SOS, otimismo moderado
Várias organizações deixam alertas para a emergência climática e a urgência de se alterar hábitos. Portugal quer ser referência e incentivar maior cooperação.
Houvesse uma banda sonora para esta 2.ª Conferência dos Oceanos e talvez ela fosse a canção Alô, Alô Marciano, de Elis Regina, tão veementes são os SOS lançados ao mundo pelas várias entidades, oficiais ou não, que nela participam. Por isso há que perguntar a que resultados se espera chegar após uma semana de trabalho intenso, entre sessões oficiais, encontros bilaterais e muitas dezenas de eventos paralelos? Segundo disse ao DN o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, “ao organizar esta conferência, Portugal tem a expectativa de que sejam possíveis avanços muito concretos. Sabemos que há um nexo de causalidade entre as alterações climáticas e a proteção dos oceanos, porque, se não tivermos um oceano saudável e não formos capazes de proteger a vida marinha, isso afetará toda a nossa vida. A subida do nível médio dos mares, a erosão costeira, a seca prolongada estão aí, não há como não os sentir.” E, neste cenário, o que pode fazer Portugal? “Enquanto país, fazemos a nossa parte, estabelecendo alianças com os países interessados na cooperação e dando o exemplo com a adoção de boas práticas. Devemos olhar para o futuro com a ambição de nos tornarmos uma referência nesta matéria, incentivando uma maior cooperação no que é a gestão do oceano e a proteção da vida na Terra. Os próximos anos serão determinantes.” Duarte Cordeiro espera também que esta conferência em Lisboa marque a aprovação pelas Nações Unidas do projeto de extensão da plataforma continental, que começou a ser apreciado em agosto de 2017. Recorde-se que esta proposta do governo visa aumentar para 4.100.000 km2 a área abrangida pelos espaços marítimos sob soberania ou jurisdição nacional, alargando assim direitos de soberania para além da Zona Económica Exclusiva: “O mar é estratégico para o nosso país e julgamos fundamental que vejamos o mar como o nosso horizonte de futuro. Quanto maior for a extensão marítima de um país, maior riqueza terá. Este dossiê está a ser preparado há muitos anos, em cooperação entre o governo nacional e os regionais da Madeira e dos Açores. Gostaríamos que chegasse agora a bom porto.”
Ana Matias, da Sciaena (organização que, em conjunto com a Fundação Oceano Azul e a Seas at Risk, promove o espaço aberto à sociedade civil do evento, o Ocean Base Camp), encara esta semana com otimismo moderado: “Temos um pouco a sensação de estarmos a correr atrás de um comboio que está já em marcha e em grande velocidade. Mas não podemos ficar parados. A emergência climática é bem real e temos de nos empenhar a sério, tanto os cidadãos como os poderes políticos e económicos.” O entusiasmo que notou logo às primeiras horas da conferência, sobretudo no espaço aberto à sociedade civil, junto à Marina do Parque das Nações, é, para já, um indicador positivo, que Ana realça: “As pessoas estão muito empolgadas e ansiosas por trabalhar em conjunto. Por isso não temos eventos online. É tudo presencial.”
Ana Maria Lima e Paulo Alves, estudantes de Biologia Marinha na Universidade do Algarve, vieram a Lisboa sobretudo para participar na Marcha Azul pelo Clima (marcada para amanhã, às 18h00), mas mostram estar atentos a tudo o que se passa: “Queremos assistir a tudo o que pudermos. Acreditamos que a pressão da sociedade civil pode, de facto, influenciar decisões políticas favoráveis.”