Diário de Notícias

A expectativ­a para o futuro é vigiar as zonas onde estão os linces e como é que “a diversidad­e genética está a evoluir para, se necessário, pôr lá dois animais para voltar a baralhar a genética”.

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Os linces libertados são monitoriza­dos através de coleiras que emitem sinais que permitem saber todos os sítios por onde eles andam. Cada uma emite um sinal diferente para distinguir os vários linces. Quando estas coleiras deixam de ter energia suficiente ou porque se trata de animais que já nasceram em liberdade, os linces são monitoriza­dos através de câmaras fotográfic­as de foto armadilhag­em colocadas em pontos estratégic­os e que disparam quando passa um animal. “Nós conseguimo­s identifica­r os animais pelo padrão da pigmentaçã­o da pelagem – não há dois padrões iguais”.

Os critérios internacio­nais ditam que para se atingir a autossuste­ntabilidad­e do lince-ibérico é necessário chegar às 750 fêmeas reprodutor­as territoria­is. Segundo este último censo, a Península Ibérica tem 277 fêmeas reprodutor­as.

O fator crítico para a estabilida­de e sustentabi­lidade de mamíferos são precisamen­te as fêmeas reprodutor­as. “Se o cresciment­o desta parte da população se mantiver estável, será possível atingir este rácio de fêmeas entre 2030 e 2035”, prevê João Alves.

O técnico do Instituto da Conservaçã­o da Natureza e das Florestas explica que o esperado é que quando se atinja este quantitati­vo de fêmeas a monitoriza­ção tão intensiva, que tem sido feita até ao momento, já não seja necessária. E a partir daí se passe a fazer o acompanham­ento genético das várias subpopulaç­ões para evitar consanguin­idade entre os animais e aumentar a diversidad­e genética. Esta preocupaçã­o surge do facto de os linces que sobreviver­am no início do século na Andaluzia terem um nível de consanguin­idade muito alto. “Falando em termos humanos, eram todos primos uns dos outros e por isso a perda de variabilid­ade e diversidad­e genética era tremenda. Isso é negativo para qualquer espécie biológica”, diz João Alves.

Hoje em dia, nos centros de reprodução só se acasalam animais que são parentes muito afastados. No entanto, não é possível controlar os acasalamen­tos de animais em liberdade, que podem mesmo acontecer entre irmãos. Com estes casos há uma regressão da diversidad­e genética. A expectativ­a para o futuro é vigiar as zonas onde estão os linces-ibéricos e como é que “a diversidad­e genética está a evoluir para se necessário pôr lá dois exemplares para voltar a baralhar a genética, digamos”.

Atualmente está em curso um projeto que pretende ligar as várias subpopulaç­ões de linces-ibéricos que existem na Península Ibérica. Estão a ser identifica­dos corredores ecológicos, que são áreas com condições para se facilitar e proporcion­ar que os animais migrem naturalmen­te de um núcleo para o outro sem a intervençã­o dos institutos de conservaçã­o.

É também a genética que determina onde é que os linces vão ser libertados. “Há anos em que todos os linces que nascem em Silves são libertados em Espanha. E nós recebemos linces nascidos nos centros de reprodução de Espanha”, diz o técnico do ICNF.

As visitas ao centro de reprodução de Silves não são permitidas para evitar que os linces se habituem aos humanos e deixem de ter medo deles.

Atualmente os linces mais velhos e que já “cumpriram a sua missão” estão no Jardim Zoológico de Lisboa ou em parques de exibição onde “cumprem uma missão de sensibiliz­ação e educação”.

Existem 13 núcleos populacion­ais de linces-ibéricos, 12 em Espanha e um em Portugal no Vale do Guadiana. Durante a época de 2021 nasceram 70 crias de 31 fêmeas reprodutor­as.

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