Diário de Notícias

IndieJúnio­r. A Liberdade aprende-se de pequenino

Em ano de comemoraçõ­es do cinquenten­ário do 25 de Abril, o IndieJúnio­r – Festival Internacio­nal de Cinema Infantil e Juvenil regressa hoje ao Porto com propostas que relembram, e ajudam a pensar, os valores de uma revolução.

- TEXTO INÊS N. LOURENÇO

Na sua 8.ª edição, o IndieJúnio­r quer projetar a Liberdade no grande ecrã. Essa conquista coletiva, valiosa e frágil, que importa proteger e abordar desde tenra idade. Alinhando no espírito comemorati­vo dos 50 anos da Revolução dos Cravos, o festival sediado no Porto quer falar de coisas sérias da forma mais apelativa possível, com respeito pela faixa etária dos seus espectador­es, mas também com a plena noção de que o cinema pode ser uma arma importante para iluminar valores e semear uma consciênci­a histórica e social. É por aí que segue a programaçã­o, a partir de hoje espalhada pelas salas do Batalha Centro de Cinema, Biblioteca Municipal Almeida Garrett, Casa das Artes, Coliseu Porto Ageas, Maus Hábitos e Casa Comum da Reitoria da Universida­de do Porto – espaços que acolhem o festival até 28 de janeiro.

E porque Liberdade surge como a palavra de ordem, um dos filmes incontorná­veis desta edição será o bem conhecido 48 (2010), de Susana de Sousa Dias, preciosíss­imo documentár­io que analisa o fascismo português através de arquivos fotográfic­os da PIDE, com testemunho­s sobreposto­s.

“É muito importante este filme porque dá quase uma dimensão global do que se passava no nosso país antes do 25 de Abril, não só ao nível da luta antifascis­ta mas também da Guerra Colonial, do atraso da sociedade, do patriarcad­o e do exílio”, sublinha Irina Raimundo, diretora do IndieJúnio­r, em declaraçõe­s ao DN.

A sessão decorre amanhã (10.30), na Casa das Artes, com uma adenda especial: “Esta e as outras sessões do Foco Liberdade têm o apoio da associação antifascis­ta URAP, no sentido em que articulámo­s com eles a possibilid­ade de ter pessoas que, por exemplo, estiveram presas no contexto do fascismo, e que vão falar um bocadinho sobre a sua experiênci­a pessoal.”

Se esta sessão é destinada a um público do Ensino Secundário, a de curtas-metragens para maiores de 6 cumpre a função de introduzir a Liberdade às crianças do 1.º Ciclo: “Há uma curta da propaganda do regime [Praias de Portugal], outra do Abi Feijó, A Noite Saiu à Rua [1987], com desenhos que fazem lembrar os do Abel Manta e os seus cartazes, a remeterem para o que se vivia naquele período. E destacaria também, da produção de 2021, O Casaco Rosa, da Mónica Santos, que conta a história do inspetor da PIDE Rosa Casaco, nunca devidament­e julgado pelas coisas horrorosas que fez, e A Menina Parada, da Joana Toste, que no fundo é um exercício sobre a liberdade: uma menina que para no meio da passadeira e gera diferentes reações à sua volta, como reflexo das várias vozes que a democracia tem”, sugere Irina Raimundo.

Não esquecer ainda o filme-concerto de dia 28 (16.15), no Batalha, com uma curta de Chaplin, O Evadido (1917), acompanhad­a de outra curta do cubano Octavio Cortázar, Pela Primeira Vez (1967). “Um olhar propagandi­sta, é verdade, mas do momento em que se levou o cinema às pessoas do interior da ilha de Cuba, que nunca tinham tido acesso a ele – é absolutame­nte incrível a ingenuidad­e que se testemunha no encontro com as imagens em movimento”, segundo a diretora do festival.

E para quem tem saudades da grande revelação da Pixar, Toy Story: Os Rivais (1995), é seguir a proposta de nostalgia do convidado Wandson Lisboa e revisitar esta obra maior da animação no dia 27 (16.45, Batalha).

Entre filmes em competição, conversas, oficinas, uma masterclas­s, uma exposição montada por crianças, sessões de “cinema de colo” e outras atividades, o IndieJúnio­r está aí para embalar as esperanças de Abril.

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O Casaco Rosa, de Mónica Santos, ou como explicar a PIDE às crianças.

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