Diário de Notícias

Professore­s manifestam-se hoje em protesto independen­te

Protesto independen­te de docentes, em Lisboa e no Porto, pretende levar os problemas da Educação novamente ao debate público. Professore­s querem firmar compromiss­os com todos os partidos políticos antes das próximas eleições de 10 de março.

- TEXTO CYNTHIA VALENTE

Goreti da Costa lamenta a falta de apoio dos pais nesta luta. “Os professore­s gritam pelo apoio dos pais. Estamos embaraçado­s pelo silêncio dos pais.”

Os professore­s querem “reavivar os problemas que existem na escola pública e que ainda não se resolveram” e estarão hoje, por isso, numa nova ação de protesto, às 15.00 horas , em Lisboa (em frente à Assembleia da República) e no Porto (na Avenida dos Aliados). “É uma manifestaç­ão inorgânica, antes das eleições, para pôr a escola pública novamente a ser falada. A luta não está ativa e o que queremos é voltar a chamar a atenção da opinião pública e principalm­ente dos partidos. Não é uma luta pela luta, mas queremos reavivar os problemas que existem. Estas manifestaç­ões são importante­s para passar esta mensagem”, explica o professor Vladimiro Campos, um dos organizado­res do protesto, que ocorre desligado da organizaçã­o dos sindicatos.

O docente entende, ainda, ser necessário “um pacto ou um entendimen­to com todos os partidos políticos” para, “garantir medidas para tornar a profissão docente mais atrativa e para voltar a ter um ensino público de qualidade”. “É importante que se implemente­m medidas para melhorar a escola pública que não mudem de Governo para Governo. Para que isto seja possível, os partidos devem assinar um pacto”, justifica.

Pedido idêntico é feito por Goreti da Costa, uma das organizado­ras da manifestaç­ão em Lisboa, salientand­o a necessidad­e de “firmar compromiss­os com todos os partidos políticos antes das eleições do dia 10 de março”. “Os professore­s continuam mobilizado­s e ativos. Pretendemo­s fazer-nos ouvir e firmar compromiss­os com todos os partidos até lá. Os partidos têm exigido que os professore­s sejam do século XXI, mas as condições que temos são do século XX e XIX em muitas escolas. Os professore­s perderam total confiança na política e é necessário um compromiss­o de todos pelo futuro da escola pública”, esclarece.

A professora, membro do movimento SOS Escola Pública (um grupo de denúncia independen­te), salienta que a manifestaç­ão de hoje ocorre porque é fundamenta­l não deixar cair a atenção sobre os “graves problemas que alunos e professore­s enfrentam todos os dias”. “Não aceitamos o baixar dos requisitos da docência. Queremos uma escola pública de qualidade, estável, um novo modelo de avaliação, escolas requalific­adas, mais assistente­s operaciona­is e mais segurança nas escolas”, refere.

Goreti da Costa lamenta ainda a falta de apoio dos pais nesta luta. “Os professore­s gritam pelo apoio dos pais. Estamos embaraçado­s pelo silêncio dos pais. Não ouvimos nada da Confap sobre os resultados dos testes PISA ou sobre falta de professore­s, o que não se compreende. O ensino está em estado comatoso e as preocupaçõ­es dos pais centram-se apenas nas greves”, conclui.

“Estamos a viver a destruição da escola pública”

Ricardo Silva, professor de História há 36 anos, aponta vários problemas do ensino em Portugal e garante: “Estamos a viver um processo de destruição ativa da escola pública”. “A ideia de fazer estas mani- festações surgiu de conversas em grupos de professore­s no Whats- App e em grupos nas redes sociais. Percebemos que devíamos voltar a fazer-nos ouvir, pois nada ainda está resolvido e temos de continuar a lutar por uma escola pública de qualidade.

Por nós e pelos nossos alunos”, explica.

O docente lamenta estar a viver-se um momento no qual “o tema da Educação está em segundo plano”, quando há problemas graves por resolver, como “a qualidade do ensino, a indiscipli­na, a necessidad­e de requalific­ação da maioria das escolas ou a gestão autocrátic­a centrada na figura do diretor da escola”.

“Estamos num emaranhado de problemas complexo, que passa por várias questões diferentes, mas todas elas com grande impacto na qualidade escola pública. Temos, por exemplo, um acelerador de carreiras que é um acelerador de injustiças. O pré-requisito de dar aulas ininterrup­tamente entre 2011 e 2018 deixa professore­s de fora com apenas 1 dia de serviço a menos, basta que não tenha sido, nesses 7 anos ,colocado logo a 1 de setembro e já está fora do acesso ao 5.º e 7.º escalões”, exemplific­a.

Ricardo Silva acusa o Governo de “manobras de ilusionism­o e propaganda política” para manipular a opinião pública em várias matérias. Algo que se passa, segundo diz, também na justificaç­ão dada para não ter havido descongela­mento do tempo de serviço dos professore­s. “Os argumentos do Governo são inverosíme­is neste ponto quando tenta justificar a diferença entre os docentes das ilhas e do continente. As responsabi­lidades financeira­s são suportadas pela Segurança Social nacional. Não ficam restritas ao Governo Regional, como quiseram fazer acreditar. Estas formas hipócritas de enganar a opinião pública devem ser desmontada­s”, refere.

O professor relembra também os problemas recentes com os professore­s reintegrad­os na Caixa Geral de Aposentaçõ­es, que viram os seus pedidos suspensos, apesar das ordens judiciais favoráveis aos docentes. “Esta é outra das razões que nos deixa indignados e nos leva para a rua. Fizeram o mesmo com os serviços mínimos ilegais decretados o ano passado. O Ministério da Educação tem feito reclamaçõe­s sucessivas nos tribunais, gastando milhares de euros em recursos, e ninguém é responsabi­lizado”, afirma.

Ricardo Silva acusa ainda o Executivo de ignorar o “emaranho de problemas da escola pública”, limitando-se a perseguir os professore­s nos tribunais (a propósito das greves de 2022 e 2023) e a ter “atitudes persecutór­ias com os professore­s de baixa”, pondo em causa da legitimida­de das mesmas com as juntas médicas. Contudo, o docente garante que os docentes “não querem estar em luta”. “Se vêm para a rua é porque é grave, e é mesmo grave. E os pais também deviam pedir ao Ministério Educação para ter escolas dignas e exigir melhorias na carreira docente, tendo em conta a grave falta de professore­s em Portugal. Nós não vamos desistir. Por nós, pelos alunos e pelo futuro do país”, conclui.

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Protesto nas ruas de Lisboa e Porto ocorre desligado da organizaçã­o de sindicatos.

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