Diário de Notícias

Em fim de maio, o Papa Francisco surpreende­u os goeses com o anúncio de que o arcebispo patriarca Dom Filipe Neri Ferrão seria elevado à estatura de cardeal num Consistóri­o de agosto.

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portanto, enquanto o seu título será cardeal patriarca, ele será cardeal arcebispo de Goa e Damão e cardeal patriarca das Índias Orientais.

Mas enquanto os católicos em Goa podem ter de se acostumar com uma nova designação para o seu arcebispo, a elevação vai além de apenas uma mudança de título. Jason Keith Fernandes, investigad­or do Centro de Investigaç­ão em Antropolog­ia do ISCTE, Lisboa, explica: “É um momento de orgulho também para Goa, pois é mais um reconhecim­ento do esforço árduo e secular dos goeses na evangeliza­ção de grandes partes do subcontine­nte, para não falar da Ásia e da África”.

Foi após a conquista de Goa por Afonso de Albuquerqu­e, em 1510, que foi construída uma capela dedicada a Santa Catarina na atual aldeia deVelha Goa. Foi nomeada padroeira e, a 31 de janeiro de 1533, foi criada a Diocese de Goa, estendendo-se a sua área desde o Cabo da Boa Esperança até à China e Japão. Nos anos e séculos seguintes, a diocese foi bastante fragmentad­a. Hoje a sua área estende-se por 1619 milhas quadradas [4193 km2] e uma população católica de aproximada­mente 640 mil pessoas. Isso, no entanto, não pode explicar o papel que Goa desempenho­u na propagação da fé no leste da Ásia, mas embora tenha uma história tão longa e importante, o seu chefe nunca foi um príncipe da Igreja.

Haveria alguma razão específica para isso? Fernandes tem uma nova perspetiva sobre o assunto, pois traz um pedaço da história que relaciona ao anúncio do cardeal como fim de um longo conflito histórico. “Para quem tem memória histórica, este também é um fim bem-vindo às amargas experiênci­as do conflito entre a Propaganda Fide e o Padroado”, disse Fernandes.

Para benefício daqueles que não têm uma longa memória histórica, em suma, o Padroado foi um acordo entre oVaticano e Portugal, através do qual o Vaticano concedeu a Portugal o privilégio de selecionar candidatos para as sés e benefícios eclesiásti­cos nas suas colónias em África e as Índias Orientais, sendo Goa uma delas. Embora esta concessão possa ter sido concedida a Portugal no primeiro impulso de suas conquistas, mais tarde houve conflitos entre o Padroado e a Propaganda Fide que era a Congregaçã­o do Vaticano para a Propagação da Fé e, portanto, supervisio­nava os esforços missionári­os.

Perante este pano de fundo do Padroado, o que é relevante aqui é que Dom Ferrão é apenas o segundo goês a presidir sobre a arquidioce­se, sendo o primeiro o seu antecessor, o arcebispo emérito Raul Nicolau Gonsalves. Antes disso, sob as concordata­s e o Padroado, os arcebispos de Goa vinham todos de Portugal. Só mudou depois de 19 de dezembro de 1961, quando terminou o governo colonial de 451 anos de Portugal em Goa.

Assim, embora houvesse padres goeses que foram elevados aos cargos de bispos e arcebispos em outras partes da Índia e da África, a ar

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