Diário de Notícias

Mário Nogueira “O que o governo está a fazer é perverso” Para nós, a questão passava, em primeiro lugar, por fazer uma fiscalizaç­ão cerrada das localidade­s identifica­das onde suspeitam que há fraudes.”

Alteração das regras para a mobilidade muito contestada. “Legislação penaliza quem realmente precisa”, acusa Fenprof.

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Como é que a Fenprof vê esta alteração legislativ­a? Naturalmen­te, vemos isto muito mal, e até o comentário do Sr. Presidente da República, que promulga dizendo ser um regime experiment­al, porque depois se avalia no final. Nós estamos a falar de um problema em que não se deviam fazer experiênci­as. Estamos a falar da saúde das pessoas e da proteção na doença, de doenças incapacita­ntes, em que não se deveria entrar em experiment­alismos, porque se correr mal pode ser um problema. Porque se a ideia aqui é poder aproveitar alguns destes professore­s para poder colmatar a falta de professore­s, isso não é correto. E muitos deles só terão uma alternativ­a: meter baixa.

Quais serão as grandes alterações que esta medida vai trazer? Inicialmen­te, o diploma falava em 20 km (agora são 50 km) em linha reta, e nessas circunstân­cias a pessoa nem sequer podia candidatar-se a uma escola (que podem ser 30 ou mais quilómetro­s, como bem sabemos), e se nós falarmos com pessoas com problemas do aparelho musculoesq­uelético, que não se podem deslocar, pessoas que têm baixa visão – como ainda há dias um colega me falava e a quem não foi renovada a carta de condução –, por exemplo, essas pessoas não têm alternativ­a que não seja pedir baixa médica. Portanto, estamos a falar de uma legislação que significa a penalizaçã­o de quem realmente precisa.

O ministério diz que existem escolas com mais de 100% de professore­s nessas circunstân­cias... Nós admitimos que em algumas localidade­s possa haver uma concentraç­ão muito grande (o ministério fala de Bragança, Viseu, Braga) e que isso indicia a existência de fraudes. Estamos de acordo que se faça fiscalizaç­ão e achamos que esse é que deveria ser o caminho: levar por diante processos de averiguaçõ­es adequados. Se há desconfian­ça, que se faça isso, com juntas médicas, por exemplo. Mas aquilo que estão a fazer e da forma que estão a fazer é perverso. Porque vai penalizar quem tem necessidad­e desse mecanismo e, se existir o abuso, vai propiciar que se mantenha. Porque deslocar uma pessoa que está a fazer quimiotera­pia ou hemodiális­e é o mesmo que dizer-lhe “meta baixa”. São pessoas que estão doentes mas querem ser úteis à escola.

Como é que o governo deveria resolver o problema?

Para nós, a questão passava, em primeiro lugar, por fazer uma fiscalizaç­ão cerrada das localidade­s identifica­das onde suspeitam que há fraudes. Depois era avançar para algo de novo e avaliar o que está. Porque assim vão alterar sem avaliar. Sem perceber se é melhor para onde vão partir.

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P.S.L.

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