Est. Amadora luta para não ser despejada e denuncia negócios “mistério”
Estádio José Gomes vai a leilão e SAD tem de deixar recinto em 24 horas se tribunal não se manifestar. Paulo Lopo quer comprar e questiona a câmara e o administrador de insolvência.
No dia 1 de julho, cerca de 350 miúdos da formação do Estrela da Amadora podem ficar sem local para treinar.
O “Estrela da Amadora está em risco de uma segunda insolvência, pelo menos moral”. Quem o diz é Paulo Lopo, o novo presidente do conselho de administração da SAD tricolor (e principal investidor) que luta para manter o clube na Reboleira e a jogar no Estádio José Gomes. Algo difícil tendo em conta que o recinto vai a leilão amanhã (e pela terceira vez em três anos), dia em que acaba o contrato de arrendamento anual. Ou seja, o Estrela está a 24 horas de ser despejado e ter de se mudar para a Malveira (para treinar) ou Leiria (para jogar).
Se no dia 1 de julho não entregar a chave do José Gomes ao administrador da insolvência, a SAD terá de pagar uma multa de mil euros por cada dia de ocupação indevida. “Pior que isso é ter de dizer aos 350 miúdos da formação que não vão ter onde treinar. E quem vai tratar da manutenção do relvado novo que custou 250 mil euros. Lamento que essa nunca tenha sido um preocupação do administrador judicial ou dos credores, incluindo a Câmara Municipal da Amadora, mas é uma preocupação dos verdadeiros estrelistas e de quem tenta reerguer este clube a qualquer custo”, disse ao DN Paulo Lopo, que esperava até ontem por uma decisão da juíza do no Tribunal de Sintra. Como hoje é feriado em Sintra, a decisão pode não chegar em tempo útil, visto que o leilão é amanhã (11.00), nas estações do Bingo.
Segundo a leiloeira OneFix, a venda pode ser feita “à peça”, numa segunda fase, se for “frustrada a venda na globalidade” no valor de 5,1 milhões de euros. O Estádio José Gomes vai a leilão por 2,1 milhões de euros, enquanto o terreno onde ficam os campos de treino e o edifício do bingo custam 3 milhões.
A forma como as parcelas foram separadas “é mais um problema”, segundo a SAD tricolor, que tem direito de preferência sobre o recinto, mas o mesmo pode não acontecer na parcela que contempla os campos de treino e o sintético de 100 mil euros. Essa é uma das “incongruências” apontadas ao parcelamento, mas ao DN, Jorge Calvete defendeu que é a voz dos credores e só a eles e ao tribunal que tem de prestar contas. O que, segundo o administrador da insolvência tem feito, reconhecendo que a atividade do antecessor está sob investigação.
Mesmo que a oferta da SAD seja aceite, o clube não pode voltar às instalações antes de 90 dias – prazo definido pela leiloeira para dar o processo de venda finalizado. Ou seja três meses. O que “destruirá” o orçamento do clube e colocará muita coisa em causa, incluindo a construção do plantel de Sérgio Vieira e os objetivos desportivos de subir à I Liga. Para já adiou o início da pré-época que devia ser na sexta-feira. “A sensação que temos é que para a Câmara Municipal da Amadora, o Estrela da Amadora não existe”, lamentou Paulo Lopo, que tem o apoio do presidente do clube, José Manuel Francisco nesta luta.
Mistérios com PJ à mistura?
Situado em zona de habitação e comércio da Reboleira (Amadora), o complexo desportivo do Estádio José Gomes está protegido de interesses imobiliários por um Plano Diretor Municipal (PDM) que impede a construção. Serve apenas para exploração desportiva – a CMA garantiu ao DN, “que não está prevista qualquer alteração ao PDM” e informou que “o SIMAS estará presente no leilão, na qualidade de credor”.
Depois de refundado e fundido com o Sintra Football, passou a chamar-se Club Football Estrela da Amadora SAD, tendo a equipa terminado a II Liga 2021-22 em 14.º lugar. Uma época aquém do esperado, que levou a mexidas profundas na equipa e na estrutura da SAD, mas a turbulência promete continuar. Depois de resolver a questão do estádio, Paulo Lopo promete apresentar uma queixa na Polícia Judiciária para ser averiguado o que se passou no clube, já que “contabilisticamente o Est. Amadora é declarado insolvente com uma dívida muito inferior a que está declarada agora”. Segundo ele “basta consultar a segurança social dos trabalhadores que reclamam valores para perceber que não coincidem. Há credores que reclamam valores indevidos e é preciso dizê-lo e alguém ser responsabilizado por isso”, questionou o líder da SAD tricolor.
Algo que o antigo presidente, à data da insolvência, corrobora. António Oliveira não aceita que o responsabilizem por ter “dado cabo do clube” quando ele fez e tudo para “evitar” a insolvência. E não entende como “a CMA permitiu, enquanto credora, que o caso se arrastasse”, nem porque o administrador judicial “nunca quis as provas que diz ter da reclamação abusiva de valores por parte de alguns credores”. Segundo o atual administrador da insolvência já herdou a lista de credores “como está e validada pelo tribunal”, sem que ninguém a impugnasse nos prazos legais.
Entre os “mistérios” por resolver, segundo Paulo Lopo, está a venda de um apartamento do clube, a metros do estádio, que acomodava atletas estrangeiros, por 120 mil euros, já depois de a insolvência ser decretada. Bem como a abertura de uma conta no antigo BES para serem depositados direitos de formação de pelo menos dois jogadores, quem recebeu esse dinheiro e, depois, fechou a conta. Ou porque razão não foram cobrados 160 mil euros do aluguer dos outdoors na última década.