O cérebro informático tem, ou não, lado direito?
Abolition of Man éa primeira banda desenhada criada com recurso à inteligência artificial e parece ser o prenúncio de que as profissões ligadas às artes visuais estão a caminhar para o abismo. Por exemplo, a ilustração que vêm ali em baixo na página, daqui por uns tempos será criada por um ser mecânico, 100% digital e inteiramente racional. Ou seja, uma máquina inteligente que tem o lado esquerdo do seu cérebro de tal forma expandido e desenvolvido que abdicou da sua parte direita, a parte da criatividade, da emoção e da subjetividade. É caso para dizer que a intuição e a imaginação foram, ou estão a caminhar, para o seu fim.
O ilustrador Grubaugh, para esta BD criada por IA, forneceu à máquina as linhas da inovadora palestra de C.S. Lewis, A Abolição do Homem, e utilizou as imagens geradas através da interpretação que a máquina fez do texto. O resultado é perturbador. As imagens que compõem a novela gráfica são escuras, macabras e distópicas, tal qual como Lewis descreveu o futuro no seu livro publicado em 1943.
É certo que a máquina, aprendendo, acabará por gerar ilustrações de boa qualidade, mas as áreas mais satíricas e as que bebem de um enredo mais sequencial ou até descritivo, não acredito que tão depressa o consigam.
E reparem que não falo de arte! A arte não tem o mesmo propósito da ilustração ou da banda desenhada. A arte, no limite, pode ser virada para dentro, pode ser o nível seguinte do ser-subjetivo. A ilustração não. A banda desenhada muito menos.
Se olharmos para o que aí vem, ou para o que já chegou e nem nos apercebemos, e podendo até estar a ser redutor, um médico ou um advogado digital não são iguais a um artista. Não agem da mesma forma.
O médico digital, chamemos-lhe assim, decide com base em diagnósticos anteriores, da mesma forma que o advogado virtual irá dar um parecer mediante a quantidade de casos que a máquina irá analisar. Esta máquina, é em suma um cérebro informático que se desenvolve e aprende à medida que vai recolhendo mais informação (machine learning).
Não consigo conceber uma banda desenhada totalmente criada por um cérebro informático. Desculpem-me, mas não consigo. Os mais modernos dizem que estou velho, os mais antigos dirão que tenho razão. Mas isso são pouco importa.
O que importa é que todos queremos que a razão, nestes cérebros mecânicos, esteja presente com pragmatismo e assertividade. Com justiça e precisão.
Mas que esteja lá também, quem sabe um dia, a emoção, o amor e o riso, a arte e a poesia, e tudo aquilo que só o lado direito do cérebro pode processar.