“Não podemos voltar aos tempos de uma agricultura de subsistência”
ENTREVISTA Autarca transmontano defende o regadio como sustento económico da região. Nova albufeira permitirá também reforçar o abastecimento à população.
Com toda a chuva que tem caído neste outono/inverno está tranquilo em relação às necessidades de água no concelho para o próximo verão? Sim. Com os níveis de água existentes na albufeira, estou completamente tranquilo sobre o abastecimento à população para o resto do ano. E os produtores também têm as charcas cheias para esta campanha agrícola.
Na memória local ainda está a seca de 2022, que teve forte impacto, com a necessidade de recorrer a autotanques para abastecer a população a partir de água do Tua. O concelho está hoje mais bem preparado para anos de escassez hídrica ou, estruturalmente, a água continua a ser um problema?
Já fizemos alguns trabalhos para aumentar a eficiência hídrica, como substituir a principal conduta de transporte de água desde a estação de tratamento até à vila, que estava num estado degradado e levava a muitas perdas de água. Mas continua a ser um problema estrutural do concelho. Nós temos hoje uma pequena albufeira construída já em princípios da década de 1980 que, se estiver cheia como agora, terá uns 900 mil metros cúbicos. Se tivermos um período prolongado de seca, como em 2022, podemos contar com problemas. Aliado a isso, temos aqui no concelho uma agricultura muito dependente do regadio. Os produtores têm investido em charcas, mas isso tem vindo a manifestar-se insuficiente para conseguirem ser competitivos.
A barragem existente é exclusivamente para abastecimento à população, mas têm um projeto para uma nova no lugar da Veiga, junto à vila, para servir o regadio. Como está o projeto?
Estamos na fase final de estudos. Já temos uma Declaração de Impacte Ambiental favorável e assim que tivermos o Recape (Relatório de Conformidade Ambiental do Projeto de Execução) podemos avançar para a fase seguinte e iniciar o projeto de execução. São sempre coisas um pouco incertas, em termos de timing, mas tinha o objetivo de a barragem ser uma realidade nos próximos cinco anos. A barragem servirá o regadio, mas em alturas críticas poderá também reforçar o abastecimento à população, minimizando os problemas em anos de seca. Vários especialistas têm manifestado a oposição à construção de mais barragens e ao aumento da prática de regadio. A dependência do regadio não vai agravar os problemas de água do concelho?
Não podemos voltar aos tempos da agricultura de subsistência. Queremos ter uma agricultura competitiva, que permita a fixação de população ativa e que esta possa desenvolver a sua atividade económica, tirando proveitos disso. Gerar mais-valia nestes territórios. É disso que estamos a falar, dos territórios continuarem a ser competitivos. Se não, estaremos mais uma vez a contribuir para a sua desertificação e despovoamento.
Como encara os pedidos de autoestradas de água para Sul, para combater a seca nessa região? Se vamos por aí também temos de pensar nos espanhóis, que também queriam fazer mais transvases a partir de Portugal, e nomeadamente a partir do Alqueva, ali para a Andaluzia. Se calhar os nossos colegas algarvios não estarão tão interessados nisso. Se pensarmos a longo prazo, com as alterações climáticas, é óbvio que vamos ter os problemas a subir de Sul para Norte. O clima vai evoluir nesse sentido. E, do que tenho ouvido falar aos especialistas na matéria, esses transvases não são assim tão fáceis de implementar. Além dos custos enormes, levantam problemas a nível ecológico, de equilíbrios hídricos... é um processo complexo.