Diário de Notícias

Camões, embaixador entre os magiares

- Leonídio Paulo Ferreira Diretor adjunto do Diário de Notícias

C “onsidero ser minha própria tarefa como tradutor literário do Camões mostrar ao maior número de pessoas possível em húngaro o quão fascinante e interessan­te é a lírica de Camões”, diz Árpád Mohácsi, numa entrevista ao DN, a pretexto de uma tradução sua de sonetos do grande poeta português. Esclarece o tradutor húngaro que Luís Vaz de Camões está longe de ser um nome desconheci­do dos húngaros cultos, mas em regra são Os Lusíadas que lhe garantem o prestígio, até por a epopeia, publicada em 1572, tratar a História de Portugal e dessa ligação ao oceano que tanto maravilha os magiares, uma nação sem mar, mas ainda mais antiga do que a nossa, pois a fundação data no mínimo da conversão do rei Estêvão I (depois santo) ao cristianis­mo no ano 1000.

Foi Joaquim Pimpão, delegado do AICEP em Budapeste, quem me alertou para este livro (prefaciado por si), que vai ser lançado quinta-feira na capital húngara, na presença do nosso embaixador, Jorge Roza de Oliveira. Já noutra ocasião, Pimpão me alertara para a publicação da “mais completa edição de sempre de Fernando Pessoa” em húngaro, pondo-me em contacto com o coordenado­r do livro, Ferenc Pál, que entreviste­i também. É, pois, cada vez mais justificad­o o título de “O nosso homem em Budapeste” que dei a um perfil publicado em 2020 e que conta a história deste português que chegou à Hungria em 1979 com uma bolsa para estudar Economia e acabou por se casar lá, ter três filhas e um filho, de que se orgulha por serem bilingues, e, assistindo a todas as transforma­ções políticas do país nas últimas décadas, mantém-se ao serviço da diplomacia económica, além de ser também ele um poeta.

Como o próprio Mohácsi conta na entrevista, há uma tradição de intelectua­is húngaros interessad­os na língua portuguesa, e nos nomes que cita está Pál. O próprio Instituto Camões, que apoiou esta tradução dos sonetos de Camões, tem uma longa presença em Budapeste. Mas o mais interessan­te é que data de 1865 a primeira edição de Os Lusíadas em húngaro, uma de várias feitas no século XIX (antes disso, só havia a espanhola, logo de 1580, e mais meia-dúzia, incluindo a em latim). E desde sempre fascinou os húngaros, que, numa das estrofes do Canto III, Camões atribua origens húngaras à Dinastia Afonsina. Coincidênc­ia ou não, vários são os diplomatas húngaros que vão sendo colocados em Lisboa e que estudaram português, como acontece atualmente com o embaixador Miklós Halmai.

Que Mohácsi identifiqu­e Camões como “um dos melhores escritores de sonetos da Literatura Mundial”, a par do italiano Francesco Petrarca, do inglês William Shakespear­e ou do francês Pierre de Ronsard, mostra como o poeta funciona, até hoje, como um embaixador da língua e cultura portuguesa­s junto dos magiares.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal