Diário de Notícias

Uma crítica de João Gaspar Simões

- TEXTO NUNO RAMOS DE ALMEIDA

Ao lado de um texto de David Mourão Ferreira, João Gaspar Simões escrevia, no DN de 24 de janeiro de 1974, sobre as peças de teatro Sem Flores, nem Coroas, de Orlando da Costa, e Filopópulo­s, de Virgílio Martinho. Passamos a ler parte desse texto.

“Numa entrevista com um dos autores das duas peças que nos foi dado ler esta semana – Sem Flores, nem Coroas, de Orlando Costa (Seara Nova), e Filopópulo­s, de Virgílio Martinho (Plátano Editora ) – um deles, o segundo, diz com plena consciênci­a do problema. ‘Não é para o teatro que escrevem, é para o livro’ os escritores portuguese­s. E logo acrescenta, ele que também escreveu para o livro a sua peça Filopópulo­s: ‘Neste capítulo tive sorte, pois só no palco se pode ver se uma peça resulta ou não. É a sua prova real.’ De facto andou com sorte, pelo que se vê, uma vez que a sua farsa – de uma farsa burlesca se trata – tem estado a ser representa­da num teatro de amadores de um bairro de Lisboa e, a darmos crédito à crítica da capital, com êxito. Não a vimos em cena e é muito possível que em cena Filopópulo­s se emancipe dos senãos que à leitura embaçam qualquer juízo otimista sobres os seus mérito, pelo menos os seus méritos literários, aqueles méritos mais em evidência quando o teatro que se escreve é para livro para ser lido. E não há dúvida de que também a peça deVirgílio Martinho começou a ser escrita para a leitura. Contudo, e tal pode verificar-se, quer na leitura da farsa em questão, quer na leitura da peça de Orlando da Costa, nos últimos tempos o teatro, entre nós, mesmo aquele que se escreve para livro, com muito poucas ou mesmo nenhumas probabilid­ades de representa­ção, escreve-se de acordo com um programa cénico a tal ponto ambicioso e mesmo minucioso que chegamos a admitir que os nossos autores teatrais, em letra de forma, estão preparadís­simos para o palco sem nunca terem visto qualquer peça sua, tão cabalmente se desempenha da sua tarefa de autores de peças para serem lidas, que é como se as tivessem escrito diretament­e para o tablado. Expliquemo-nos. Tanto na peça de Orlando da Costa, Sem Flores, nem Coroas, muito particular­mente nesta, onde até figura um estudo cenográfic­o detalhadís­simo de João Abel Manta, como na farsa de Virgílio Martinho, o trabalho de cena sobreleva em muito o que se via em Portugal.”

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GUERRA O comando chefe das Forças Armadas tornou público um comunicado em que relata as suas atividades na Província da Guiné durante o ano findo nas áreas do ensino, cobertura sanitárias, comunicaçã­o e transporte­s e desenvolvi­mento rural.

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