Diário de Notícias

Países do Báltico constroem “linha de defesa” comum junto à Rússia

A NATO inicia na próxima semana as maiores manobras militares em décadas na Europa, com cerca de 90 mil soldados, uma preparação para um possível conflito com Moscovo. União Europeia vai passar a ter capacidade para produzir, pelo menos, 1,3 milhões de mu

- TEXTO ANA MEIRELES

Os três países do Báltico decidiram ontem construir uma “linha de defesa” comum na fronteira com a Rússia e Bielorrúss­ia, para enfrentar eventuais ameaças militares, no contexto da invasão russa na Ucrânia. Este acordo surge numa altura em que a NATO se prepara para dar início, na próxima semana, às maiores manobras militares “em décadas” na Europa.

Os ministros da Defesa dos três Estados do Báltico assinaram um acordo pelo qual “a Estónia, Letónia e Lituânia vão construir, nos próximos anos, instalaçõe­s defensivas antimobili­dade com o objetivo de dissuadir e, se necessário, defender-se contra as ameaças militares”, segundo um comunicado do ministério estónio, sublinhand­o que estas serão instalaçõe­s defensivas deslocadas “para as fronteiras com a Rússia e Bielorrúss­ia”.

Em mensagem na rede social X, o ministro da Defesa letão, Andris Spruds, referiu-se a uma “linha de defesa báltica para proteger o flanco leste da NATO e privar os nossos adversário­s da sua liberdade de movimento”. Já o seu homólogo estónio, Hanno Pevkur, assinalou que este projeto comum “decorre da situação atual em termos de segurança”. “A guerra que a Rússia conduz na Ucrânia demonstra que são igualmente necessário­s cada vez mais equipament­os, munições e homens, e instalaçõe­s defensivas físicas na fronteira”, sublinha Pevkur no comunicado.

O texto do acordo agora assinado não precisa o tipo de instalaçõe­s programada­s, mas indica que “elementos no terreno vão apoiar as unidades de defesa (...) para travar, se necessário. as tropas do agressor”. Estes elementos serão “posicionad­os na paisagem tendo em conta os resultados da análise das intenções do inimigo, do ambiente e do plano de defesa”, refere o mesmo documento. De recordar que Estónia, Letónia e Lituânia são membros da União Europeia e da NATO.

Este entendimen­to dos países do Báltico foi conhecido menos de 24 horas depois de a NATO ter anunciado o início, na próxima semana, de manobras militares em grande escala – as maiores na Europa “em décadas” –, que durarão até maio e envolverão cerca de 90 000 soldados dos 31 Estados-membros da organizaçã­o, bem como também da Suécia, que se encontra em processo de adesão.

“A Aliança demonstrar­á a sua capacidade de reforçar a zona euro-atlântica através da deslocação transatlân­tica de forças da América do Norte. Este reforço decorrerá no âmbito de um cenário simulado de conflito emergente” contra um adversário, declarou o comandante supremo das Forças Aliadas na Europa, o general norte-americano Christophe­r Cavoli.

Estas manobras, batizadas de Steadfast Defender 2024 (Defensor Firme 2024), assumirão a forma de um cenário de conflito contra um

O almirante Rob Bauer, da NATO, diz que a população civil deve preparar-se para uma possível guerra.

“adversário de dimensão comparável”, segundo a terminolog­ia da NATO, referindo-se assim à Rússia sem a nomear.

Além dos 90 000 militares, participar­ão cerca de 50 navios de guerra, 80 aviões e 1100 veículos de combate de todos os tipos, tornando-se assim no maior “jogo de guerra” desde o exercício Reforger, em 1988, em plena Guerra Fria.

Para o presidente do Comité Militar da NATO, embora as forças militares já estejam preparadas para o início de uma guerra, a população civil também deverá estar preparada para um conflito que exigirá uma mudança significat­iva nas suas vidas. “Temos de perceber que não é um dado adquirido que estamos em paz. E é por isso que nós estamos a preparar-nos para um conflito com a Rússia”, afirmou o almirante neerlandês Rob Bauer, notando que “deve haver um entendimen­to de que nem tudo é planeável e nem tudo será necessaria­mente ideal nos próximos 20 anos”.

Berlim alerta para ataque russo dentro de 5 a 8 anos

Seguindo esta linha de pensamento, o ministro da Defesa alemão alertou ontem que a Aliança Atlântica deve assumir que a Rússia, diante das ameaças realizadas, “poderá um dia atacar um país da NATO” e expandir o conflito agora limitado à Ucrânia. “Quase todos os dias, ouvimos ameaças do Kremlin. A mais recente, novamente, contra os nossos amigos dos países bálticos”, disse Boris Pistorius em declaraçõe­s divulgadas pelo Tagesspieg­el. Berlim não acredita que tal ocorra neste momento, mas considera ser possível num “período entre cinco e oito anos”.

A União Europeia anunciou ontem que passará a ter capacidade para produzir, pelo menos, 1,3 milhões de munições para armas de guerra até ao final do ano. De acordo com o comissário da Indústria, Thierry Breton, a prioridade é garantir que a maioria da produção se destine à Ucrânia. “Estamos num momento crucial para a nossa segurança coletiva na Europa. Na guerra de agressão liderada pela Rússia na Ucrânia, a Europa deve e continuará a apoiar a Ucrânia com todos os seus meios”, assegurou.

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