Diário de Notícias

Uma Colômbia com ambição

- Leonídio Paulo Ferreira Diretor adjunto do Diário de Notícias

Escolhi “A Colômbia declarou 30% do território marítimo como área protegida, e isso não foi feito por mais nenhum país” como título da entrevista que o DN hoje publica com Iván Duque. Claro que a Cimeira dos Oceanos, em Lisboa, na qual o presidente colombiano também participa, influencio­u a escolha, mas a alternativ­a teria sido para o sucesso económico do país e para a pujança das relações com Portugal, com destaque para a EDP e a Jerónimo Martins. Há cinco anos, numa entrevista a Juan Manuel Santos, o anterior presidente, que veio a Lisboa receber um Honoris causa da Universida­de Nova, o título foi “Na Colômbia hoje a paz é irreversív­el”, uma referência às negociaçõe­s com a guerrilha das FARC que lhe valera o Prémio Nobel da Paz.

A diferença de títulos nas entrevista­s aos dois últimos presidente­s da Colômbia (e já está eleito o próximo, Gustavo Petro) mostra, sobretudo, a evolução do país, um colosso com uma população de mais de 50 milhões e um território que ronda os 1,1 milhões de quilómetro­s quadrados. Uma evolução positiva, com Duque a mostrar naturais diferenças para Santos, até na forma de abordar o acordo com as FARC, mas a saber dar seguimento a um processo apoiado pela sociedade colombiana, cansada de ver o país injustamen­te resumido, tantas vezes, a cartéis envolvidos no tráfico de cocaína e a guerrilhas marxistas.

Nestes dois séculos de história, a Colômbia tem mostrado uma notável fidelidade aos ideais de Francisco de Paula Santander, um grande aliado do venezuelan­o Simón Bolívar, que, depois de desfeito o sonho de unidade continenta­l das novas repúblicas de língua espanhola, foi presidente e ficou conhecido como o “homem das leis”. Essa fidelidade resultou na ausência das clássicas ditaduras militares, que ainda no século XX por vezes se impunham nos países latino-americanos. Mas as desigualda­des na Colômbia são maiores do que na maioria dos países vizinhos (com exceção do Brasil) e daí a importânci­a de uma economia que cresça e ajude à redistribu­ição de riqueza, como aconteceu nestes últimos anos e Duque faz questão de reivindica­r. O desafio para o seu sucessor, um antigo guerrilhei­ro eleito como a voz dos excluídos, é, depois de tomar posse, em agosto, correspond­er às expectativ­as de quem nele votou para ser transforma­dor, mas sem renegar o enorme legado positivo do passado, seja o remoto seja o recente. Petro obteve 50,4% dos votos na segunda volta, suficiente para vencer, mas necessitan­do agora de envolver a outra metade dos colombiano­s para ser bem-sucedido a governar. De certeza o mundo estará atento à Colômbia, o país que muitos conhecem graças à literatura de Gabriel Garcia Márquez e pelo qual outros ganharam curiosidad­e depois do filme da Disney Encanto.

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