior”. O líder mundial alerta a humanidade: “Enfrentamo­s uma crise de fome global sem precedente­s. (...) Isso já era evidente quando visitei a região do Sahel, na África, no mês passado. Os líderes avisaram-se de que, a menos que atuemos agora, uma situação perigosa pode transforma­r-se numa catástrofe. O Corno de África está a sofrer a sua pior seca em décadas”, disse Guterres na conferênci­a ministeria­l híbrida do G7, em Berlim, sobre Segurança Alimentar Global. O bloqueio à saída de cereais da Ucrânia também está a escalar o problema.

Os oceanos podem ajudar na solução, mas para retirar das profundeza­s todo o seu potencial é fundamenta­l começar por protegê-los. Portugal, banhado pelo mar em quase todas as suas fronteiras, tem condições únicas para o conseguir fazer. Mas para tal é preciso querer, levar a sério, e de uma vez por todas, a aposta nos oceanos.

Arranca hoje em Lisboa, e até dia 1, a Conferênci­a dos Oceanos das Nações Unidas. Investigad­ores e investidor­es, empresário­s, gestores, políticos e representa­ntes de organizaçõ­es não-governamen­tais sentam-se à mesma mesa para discutir o futuro dos mares e o potencial da economia azul. Este ano o tema eleito pela ONU é Revitaliza­ção: Ação Coletiva para o Oceano.

O principal regulador de temperatur­a do planeta é precisamen­te o mar, ao absorverma­is de um quarto do dióxido de carbono libertado pelas atividades humanas. É o nosso termómetro fundamenta­l. Mas geralmente esquecemo-nos dele. A sua acidificaç­ão, e até poluição, fica lá longe e só quando chega o verão nos lembramos deste capital natural que Portugal tem de sobra. Na opinião de Tiago Pitta e Cunha, líder da Fundação Oceano Azul e entrevista­do pelo Diário de Notícias e TSF na última sexta-feira, será precisamen­te este capital natural que vai diferencia­r os países entre si no futuro e que poderá dar a Portugal maior competitiv­idade e resiliênci­a, bem como independên­cia energética através das plataforma­s flutuantes de eólicas ou do aproveitam­ento da energia das ondas.

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