DO ASSÉDIO AO NEGÓCIO: AS DIFICULDADES DO COSPLAY
Com um pai a fazer cosplay de stormtrooper, soldado de Star Wars, o fascínio por este mundo em que se veste a pele das personagens preferidas começou cedo para Ana Alves. Hoje com 25 anos, fez primeiro cosplay juntamente com o pai – os dois de stormtroopers em 2010. “Fiquei fascinada com o mundo do cosplay porque já era muito virada para as cenas geek. Quando vi o meu pai de cosplay, disse: ‘Eu também quero’. Tinha 13 aninhos e lá fui eu fazer cosplay com o meu pai”, conta Ana Alves, também conhecida como Canela, ao DN, no café Yohoshiro, vestida da personagem principal do anime Darling in the Franxx.A peruca cor-de-rosa veio na mão, num pequeno manequim, com Ana a colocá-la já no café.
Até 2020, o cosplay era o trabalho a full-time de Ana, mas com a pandemia as coisas mudaram, até porque a maior parte do seu rendimento vinha da participação em convenções e, com a pandemia, estas foram canceladas por razões de segurança. “Continuava a fazer dinheiro, mas não era tanto. Entretanto, encontrei um emprego no aeroporto de Lisboa. Atualmente, tenho basicamente dois trabalhos full-time – o aeroporto – e o cosplay.”
Durante as convenções, Ana Alves costuma fazer workshops e ter uma banca onde vende tatuagens temporárias e prints (fotografias impressas em cosplay). “Os prints são o que vendo mais. E tenho um orgulho imenso de partilhar a minha experiência em workshops, como foi o caso na Comic Con, ou de falar em painéis a discutir ideias.”
Recentemente, pensou voltar a dedicar-se unicamente ao cosplay, mas a paixão pelo mundo aeroportuário fez com que ficasse. “Eu digo sempre que qualquer pessoa consegue fazer dinheiro com cosplay, mas não é qualquer pessoa que consegue fazer constantemente dinheiro com cosplay.”
Para a cosplayer, a parte mais complicada de lidar no mundo do cosplay é o assédio. Desde descobrirem a sua morada até a ter de pedir segurança nos eventos, foram vários os problemas com que Ana Alves teve de lidar. “Ser conhecido vem com este lado mais negro de ter lidar com os stalkers e com assédio, por vezes em convenções e no dia a dia.”
Por ano, a cosplayer veste cerca de 20 fatos. Hoje conta com um estúdio, onde tem quase 80 cosplays. “Cada fato é capaz de rodar 50 a 150 euros, por isso, no final do ano prefiro nem fazer as contas”, disse entre risos.
Em criança, no Pinhal Novo, Ana Alves era muito reservada e na escola tinha poucos amigos. “Quando comecei a fazer cosplay, comecei a abrir-me e conheci tanta gente. A maior parte dos meus amigos agora são cosplayers”, disse. “Uma criança que sofre bullying na escola pode encontrar aqui um lar.”