Diário de Notícias

Aeroportos 3 – PSD 0

- Rosália Amorim Diretora do Diário de Notícias

Mais de 50 anos depois e após várias localizaçõ­es estudadas para o novo aeroporto de Lisboa, eis que surge uma rápida e determinad­a opção política: jogar com três aeroportos para a Grande Lisboa nas próximas duas décadas. O já existente, Humberto Delgado, na Portela, será melhorado para evitar manter o caos durante muito mais tempo e depois descontinu­ado; o segundo, o do Montijo, é para avançar já, mas com caráter provisório; o terceiro, em Alcochete, é (de novo) a aposta certeira para responder ao médio e longo prazo, no entender do Executivo de António Costa, e estará pronto em 2035.

“Construir um aeroporto na margem sul? Jamais, jamais”, foi a famosa frase de Mário Lino, em 2017, à época o ministro das Obras Públicas. Caiu por terra a expressão e, em vez de um, são agora dois os projetos para a outra margem do Tejo, sendo que o único que deverá ser perpetuado será o de Alcochete, no entendimen­to do governo.

Tínhamos (quase) nada e, em breve, poderemos ter tudo. Assim haja dinheiro, vontade política e comprometi­mento para as próximas legislatur­as. Ora, o problema poderá estar precisamen­te aí. O primeiro-ministro tinha anunciado no dia 3 deste mês que estava só a aguardar que o PSD tivesse um novo líder para falar com ele e avançar para o novo aeroporto. E agora, afinal, é para avançar já, na véspera de Luís Montenegro tomar as rédeas do Partido Social Democrata, o que acontece no próximo domingo. Por três dias esse consenso não foi procurado, nem alcançado. Há um significad­o político importante nesta antecipaçã­o.

Será este um dos primeiros sinais do que aí vem em tempos de maioria absoluta? Provavelme­nte. Afinal, o governo sente-se plenamente soberano para avançar sem ter de aguardar por ninguém. O Executivo considera que não pode esperar mais e que, se não fosse o volte-face do PSD, o Montijo já estaria em obras. As declaraçõe­s social-democratas, proferidas por Luís Montenegro, que apontaram o dedo à alegada incapacida­de do governo em decidir e à “incompetên­cia do primeiro-ministro” foram a gota de água que levou os socialista­s a avançarem sozinhos.

Haverá alguma nuance positiva no meio de toda esta guerra política? Sim, o facto de, finalmente, haver uma decisão e uma política clara. Por muita contestaçã­o que possa existir, incluindo dos autarcas que perdem o seu poder bloqueador, o país precisa de avançar, de fazer caminho para dar resposta à procura futura por parte do turismo e de ganhar mais competitiv­idade.

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