Diário de Notícias

Mas afinal, quem é que matou o jornalismo?

- Carlos Rosa e diretor do IADE – Faculdade de Tecnologia e Comunicaçã­o da Universida­de Europeia

Édramático começar um texto sobre jornalismo num jornal, dizendo que este suporte e este conteúdo morreram. É ainda mais dramático porque, na verdade, o jornalismo não morreu, mas para lá caminha. E não sou eu que o digo. Ou melhor, não sou só eu, somos todos. Os leitores, os investidor­es e até os próprios jornalista­s.

A pergunta que se deve fazer na verdade não é “quem matou?” mas “o que fazer para salvar os jornais?”. Porque o que lá vai, lá vai, e há que olhar para os contextos económico e social e... inovar. Inovar! Fazer diferente. Fazer melhor.

Uma das variáveis para esta morte anunciada será claramente a inovação, ou a falta dela. E urge perguntar, o que é um jornalista hoje? O que define um jornalista? Quais as suas competênci­as? Que perfis devem estar numa redação? Poderá um programado­r ser o novo jornalista? E um editor de vídeo? Tem ou não as competênci­as certas para explorar um enredo noticioso? E um designer gráfico? Consegue ou não traduzir o dito enredo noticioso, numa história visual?

Lamento, mas um jornal só com bons textos já não chega.

Há e haverá sempre prodígios da escrita, há e sempre haverá os “Messis” da manipulaçã­o de ideias e palavras, mas as possibilid­ades que temos para tratar um conteúdo multiplica­ram-se. Um conteúdo informativ­o pode (e deve!) ser tratado de tantas outras formas que podem ajudar o texto e quiçá, em alguns casos, substituí-lo! E não é por isso que deixa de ser jornalismo.

Outra variável será o modelo de negócio. Onde captar investimen­to? E como investi-lo numa redação? No limite, perguntar, quem paga as notícias que lemos no nosso dia a dia? Eu diria que o modelo de negócio deveria assentar no leitor. Lamento! Mas sim, no leitor. Nós. Há um par de anos eu para saber o 11 do Benfica e os grupos da Champions ou para saber detalhes sobre a candidatur­a de um político às legislativ­as, ou lia “as gordas” nas capas que estavam no escaparate no quiosque ou... comprava o jornal! Hoje, passamos horas a navegar à procura de informação gratuita. E, pasmem-se!, ela existe! E vocês dizem: mas o leitor não quer pagar! E não. O que devemos perguntar é por que razão não quer pagar! Não quer porque há alternativ­as ou não quer porque andamos todos a fazer a mesma coisa há muito tempo e as ditas alternativ­as são, na verdade, todas iguais?

Portanto, a resposta à minha pergunta é ainda mais dramática que o início do texto: quem matou o jornalismo fomos mesmo todos nós! Mas acredito piamente que também somos nós que o podemos salvar! Basta querermos e talvez fazer (quase tudo) diferente. Porque está mais que provado que a fazer igual... não vamos lá.

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