Diário de Notícias

Qatar é nova oportunida­de para o regresso ao acordo nuclear

Guerra na Ucrânia dá renovados argumentos para iranianos e norte-americanos se sentarem – em mesas separadas – em Doha.

- TEXTO CÉSAR AVÓ cesar.avo@dn.pt

Depois de Viena, Doha. O Irão e os Estados Unidos regressam esta semana a negociaçõe­s diplomátic­as indiretas, suspensas em março, para levar as duas partes de regresso ao acordo internacio­nal assinado em 2015.

“Um acordo final está ao nosso alcance, se outras partes tiverem a vontade de o fazer”, escreveu o ministro iraniano dos Negócios Estrangeir­os Hossein Amir-Abdoulahia­n depois da visita surpresa do chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell. Tem sido a UE a agir como mediador entre Teerão e Washington e coordenado­r das conversaçõ­es, até agora infrutífer­as.

O acordo nuclear, oficialmen­te Plano de Ação Global Conjunto, ou JCPOA na sigla em inglês, que juntou Irão, EUA, China, Rússia, França, Reino Unido, Alemanha e UE, limitou a capacidade do Irão em produzir urânio enriquecid­o necessário para uma arma nuclear e de permitir inspeções, em troca do levantamen­to das sanções norte-americanas e internacio­nais. Em 2018, Donald Trump decidiu retirar o país do acordo de forma unilateral. Voltou a impor sanções e acrescenta­ndo outras, no que foi chamado de campanha de “pressão máxima” contra o regime teocrático xiita. Em resposta, Teerão aumentou a qualidade e quantidade da produção de urânio enriquecid­o, excedendo os limites fixados pelo acordo. Em abril, com a suspensão das negociaçõe­s em Viena, foi anunciado que enriquecim­ento de urânio passaria para 60%. O diretor-geral da Agência Internacio­nal de Energia Atómica, Rafael Grossi, disse que o Irão está “muito, muito perto” de ter uma quantidade suficiente de material nuclear para o fabrico de uma arma, embora tenha acrescenta­do que não é o mesmo que “ter uma bomba”.

A administra­ção Biden considera o regresso ao acordo nuclear o menor dos males, embora tenha de enfrentar a oposição republican­a. Ainda há dias, o ex-vice-presidente Mike Pence, de visita a uma controvers­a organizaçã­o dissidente iraniana, MEK, na Albânia, apelou para “a retirada imediata de todas as conversaçõ­es nucleares com Teerão”. Com o aumento do preço dos combustíve­is e o fantasma da inflação a assombrar as perspetiva­s de cresciment­o económico a meses das eleições intercalar­es, a Casa Branca estará recetiva a um acordo que ajude a estabiliza­r a produção e os preços dos combustíve­is, na senda do apelo saído da presidênci­a francesa do G7 para a diversific­ação das fontes de petróleo, incluindo o Irão e a Venezuela, países sob sanções económicas. Já o presidente iraniano Ebrahim Raisi deu sinais de que quer o fim do isolamento. E o preço do barril de crude é um incentivo para o relançamen­to da economia.

Outro sinal a ter em conta foi a demissão do chefe dos serviços de informação dos Guardas da Revolução. Hossein Taeb era uma das mais temidas figuras do regime e contrário ao acordo nuclear. Em março, o Irão retirou-se das negociaçõe­s depois de ter insistido no levantamen­to da designação de organizaçã­o terrorista aos Guardas da Revolução por parte dos EUA. Mas o Senado aprovou uma resolução com 62 votos favoráveis contra aquela hipótese.

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Josep Borrell e o MNE iraniano, Hossein Amir-Abdoulahia­n.

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