À míngua de munições, Ucrânia é alvo mais fácil da “fraterna” Rússia
Moscovo diz ter atacado fábricas de armamento, mas foram atingidas áreas residenciais nas duas maiores cidades ucranianas.
Avoz de Vladimir Putin na cena internacional, Sergei Lavrov, disse na segunda-feira, no Conselho de Segurança das Nações Unidas, sem esboçar um sorriso, que a Rússia mantém“laços fraternos” com“a Ucrânia e o povo ucraniano”. A reunião na ONU foi pedida por Moscovo, alegando Kiev está a receber armas de outros países. Poucas horas depois, ao nascer do dia, um ataque russo a zonas residenciais de três cidades fez pelo menos sete mortos e feriu dezenas de pessoas a quem o ministro dos Negócios Estrangeiros russo acabara de reafirmar a ligação fraternal.
Kiev, Kharkiv e Pavlohrad foram alvo de um bombardeamento com uma mistura de 44 mísseis (cruzeiro, balísticos, teleguiados e antiaéreos), tendo 22 deles sido destruídos pela defesa aérea, segundo as autoridades ucranianas. A taxa de sucesso da defesa aérea já foi superior, o que prova pelo menos uma de duas: a tática de ataque russa com diversas tipologias de mísseis será mais eficaz; e os sistemas de defesa aérea, além de insuficientes para cobrir sequer as maiores cidades, estarão também a ficar com os stocks depauperados.
Nas duas maiores cidades, blocos residenciais, mas também edifícios de Saúde, de Educação e um pavilhão desportivo foram atingidos, tendo morrido pelo menos oito pessoas em Kharkiv e deixado 79 feridos, 12 dos quais crianças, nas duas cidades. Além disso, ainda em Kharkiv, os mísseis danificaram um gasoduto e milhares de habitantes ficaram sem energia depois de as infraestruturas elétricas terem sido atingidas.
Na cidade industrial de Pavlohrad, na região de Dnipro, duas escolas e oito edifícios foram atingidos; uma mulher morreu. Segundo Moscovo, os ataques foram direcionados em exclusivo a fábricas de produção de mísseis, munições e explosivos. Na guerra de palavras fica ainda a troca de acusações relativa à autoria do ataque de domingo à cidade de Donetsk, controlada por Moscovo, no qual terão morrido 27 pessoas.
Na linha da frente, junto de Avdiivka e de Bakhmut, no Donbass, uma equipa de reportagem da CNN comprova a escassez de munições com que o Exército ucraniano se debate. Um blindado M109 Paladin não tem o que lançar contra o inimigo à exceção de uns cartuchos de fumo. O comandante de artilharia da 93.ª Brigada Mecanizada da Ucrânia disse à cadeia norte-americana que a diferença entre os fornecimentos de artilharia russa e ucraniana é de “10 para 1”.
Foi neste cenário que se realizou mais uma reunião de Ramstein, o grupo de contacto dos países aliados para a articulação da assistência militar a Kiev. Da reunião, conduzida a partir de casa pelo reaparecido secretário de Defesa norte-americano Lloyd Austin (envolto em controvérsia pelo facto de não ter comunicado à presidência que estaria ausente devido a uma intervenção cirúrgica) saiu a constatação óbvia: graças ao bloqueio dos representantes republicanos, os Estados Unidos não podem neste momento prosseguir a ajuda militar, pelo que Austin apelou aos restantes países para aumentarem as contribuições. “Exorto este grupo a empenhar-se a fundo para fornecer à Ucrânia mais sistemas de defesa aérea terrestre e sistemas de interceção que salvam vidas”, disse.
A grande novidade nesse campo veio de Bruxelas, onde o secretário-geral da NATO anunciou a assinatura de contratos no valor de mil milhões de euros para o fornecimento de munições de artilharia. A aliança militar não faz a aquisição de forma direta, mas possibilita aos membros organizarem-se numa aquisição conjunta.