Vencer o 13º do Mundo vale lugar na história ao cinesiologista Nuno Borges
O tenista maiato eliminou Dimitrov e tornou-se o primeiro português a chegar aos oitavos num major. Já tem entrada garantida no top-50, onde só esteve João Sousa.
Nuno Borges atingiu aquilo que nenhum tenista português tinha alcançado no Open da Austrália: um triunfo frente a um dos melhores tenistas da atualidade. Vencer o búlgaro Grigor Dimitrov, pelos parciais de 6-7, 6-4, 6-2 e 7-6 , permitiu ao jovem natural da Maia seguir em prova e fazer história a vários níveis.
“Que loucura! Ainda estou a digerir a vitória. Estou mesmo muito contente, fiz uma grande exibição. Para ser sincero, não estava pronto para ganhar, mas fui com a mentalidade de lutar set a set e comecei a acreditar que podia ganhar, depois foi uma loucura de tie-break em que estava muito nervoso. Não me lembro de alguma vez estar tão nervoso, nem de jogar à frente de tanta gente”, confessou o tenista de 26 anos.
O 69.º colocado do ranking tem já garantida a estreia no top-50 do circuito ATP, tornando-se, nessa altura, o segundo tenista português da história a entrar nesse lote restrito, depois de João Sousa.
Os 200 pontos conquistados ontem em Melbourne Park asseguraram uma subida de pelo menos 20 lugares, que lhe permitirá ultrapassar as melhores classificações de carreira de Frederico Gil (62.º), Rui Machado (59.º) e Gastão Elias (57.º), ficando só atrás de João Sousa, que em outubro de 2012 entrou no top-30 (28.º). E se amanhã surpreender Daniil Medvedev entrará nos 40 Melhores do Mundo. Mas mesmo sem voltar a pontuar pode terminar o Open da Austrália como 47º.
O melhor tenista português da atualidade conseguiu o maior triunfo da carreira e quase, quase conseguia a maior vitória de sempre de um português num Grand Slam. Se é certo que bateu o Número 13 do ranking ATP, em 2018 João Sousa fez melhor, ao eliminar o então 12.º do Mundo, o espanhol Pablo Carreño Busta, na segunda ronda US Open. O vimaranense passa agora por um período complicado e está fora do top-100, mas é dono de quatro dos cinco maiores triunfos de sempre do ténis português.
Nos oitavos-de-final, marcados para amanhã, Nuno Borges procurará fazer ainda mais história e tornar-se o único português a passar a uma fase tão adiantada de num major. Para além dele, apenas João Sousa esteve nos oitavos de um Grand Slam e perdeu em amba as vezes, uma para Novak Djokovic, no US Open 2018, e a outra frente a Rafael Nadal, em Wimbledon 2019.
A tarefa que o tenista do Centro de Alto-Rendimento do Jamor terá agora pela frente não será fácil, uma vez que se vai confrontar com o russo Daniil Medvedev, atual Número 3 do Mundo.
“Tem sido a melhor semana da minha carreira. Vou continuar a dar o litro e ver até onde isto dá... Já sei que tenho um grande desafio pela frente e vou procurar desfrutar ainda mais, pois foi com essa mentalidade que entrei neste jogo [com Dimitrov], e vou tentar manter as mesmas rotinas e a mesma maneira de pensar”, explicou, agradecendo o “apoio dos portugueses” que viram pela televisão e aos muitos que ele conseguiu ver a vibrar nas bancadas.
A missão de chegar aos oitavos-de-final do primeiro Grand Slam da época era hercúlea, mas não o impediu de vencer um embate que durou três horas e cinco minutos. Depois de um primeiro set cedido apenas no tie-break, Nuno Borges roçou a perfeição nos outros três e ainda salvou um set point antes do dramático tie-break final.
“Estava um ambiente inacreditável. Nunca mais vou esquecer este dia, mas ainda não me apercebi muito bem do que está a acontecer. Acho que ainda estou na terceira ronda...”, admitiu o tenista, que em 2015 rumou à Universidade de Mississipi, nos Estados Unidos, para estudar Cinesiologia, ciência que tem como objeto a análise dos movimentos, enquanto treinava e jogava.
O triunfo emocionou Vasco Costa, presidente da Federação Portuguesa de Ténis, que enalteceu o “feito histórico”. “Neste momento está preparado para jogar com qualquer um ao mais alto nível. O Dimitrov vinha de um final de época e de um início de ano muito forte e o Nuno conseguiu ganhar-lhe, portanto é possível vencer Medvedev, mas sabendo que é um adversário muito difícil. Há dias e dias, e penso que ele tem essa capacidade”, disse o dirigente, que definiu Nuno Borges como um jogador cujo “talento não tem limites” e, por isso, reforçou que uma vitória sobre Daniil Medvedev na quarta ronda “é possível, mas não é fácil.”
“Tem sido a melhor semana da minha carreira e vou continuar a dar o litro e ver até onde é que isto dá... Já sei que tenho um grande desafio pela frente e vou procurar desfrutar ainda mais.”