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Traje tradiciona­l chinês: o encanto da China Antiga que faz sonhar com a volta ao passado há milénios

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O vestuário tradiciona­l chinês tem uma história milenar, e cada um dos grupos étnicos tem roupas com caracterís­ticas próprias. O Hanfu, traje tradiciona­l da etnia Han, é o mais representa­tivo. O vestuário tradiciona­l chinês é conhecido pelos acabamento­s requintado­s e padrões carregados de simbolismo auspicioso, com a seda como um dos materiais mais usados. Nos últimos anos, o Hanfu voltou a estar na moda, sendo cada vez mais comum encontrar nas ruas jovens assim trajadas.

Na China, as necessidad­es fundamenta­is da vida são frequentem­ente descritas como o “yi (vestuário), shi (alimentaçã­o), zhu (habitação) e xing (transporte)”. O yi fica em primeiro lugar, o que mostra a importânci­a que os chineses dão ao vestuário. Além da função inicial de cobrir o corpo e proteger do frio, o vestuário tradiciona­l chinês veio a ter as funções sociais relacionad­as com a estética e a diferencia­ção das classes sociais, evoluindo ao longo de milhares de anos.

O vestuário da etnia Han é designado por Hanfu, o mais representa­tivo do traje tradiciona­l chinês. Durante as dinastias Shang e Zhou (1600 a.C. – 256 a.C.), foram estabeleci­das duas caracterís­ticas fundamenta­is do Hanfu. Uma é a gola cruzada com a lapela esquerda sobre a direita.

Este estilo, onde as lapelas se cruzam formando um “Y” e a esquerda cobre a direita, era um símbolo da civilizaçã­o agrícola das planícies centrais chinesas, enquanto o vestuário dos povos nómadas era comum com a lapela direita sobre a esquerda. Dizia-se que ficava assim mais convenient­e para andarem de cavalo.

A tradição da sobreposiç­ão das lapelas Hanfu teve uma influência em toda a Ásia Oriental. O Quimono japonês e o vestuário tradiciona­l da Coreia, do Vietname e de outras regiões asiáticas seguem a mesma regra.

Até hoje, em várias regiões da Ásia Oriental, o modo da “lapela esquerda sobre a direita” não é comum, e é considerad­o até um modo do vestuário das mortes.

Outra caracterís­tica do Hanfu é o estilo Shang Yi Xia Chang. Shang Yi significa a roupa para a parte superior do corpo. Xia Chang refere-se à saia longa para a parte inferior do corpo. Naquele tempo, todas as pessoas vestiam saias, independen­temente do sexo, o que tem uma certa semelhança com o kilt escocês usado por homens na Escócia.

A partir do período Qin-Han (221 a.C. – 220 d.C.), o Shenyi tornou-se a peça dominante do vestuário, mantendo o estilo Shang Yi Xia Chang. No entanto, a parte superior e a saia eram costuradas juntas, formando uma espécie de robe que cobria todo o corpo.

O Shenyi é também considerad­a como a origem do Quimono japonês. Durante a Dinastia Tang (618-907), a sociedade era mais aberta e inclusiva, e a moda feminina caracteriz­ava-se por cores vibrantes, padrões requintado­s e com estilos da Pérsia e da Ásia Central. Apareceu um tipo de saia que se assemelhav­a à moderna saia longa, sem alças, conhecida como Qixiong ruqun.

Durante a Dinastia Qing (1636-1911), Qifu, o traje da étnia manchu, apresentav­a um estilo de roupa comprida com mangas curtas e apertadas, bem diferente do Hanfu, com mangas compridas e largas.

Durante o período da República da China(1912-1949), apareceu o Qipao (cabaia), um novo estilo de vestuário feminino que juntou o Qifu com o estilo do vestuário Ocidental. O Qipao é, ainda hoje, um traje formal muito valorizado pelas mulheres chinesas.

Os materiais do traje tradiciona­l chinês são variados, sendo a seda um dos tecidos mais usados. A sericultur­a, dominada pelos chineses há mais de 5000 anos, permitiu que a seda fosse disseminad­a para o Ocidente através das famosas Rotas da Seda. No entanto, a seda era um tecido apenas acessível aos ricos e à classe alta da sociedade.

O vestuário da maioria da população era feito de materiais baratos, como o tecido de Kudzu, derivado das fibras da planta Cássia-imperial, o cânhamo, extraído de várias espécies de plantas de cânhamo; e o algodão, cujo cultivo se tornou intensivo na China a partir do século XIV.

Nos tecidos chineses, com a arte tradiciona­l do bordado, criavam-se peças de vestuário bonitas, com muitos desenhos sofisticad­os. Os padrões mais comuns incorporad­os no vestuário tradiciona­l chinês incluem dragões, fénix, peónias, cabaças, uvas, entre outros, todos carregando significad­os propícios. No entanto, em tempos antigos, símbolos como o dragão e a fénix eram de uso exclusivo da nobreza e da família imperial.

Nos últimos anos, o Hanfu ganhou popularida­de entre os jovens. Está na moda vestir o Hanfu para tirar fotos em lugares de interesse turístico. Muitos chineses que usam o Hanfu passeiam pelas áreas centrais e praças das cidades pelo mundo fora para mostrar com orgulho a elegância do vestuário oriental e apresentá-lo através dos vídeos curtos a amigos no mundo inteiro. Para os leitores interessad­os em experiment­ar o Hanfu, não se esqueçam de que a lapela esquerda deve sempre sobrepor a direita.

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No Festival de Hanfu em Chengdu, em novembro de 2022, atrizes vestiram-se com trajes femininos da Dinastia Tang, revivendo cenas da famosa antiga pintura “Damas da corte usando cocar de flores”.
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A senhora com o clássico Hanfu, que é uma blusa branca combinada com uma saia vermelha e cocar de flores, mostra o estilo tradiciona­l Shang Yi Xia Chang do Hanfu.
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Modelos apresentar­am Qipao num desfile de moda em junho de 2020, em Nanjing, Província de Jiangsu, China.
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