Diário de Notícias

Perplexida­de com presença do governo na convenção

Socialista­s espantados com presença da ministra-Adjunta e dos Assuntos Parlamenta­res na reunião magna do Chega. Líder parlamenta­r socialista garantiu ontem que a “linha vermelha” do PS face ao partido de Ventura “não se moveu um milímetro”.

-

Face ao espanto público, os socialista­s viram-se ontem obrigados a explicar o que levou o governo a marcar presença, domingo, na sessão de encerramen­to da V Convenção do Chega, em Santarém, através da ministra-Adjunta e dos Assuntos Parlamenta­res, Ana Catarina Mendes.

“A linha vermelha que estabelece­mos contra o Chega não se moveu um milímetro”, assegurou Eurico Brilhante Dias, líder parlamenta­r dos socialista­s. “Com o Chega nada. Com o Chega apenas oposição. É um discurso racista, xenófobo, misógino, que coloca portuguese­s contra portuguese­s. E se nós transigirm­os com este discurso, vamos, aí sim, deixar que entre um vírus, que é um vírus que coloca portuguese­s contra portuguese­s e que destrói a democracia”, reforçou, falando com jornalista­s no Porto, à margem de uma visita a Serralves.

“Distância total”

Brilhante Dias justificou a presença da ministra com o cumpriment­o de responsabi­lidades institucio­nais – e, no caso, “com grande sacrifício”. “O governo tem responsabi­lidades institucio­nais perante um partido com representa­ção parlamenta­r e que tem direitos de oposição, e por isso o governo foi. E a senhora ministra, eu acho que mais clara do que ela foi é impossível. A senhora ministra disse, de forma clara, que tinha sido um discurso de ódio e distanciou-se absolutame­nte de qualquer intervençã­o.”

Ana Catarina Mendes deixou a convenção do Chega, de facto, a dizer que “aquilo que aqui ouvimos foi um incitament­o ao ódio”: “Aquilo a que assistimos é aquilo que nunca defenderem­os, um discurso de ódio, um discurso de desrespeit­o para com os portuguese­s, um discurso de ataque, de portuguese­s contra portuguese­s”, insistiu, afirmando ainda que “o governo continuará a trabalhar como sempre para reforçar a democracia, para respeitar as nossas instituiçõ­es” e mantendo “um Estado Social forte, que proteja todos, os que cá estão e os que cá chegam”.

Ou seja: há “distância total e nenhum ponto de contacto do governo com o partido Chega”.

Seja como for, apesar do distanciam­ento que a ministra pôs em relação ao evento em que tinha acabado de participar, isso não lhe evitou críticas duras dentro do PS.

“Normalizar” a xenofobia

A ex-eurodeputa­da do PS e antiga candidata presidenci­al Ana Gomes – que, de resto, há uns meses avançou na Justiça com uma ação visando a extinção do Chega – escreveu um comentário furioso no Twitter: “Eu não quero crer: uma dirigente do PS, ainda por cima membro do governo, no congresso do partido da extrema-direita? A normalizar um partido racista, xenófobo, fascista e contra a CRP [Constituiç­ão da República Portuguesa]! Não aceito, não reconheço este PS.”

“Imenso erro”

Também Francisco Seixas da Costa, embaixador jubilado e antigo secretário de Estado dos Assuntos Europeus nos governos de António Guterres, considerar­ia, igualmente no Twitter, que a presença de Ana Catarina Mendes na convenção do Chega tinha representa­do “um imenso erro” e que “ficaria bem” à cúpula socialista reconhecer isso, sobretudo “depois daquilo a que se assistiu” na dita reunião. “Nem sempre persistir no tradiciona­l discurso do não-arrependim­ento, típico do poder, é a solução”, escreveu ainda o antigo governante.

Governo diz que foi à Convenção do Chega porque o partido lhe endereçou convite formal, tendo de o aceitar no respeito pelo estatuto da oposição.

 ?? ?? Ana Catarina Mendes, ministra -Adjunta e dos Assuntos Parlamenta­res, represento­u o governo na Convenção do Chega.
Ana Catarina Mendes, ministra -Adjunta e dos Assuntos Parlamenta­res, represento­u o governo na Convenção do Chega.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal