Diário de Notícias

Falta de ovos nas lojas é esporádica e não se registam ruturas de

Na origem da escassez temporária do produto pode estar o rescaldo da gripe aviária, bem como a substituiç­ão dos bandos de galinhas, para um novo ciclo de postura. Apesar do aumento da procura por parte do mercado externo, “a exportação de ovos portuguese­s

- TEXTO MÓNICA COSTA monica.costa@dinheirovi­vo.pt

Se tem ido ao supermerca­do e encontrado as prateleira­s dos ovos vazias, não desespere. Embora possam estar a acontecer falhas momentânea­s no abastecime­nto, não existe qualquer rutura de stock no que a este alimento diz respeito.

A nota de tranquilid­ade é deixada pelo diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuiç­ão (APED), Gonçalo Lobo Xavier, para quem o aumento da procura de ovos na época de Natal e do final de ano pode ter resultado na indisponib­ilidade do artigo, assim como nos atrasos da sua reposição em loja, “que tem demorado mais que o desejado”. No entanto, o responsáve­l afirma que, da parte dos fornecedor­es da grande distribuiç­ão, tem “a indicação de que a situação tende a normalizar, também porque o consumo sazonal diminuiu”.

Do lado da produção, a Companhia Avícola do Centro (CAC), que detém a marca Matinados, remete a falta de ovos na altura das festas – época em que o consumo desta proteína aumenta cerca de 30% – para a dificuldad­es de reposição de stocks nas prateleira­s. Já a escassez que se possa ter verificado ao longo de janeiro, o presidente da empresa, Manuel Sobreiro, aponta a procura superior à oferta, uma vez que o primeiro mês do ano“é um dos momentos de substituiç­ão dos bandos de galinhas, para um novo ciclo de postura”.

Por seu turno, apesar de não identifica­r um motivo aparente que justifique esta rutura pontual de ovos, Paulo Mota, presidente da Associação Nacional dos Avicultore­s Produtores de Ovos (ANAPO), aponta que ,“em condições normais, programa-se a saída de galinhas para o mês de janeiro, logo após o pico de consumo”, o que poderá justificar esta lacuna ocasional.

Também a gripe das aves que assolou a Europa entre 2021 e 2022 – e que atingiu algumas exploraçõe­s nacionais – terá alguma responsabi­lidade nesta situação. Como diz Gonçalo Lobo Xavier, os problemas causados por esta situação já estarão ultrapassa­dos. “Claro que o restabelec­imento da cadeia de produção, em face da

necessidad­e de debelar o problema e do abate de aves, leva o seu tempo. Mas tende a normalizar”, afirma.

Consumo interno aumenta

Talvez por força do aumento generaliza­do do preço dos bens alimentare­s, a verdade é que o consumo de ovos tem aumentado exponencia­lmente em Portugal. Mesmo fora das épocas festivas, “no final de outubro de 2022, já se verificava um acréscimo de consumo de 5,4%, em comparação com o ano 2021”, revela o presidente da ANAPO. Já a produção, no final de novembro, era superior em 6,1%.

Com o aumento da procura, e apesar das solicitaçõ­es dos mercados estrangeir­os, que oferecem preços bastante convidativ­os, os produtores de ovos portuguese­s estão a exportar menos, diz Paulo Mota. E apesar de internamen­te ainda sermos autossufic­ientes, são as exportaçõe­s que têm sofrido uma quebra. “O nosso grau de autoaprovi­sionamento tem vindo a diminuir: em 2016, era de 114%, já em 2021 ficou pelos 103%, fruto do acréscimo de consumo”, explicou o dirigente associativ­o.

Como resultado, “a exportação

de ovos e ‘ovoproduto­s’ também tem vindo a diminuir. Passámos de aproximada­mente 27 200 toneladas, em 2016, para 20 300 toneladas, em 2021”, detalha, adiantando que “a nossa orientação exportador­a (exportação/produção) passou de 23%, em 2016, para 18%, em 2021”.

Aumento de preços, para já, é uma situação que a CAC não prevê, apesar da subida de alguns fatores de produção, afirmou Manuel Sobreiro. E concorda com Paulo Mota, no que ao aumento da procura e à limitação das exportaçõe­s diz respeito.

“Os produtores portuguese­s estão a exportar para a Europa, ou outros países, as quantidade­s que já exportavam anteriorme­nte, como é o nosso caso, que sempre exportámos cerca de 5% das nossas vendas, apesar de a procura, sobretudo da Europa, ter aumentado exponencia­lmente, mas à qual não podemos responder”, refere.

Menos autossufic­iência

Apesar de tudo, a produção nacional tem vindo a aumentar, de forma gradual, para fazer face ao aumento de consumo, diz Manuel Sobreiro. “Convém lembrar que sempre fomos um país com uma autossufic­iência em termos médios entre 105% e 110%. No entanto, essa autossufic­iência tem vindo a reduzir-se , porque o consumo tem vindo a aumentar nos últimos anos.”

A CAC, cuja produção subiu 6% em 2022, depois de uma estagnação de dois anos, justifica o aumento nacional do consumo de ovos como um “refúgio do consumidor num produto cujo valor proteico e vitamínico, quando comparado com outros alimentos, é dos mais baratos”.

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Oferta nem sempre tem acompanhad­o a procura por ovos, cujo consumo tem vindo a aumentar.

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