Diário de Notícias

Castro da Madalena vai ter escavações para expor cabanas pré-romanas

VILA NOVA DE GAIA A intervençã­o arqueológi­ca inicia-se segunda-feira e servirá para conhecer melhor um povoado que esteve naquele local entre os séculos IV e I a.C.

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OCentro de Arqueologi­a de Arouca inicia na segunda-feira escavações no Castro da Madalena, em Vila Nova de Gaia, para pôr a descoberto a totalidade das cabanas que aí existem desde tempos anteriores à ocupação romana do território. Os trabalhos nesse sítio do Distrito do Porto irão decorrer até 29 de julho sob a coordenaçã­o do investigad­or António Manuel Silva, contando ainda com a arqueóloga Edite Sá e com outros profission­ais do setor, além de voluntário­s dessa e outras áreas de estudo.

O objetivo da intervençã­o, diz à Lusa o coordenado­r das escavações, é “colocar a descoberto a totalidade das cabanas e estruturas habitacion­ais identifica­das nas campanhas anteriores e abrir novas áreas de escavação na vertente norte do monte, de modo a aferir a existência de vestígios preservado­s do povoado noutros pontos da colina”.

Incidindo sobre uma área de 50 metros quadrados, esse diagnóstic­o mais alargado permitirá “uma maior perceção da organizaçã­o interna do povoado” atribuído ao período entre os séculos IV e I a.C., dando a conhecer o que António Manuel Silva descreve como “eventuais estruturas defensivas e de delimitaçã­o” do sítio e a sua organizaçã­o espacial genérica.

Edite Sá nota que o Castro da Madalena, localizado a cerca de dois quilómetro­s da orla costeira, terá sido abandonado antes da dominação romana da região, mas realça que o local ainda só foi sujeito a duas campanhas de escavação, uma em 2020 e outra em 2021, pelo que as respetivas cronologia­s de ocupação podem vir a ser “revistas ou consolidad­as”, de acordo com os indícios eventualme­nte revelados por novos achados.

As intervençõ­es realizadas até agora já permitiram, contudo, validar alguns factos, como o de que as duas habitações identifica­das no monte são de “planta circular e exibem paredes e pisos de circulação construído­s maioritari­amente em argila endurecida – com recurso ao uso do fogo no caso dos pavimentos interiores”. António Manuel Silva declara que “numa das cabanas se verificou a associação da argila a um pequeno murete em pedra, possivelme­nte relacionad­o com a base da entrada da habitação”, e que na área central da mesma ruína há vestígios de “uma pequena lareira em argila, com vestígios de fuligem e restos lenhosos carbonigan­ização zados, o que atesta o seu uso como estrutura de combustão”.

Quanto ao que seriam as áreas exteriores do povoado, “foi também possível reconhecer a existência de um pavimento composto por argila e saibro, certamente destinado à circulação em redor dos espaços domésticos”, o que constituiu um “elemento de particular interesse para a compreensã­o da or‘urbana’” dos aglomerado­s castrejos.

Entre o espólio recolhido no decurso das escavações, por sua vez, incluem-se inúmeros fragmentos de cerâmica manual afetos a recipiente­s usados em atividades quotidiana­s e essencialm­ente destinados à confeção e consumo de alimentos e bebidas, e ao acondicion­amento e transporte de materiais. “Foram também exumados cossoiros de fiação, uma mó giratória em granito, pesos de tear e restos de escória em ferro, vestígios que atestam vários ofícios de subsistênc­ia praticados pelas comunidade­s que habitaram no local, como a fiação e tecelagem, moagem e metalurgia”, acrescenta Edite Sá, listando ainda “objetos de adorno como contas de colar em pasta de vidro e um arco de fíbula”.

Orçamento de 12 a 14 mil euros

Estas escavações são financiada­s pela Câmara Municipal de Gaia e pela Junta de Freguesia da Madalena, envolvendo um orçamento de “12 000 a 14 000 euros”, que, além dos trabalhos físicos no local, suportará também análises laboratori­ais de sedimentos ou artefactos, exames de datação e operações de tratamento, conservaçã­o e restauro de espólio, entre outras ações.

Os trabalhos inserem-se no projeto de investigaç­ão ARQ-EDOV – Arqueologi­a da Idade do Ferro no Entre Douro eVouga Atlântico, com que o Centro de Arqueologi­a de Arouca, na linha de anteriores programas de pesquisa voltados para a ocupação proto-histórica da região, se ocupa na orla costeira desse território do distrito de Aveiro, particular­mente no Castro de Salreu, no Concelho de Estarreja e no de Ovil, no município de Espinho.

As escavações que têm início na próxima segunda-feira podem ser acompanhad­as pelo público, mas as estruturas escavadas não estarão visíveis por se encontrare­m protegidas, dada a “natureza frágil dos vestígios” e a fase inicial dos trabalhos. Esta não deixa, contudo, de ser a melhor altura para conhecer o sítio, uma vez que, até 29 de julho, os arqueólogo­s no terreno poderão conduzir os visitantes e mostrar-lhes alguns dos vestígios arqueológi­cos preservado­s no local desde a Idade do Ferro.

O Castro da Madalena, localizado a cerca de dois quilómetro­s da orla costeira, terá sido abandonado antes da dominação romana da região.

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As escavações no Castro da Madalena começam na segunda-feira e prolongam-se até 29 de julho.

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