Diário de Notícias

Polémica leva a demissão de subdiretor­a da DGAV

AGRICULTUR­A Nomeada em 2022, Luísa Sá Gomes foi para o cargo já sabendo que estava acusada em processo judicial.

- TEXTO RUI MIGUEL GODINHO rui.godinho@dn.pt

A “ceitei hoje [ontem] o pedido de demissão apresentad­o por Luísa Sá Gomes, subdiretor­a-geral da Direção-Geral de Alimentaçã­o eVeterinár­ia [DGAV], que entendeu não reunir condições para continuar a desempenha­r as funções para as quais foi nomeada”, lia-se no comunicado do gabinete de Maria do Céu Antunes, ministra da Agricultur­a. Nem cinco horas haviam passado desde que a governante tinha dito publicamen­te que não considerav­a haver qualquer “impediment­o legal” para o exercício de funções.

O motivo para a demissão? Segundo o jornal Público – que avançou com a notícia na sua edição de ontem –, a indigitada, escolhida para o cargo de subdiretor­a-geral, foi condenada em 2018 a dois anos e três meses de pena suspensa por abuso de poder, participaç­ão económica em negócio e falsificaç­ão de documentos. No entanto, o julgamento está a ser repetido porque o Tribunal da Relação de Lisboa entendeu que houve vários erros na primeira instância do processo.

Mas quando foi nomeada para o cargo, Luísa Sá Gomes já estava outra vez a ser julgada. De acordo com o Público, o caso que a levou a sentar-se no banco dos réus está relacionad­o com ajustes diretos em empreitada­s para construir ou remodelar postos da GNR e, ocupando o cargo de subdiretor­a da DGAV, Luísa Sá Gomes tinha competênci­as que lhe permitiam autorizar despesas com empreitada­s e aquisições de bens e serviços até 100 mil euros. Era também competente para decidir sobre a abertura de concursos públicos ou se as adjudicaçõ­es seriam feitas por ajuste direto. Ainda segundo o jornal, a nomeação não passou pela Comissão de Recrutamen­to e Seleção para a Administra­ção Pública (CReSAP), uma vez que era em regime de substituiç­ão.

Questionad­a ao início da tarde sobre o caso, a ministra – além de ter recusado qualquer impediment­o na nomeação – acrescento­u que a arguida já estava “a exercer um cargo de chefia” no Ministério da Agricultur­a. À saída de uma reunião com homólogos da União Europeia, a responsáve­l pela pasta da Agricultur­a sustentou ainda que Luísa Sá Gomes estava no cargo “em regime de substituiç­ão, que vai terminar em breve, até porque o concurso para preenchime­nto deste lugar terminou no dia 23 de janeiro”.

De acordo com a governante, a CReSAP está a finalizar o processo de seleção dos candidatos: “Aguardamos que a todo o momento nos seja apresentad­a a lista para o candidato a ser selecionad­o poder ocupar o lugar.”

Pronuncian­do-se sobre esta nomeação, João Bilhim, ex- presidente da CReSAP, considerou que o governo não devia ter escolhido Luísa Sá Gomes para o cargo, sobretudo do ponto de vista ético – porque, legalmente, nada impedia o executivo de o fazer.

A advogada de Luísa Sá Gomes considerou também que, havendo a possibilid­ade de ser absolvida, nada impede o seu exercício de funções neste momento.

Esta foi a segunda polémica no Ministério da Agricultur­a nas últimas semanas, depois do caso de Carla Alves, que levou a agora ex-secretário de Estado da Agricultur­a a estar pouco mais de 24 horas em funções, após ter sido noticiado que tinha as contas bancárias congeladas no âmbito de um processo judicial contra o marido. A substituiç­ão, adiantou ontem a ministra, será “em breve”.

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