A luta do DN
Como um jornal em luta para que os seus trabalhadores recebam os salários devidos e pela vida de um título mais do que centenário pode ser um exemplo de jornalismo?
Amaior arma dos jornalistas do DN é o seu jornal. Aqui, todos os dias, eles trabalham para dar as notícias mais inteligentes e completas possíveis, dando pistas ao leitor para poder melhor pensar o mundo e, eventualmente, transformá-lo para melhor.
Os jornalistas podem e devem ser livres, mas é preciso perceber que não são, nunca, independentes dos seus preconceitos e da sua forma de ver a vida. A sua capacidade de perceber os outros também está ligada à sua vida e vivência. É esta que lhes permite ler a sociedade e retratá-la.
Num conhecido estudo do antropólogo Claude Lévi-Strauss fala-se de uma aldeia em que os habitantes a desenham de uma maneira diferente conforme a posição social que têm, que implica viver numa parte diferente da aldeia. Não há nenhuma maneira de os habitantes dessa aldeia conseguirem ter a mesma imagem do seu espaço, porque ele é descrito a partir daquele acontecimento traumático que os divide socialmente e até espacialmente. A única forma de conseguir retratar da melhor forma o real dessa aldeia é a capacidade de mostrar essa divisão que ordena o espaço de todos os habitantes.
À sua maneira, o jornalismo é uma forma de conseguir passar desse conhecimento sensível ao conhecimento inteligível.
O facto de os jornalistas terem opiniões diferentes, por necessariamente terem vidas diversas, não os pode impedir de batalharem por fazer um jornalismo bem-feito: o que significa que têm de seguir um método que lhes permita separar juízos de valor de juízos de facto, tentar compreender e ouvir as diversas partes que intervêm numa determinada situação. A prática profissional exige inteligência, honestidade e vontade de perceber os outros. A maior capacidade de um jornalista não é julgar, mas entender.
Aqui, no DN, estamos unidos para recuperar os salários em atraso a que temos direito e fazermos, todos os dias, um jornal que dê elementos de inteligência para servir os nossos leitores.
A nossa situação difícil não nos tem impedido de fazer o melhor jornal possível e perceber que a nossa luta se faz também pela afirmação do jornalismo na sociedade de hoje.
Numa altura em que alguns pretendem fazer do jornalismo uma caixa de ressonância de interesses variados, nós apostamos por investigar e informar muitas das coisas que esses poucos têm todo o interesse em esconder.
O jornalismo deve viver porque é preciso. As notícias devem ser trabalhadas e pensadas por homens e mulheres que nos deem pistas para podermos usar a nossa inteligência para percebermos a nossa realidade. A existência de jornalistas, cientistas, artistas, professores, militantes, sindicalistas e qualquer outra atividade que trabalhe uma mediação intelectual entre nós e a realidade não diminui a participação de todos os cidadãos na definição do seu futuro, torna-a apenas mais informada, mais democrática e mais eficiente.
Infelizmente, não somos os primeiros trabalhadores que temos salários em atraso, mas somos trabalhadores que temos capacidade de denunciar essa situação, sobretudo na denúncia e no retrato que fazemos da situação de todos os outros. Quando fazemos notícias que mostram algo que está mal e outras que apontam para coisas que estão bem, estamos a fazer jornalismo, a mostrar a sua importância e a tornar ainda mais intolerável o facto de caminharmos para estarmos a trabalhar dois meses sem receber ordenado, nem Subsídio de Natal.
Isto vai ser uma longa luta para valorizar, ainda mais, o DN e os seus trabalhadores, mas o leitores podem contar connosco.
Aqui, no DN, estamos unidos para recuperar os salários em atraso a que temos direito e fazermos, todos os dias, um jornal que dê elementos de inteligência para servir os nossos leitores. A nossa situação difícil não nos tem impedido de fazer o melhor jornal possível e perceber que a nossa luta se faz também pela afirmação do jornalismo na sociedade de hoje.”