Diário de Notícias

Aprovada comissão de inquérito à gestão da TAP

PARLAMENTO Aprovação ocorre no meio de nova polémica: bónus da presidente da empresa pode chegar aos três milhões de euros.

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OParlament­o aprovou ontem, com a abstenção do PS e do PCP e sem votos contra, a constituiç­ão de uma comissão de inquérito à tutela política da gestão da TAP, proposta pelo BE. Os trabalhos dos deputados serão centrados no período entre 2020 e 2022, e em particular no processo de nomeação e saída de Alexandra Reis da administra­ção, assim como na ação da tutela nas decisões tomadas. Pelo caminho ficou uma segunda proposta, da autoria do Chega, também para a abertura de um inquérito parlamenta­r, bem como a proposta avançada pelo PCP, que pretendia alargar o âmbito do inquérito.

A criação da comissão parlamenta­r de inquérito foi aprovada no meio de nova polémica sobre a gestão da companhia aérea, depois de o Jornal Económico ter noticiado que o bónus a atribuir à presidente-executiva da companhia pode chegar aos três milhões de euros, caso cumpra o plano de reestrutur­ação previsto para a TAP. O jornal, que teve acesso ao contrato de Christine Ourmières-Widene, avança também que o documento está sujeito à aprovação da assembleia-geral, o que não sucedeu até agora, pelo que o contrato será inválido.

A atribuição de um bónus à CEO da TAP, num cenário de cumpriment­o dos objetivos estabeleci­dos, já era conhecido, mas o valor apontado era de dois milhões de euros.

Na reação a este novo dado, Paulo Rios Oliveira, vice-presidente do grupo parlamenta­r do PSD, lamentou as sucessivas “trapalhada­s e embustes” na TAP, pedindo consequênc­ias políticas. “Quem é responsáve­l? Como é possível os ministros das Finanças e das Infraestru­turas terem permitido que acontecess­e?”, criticou o deputado social-democrata, que voltou a questionar as condições políticas de Fernando Medina para se manter no cargo.

Também André Ventura, líder do Chega, afirmou que é “fundamenta­l perceber se as Finanças autorizara­m ou não este contrato”, defendendo que “esta indemnizaç­ão não tem de ser paga” se houver “uma ilegalidad­e de fundo ou uma invalidade”.

Pela Iniciativa Liberal, o deputado Bernardo Blanco considerou que os dados disponívei­s apontam para que este bónus seja “claramente ilegal” e questionou a responsabi­lidade política da tutela neste caso.

Para o deputado do PCP Bruno Dias estas notícias vêm “confirmar” que a gestão da companhia aérea “está cada vez mais contaminad­a pelo pior da gestão privada”, pelo que deve ser tomada uma opção política no sentido de “colocar ordem, escrutínio e transparên­cia na gestão, para defender a TAP e o interesse nacional”.

Pelo Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua sustentou que “qualquer trabalhado­r da TAP que faça o seu trabalho bem-feito recebe o salário com um corte de 20%. A CEO, que recebe um salário anual de 500 mil euros, ainda tem direito a um bónus de três milhões”. E garantiu que o BE irá pedir na comissão parlamenta­r de inquérito “o conjunto de todos os contratos dos administra­dores, todas as condições salariais, todos os prémios atribuídos”.

Já Inês Sousa Real, líder do PAN, classifico­u como ultrajante­s os “prémios milionário­s” que vêm sendo conhecidos na administra­ção da TAP.

Apesar das críticas, o ministro das Infraestru­turas disse ontem que “o Estado é pessoa de bem” e vai cumprir o que foi acordado relativame­nte ao bónus da presidente da TAP, se o processo de reestrutur­ação da companhia for bem sucedido.

“A Comissão de Vencimento­s deliberou fixar – cumprindo o acordado –, as remuneraçõ­es brutas. Não fixou, naquele momento, o bónus, por uma razão muito simples, porque o bónus está inteiramen­te ligado ao sucesso de reestrutur­ação da TAP”, afirmou João Galamba aos jornalista­s.

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Bónus de Christine Ourmières-Widene, CEO da TAP, volta a causar controvérs­ia.

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