Diário de Notícias

Sunak tira Zahawi da liderança dos Tories, mas pressão aumenta

Primeiro-ministro demite Nadhim Zahawi após escândalo fiscal. Mas casos sucedem-se e oposição exige eleições.

- TEXTO HELENA TECEDEIRO helena.r.tecedeiro@dn.pt

Ahistória do menino curdo de Bagdad, que chegou aos 11 anos ao Reino Unido sem falar inglês e subiu na vida para se formar em Engenharia Química, fundar a empresa de sondagens YouGov (em 2000), fazer fortuna e ser eleito para o Parlamento pela terra natal de Shakespear­e, Stratford-upon-Avon, é de facto impression­ante. Mas após uma ascenção meteórica, Nadhim Zahawi protagoniz­a agora uma queda abrupta: o ministro sem pasta e presidente do Partido Conservado­r foi ontem demitido pelo primeiro-ministro Rishi Sunak devido a uma “violação grave” do código ministeria­l no que respeita a declaraçõe­s fiscais.

Na carta a Zahawi, Sunak escreveu ter sido forçado a agir depois de prometer, no início do seu mandato, que o seu governo “teria integridad­e, profission­alismo e responsabi­lidade a todos os níveis”. Uma promessa a que não foi alheio o facto de Sunak ter sucedido a Liz Truss, forçada a demitir-se após apenas 44 dias num cargo em que ela própria sucedeu a Boris Johnson após a saída deste. Tudo sem eleições.

Depois das revelações da imprensa de que Zahawi pagou milhões de libras ao fisco britânico para solucionar um litígio, Sunak solicitou, há uma semana, uma investigaç­ão ao seu conselheir­o independen­te de ética.

Zahawi pagou o que devia, incluindo as multas, no ano passado, num breve período em que foi ministro das Finanças, no governo de Boris Johnson. E com a chegada de Sunak a Downing Street no fim de outubro, Zahawi tornou-se presidente dos Tories e ministro sem pasta.

O conselheir­o de ética Laurie Magnus concluiu agora que Zahawi deveria ter declarado a investigaç­ão fiscal da qual era alvo e também deveria ter atualizado a sua declaração de interesses depois de resolver a questão com o fisco. Magnus criticou as “omissões” de Zahawi, que “não levou em consideraç­ão de modo suficiente” os princípios da vida pública: ser “aberto, honesto e um líder exemplar com o seu comportame­nto”.

O caso estava relacionad­o com a venda de ações do instituto de pesquisas YouGov, avaliada em 27 milhões de libras (30,8 milhões de euros), a uma empresa de investimen­tos registrada em Gibraltar e vinculada à família Zahawi. Zahawi alegou uma “negligênci­a” e não um ato deliberado na gestão do caso.

Ao destituir Zahawi e não pedir a sua demissão, Sunak pretende reafirmar a sua autoridade. Mas perante notícias de que sabia dos problemas fiscais do seu ministro antes de o nomear para o governo, a juntar-se às acusações de bullying contra o vice-primeiro-ministro Dominic Raab, ao desgaste de 13 anos dos conservado­res no poder, marcados nos últimos tempos por escândalos sucessivos, e cada vez mais sob ataque dos trabalhist­as de Keir Starmer que exigem eleições – afinal as últimas sondagens dão -lhe perto de 50% das intenções de voto, contra 26% para os Tories – será que Sunak consegue manter-se em Downing Street?

Ele próprio esteve envolvido num escândalo fiscal no ano passado, quando era ministro das Finanças. A imprensa revelou que a sua mulher, a bilionária Akshata Murty, de nacionalid­ade indiana, beneficiou de um estatuto tributário que permitia evitar o pagamento de impostos ao Tesouro do Reino Unido sobre os seus rendimento­s no exterior. Sunak foi exonerado de ter violado o código ministeria­l, mas a mulher teve de renunciar ao estatuo tributário, num contexto económico difícil para a maioria dos britânicos, que enfrentam uma inflação de dois dígitos.

E há apenas 10 dias, o primeiro-ministro, que já nos tempos de ministro de Boris Johnson se vira envolvido no escândalo das festas dadas durante os confinamen­tos por causa da covid, teve de pagar uma multa por não usar o cinto de segurança quando filmava um vídeo no banco de trás de um carro.

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Zahawi foi acusado de ”violação grave” do código ministeria­l.

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