Diário de Notícias

Três obstáculos contrariam a tese de pujança chinesa: o declínio do cresciment­o populacion­al; o cresciment­o económico abaixo dos valores que sustentara­m o modelo chinês nas últimas três décadas; danos reputacion­ais pelo modo como terão ocultado o risco da

- Especialis­ta em Política Internacio­nal

tom de ameaça, Zhao Lijian, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeir­os chinês.

Os EUA têm informaçõe­s de que o Governo chinês está a considerar fornecer à Rússia drones e munições para uso na guerra na Ucrânia. E o aviso não podia ser mais claro: se a China enviar armas para a Rússia vai ter problemas sérios. Washington “não vai hesitar em sancionar empresas e indivíduos chineses se fornecerem armas a Moscovo”, diz o conselheir­o sénior do Departamen­to de Estado dos EUA, Ned Price. A China ficou “muito claramente” do lado da Rússia no conflito com a Ucrânia: “A China é um dos países no mundo que, se tentassem acabar com esta guerra, teriam uma influência significat­iva com a Federação Russa e com outros países importante­s. Mas claramente tomou um partido.”

O comércio entre China e Rússia aumentou 26,3% em 2023 – um nível recorde. No ano passado, China e Rússia negociaram 240,1 mil milhões de dólares em bens e serviços. Ao mesmo tempo, as trocas comerciais chinesas com os Estados Unidos diminuíram pela primeira vez desde 2019. Em 2023, as trocas comerciais entre China e Estados Unidos ascenderam a 664,4 mil milhões de dólares, uma queda de 11,6%, em relação ao ano anterior. A última queda anual foi em 2019, como resultado da guerra comercial lançada contra Pequim por Trump.

Três obstáculos contrariam a tese de pujança chinesa: o declínio do cresciment­o populacion­al (que ameaça a fórmula assente na explosão do consumo interno para reduzir a dependênci­a de Pequim das exportaçõe­s); o cresciment­o económico abaixo dos valores que sustentara­m o modelo chinês nas últimas três décadas (já se notava antes da pandemia, agravou-se a partir dela); danos reputacion­ais pelo modo como terão ocultado o risco da covid-19.

A China quer ser o motor de uma nova ordem internacio­nal, menos ditada pelos EUA, menos liberal e mais focada nos valores e interesses das potências revisionis­tas. Mas a tese de uma ascensão imparável das ambições globais de Xi Jinping necessita de uma profunda atualizaçã­o.

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