Samsung mergulha na IA com o S24. Vale a pena o investimento?
TECH Testámos o novo smartphone topo de gama do maior fabricante de aparelhos Android do mundo, que reponde aos Pixel, da Google, com inovadores serviços de Inteligência Artificial.
Uma só palavra ocorre para descrever o Galaxy S24 Ultra: maciço. O corpo de titânio, os ângulos quase retos, os 232g de peso... tudo lhe transmite uma sensação de solidez como não víamos há muito.
Lançado no final da semana passada, este é um telefone que grita “seriedade” – fosse da Microsoft, diríamos “produtividade”, a palavra de ordem em terras de Redmond. Sendo da Samsung, o maior fabricante desmartphones Android do mundo, estamos perante um topo de gama como a marca já nos habituou: praticamente tudo o que a tecnologia atual permite enfiar num paralelepípedo de 162,3 x 79,0 x 8,6mm foi aqui metido, pelo que a performance é garantida – e comprovada.
No entanto – e sinal evidente de que o hardware não evolui assim tanto de um ano para o outro –, as características deste S24 Ultra são, na realidade, muito semelhantes ao seu antecessor (apesar de o processador ser da mais recente geração) e ter um ligeiro upgrade nas já excelentes câmaras do S23 Ultra, que o destacaram da concorrência (em especial em fotografia noturna, como tivemos oportunidade de escrever).
A mais-valia da nova linha S24 centra-se na introdução de serviços de Inteligência Artificial (IA) que, espera a Samsung, os utilizadores considerem suficientemente inovadores e/ou úteis para justificar o investimento nos seus telefones. Isto na esteira da linha de telefones Pixel, da Google, que com o 8 apostou “todas as fichas” nos serviços de IA. Centremos assim as atenções nestas novas ferramentas da marca sul-coreana.
Tradução automática de chamadas
É provavelmente a mais inovadora solução incluída no S24: a possibilidade de o telefone traduzir em temreal a chamada de voz. E até que funciona... Mas para nós, portugueses, tem desde logo um problema: o português suportado é do Brasil.
O que gera lapsos à IA. Esta está a tentar “compreender” o nosso português e depois a traduzi-lo para a língua pretendida – e muitas vezes a coisa corre mal.
Já em inglês, que também testámos, falando com um interlocutor francês, as coisas correram muito bem. A IA quase não falhou em qualquer dos lados e foi possível fazermo-nos compreender (e marcar um encontro).
Ao longo da conversação o sistema transcreve todo o diálogo automaticamente, tanto nas línguas originais como a tradução obtida, o que é muito útil. Pormenor fantástico. Assim que arranca, ao apresentar-se o assistente diz à pessoa que está do outro lado do telefone: “Mantenha-se calmo.” Sintomático de como ainda não estamos habituados a falar com robôs. Pelo menos por enquanto...
O serviço funciona mesmo sem precisar de internet, sendo naturalmente necessário descarregar previamente o “pacote” do idioma apropriado. O processo é rápido. Infelizmente, a definição de que língua ambos os intervenientes estão a falar tem de ser feita manualmente.
Mensagens traduzidas e transcrições de voz
Igualmente incluídos estão tradutores e transcritores – voz para texto – para SMS e WhatsApp, bem como no gravador, além de o teclado Gboard também sugerir modificações de “tom” nas mensagens (mais formal, mais jovial, etc.) consoante as circunstâncias.
Todas estas funcionalidades foram desenvolvidas em parceria com a Google, não sendo por isso de admirar que estas últimas estejam também presentes nos telemóveis Pixel.
E, para Portugal, o problema descrito nas chamadas de voz mantém-se: o português é do Brasil...
A nova forma de pesquisar
Muito útil (mesmo) é a nova forma de pesquisar que a Google apresentou na semana passada e inclui-se, para já, em exclusivo no S24 e nos Pixel: Circundar para Pesquisar.
Em qualquer coisa que esteja no ecrã – de fotos a vídeo, ou texto – basta circundar um elemento que o sistema lança uma pesquisa Google. A IA é suficientemente “esperta” para perceber quando se trata de rostos de pessoas para, por uma questão de privacidade, impedir este tipo de buscas – e avisa.
Aqui, a caneta eletrónica SPen, que vem integrada no Ultra, revela-se particularmente útil, em especial para fazer seleção de texto. Pelo menos para quem já não consegue tirar notas à mão com letra suficientemente legível para qualquer Inteligência Artificial (ou qualquer intepo ligência natural, já agora) compreender!
IA nas fotos e vídeos em slow motion
Comecemos pelo melhor: Câmara-lenta Instantânea. O sistema usa IA para criar slow motion em vídeos gravados em velocidade normal, gerando no telefone, sem recorrer à nuvem, a interpolação de frames necessários. Aqui – além dos videojogos – se nota em pleno a fantástica capacidade de processamento do processador Qualcomm Snapdragon 8 Gen 3.
Menos bom – em comparação com a concorrência – é a Edição Generativa das fotos, que permite apagar elementos das imagens e usa IA para preencher o espaço “em branco”. Funciona, é rápido, mas comparativamente ao que faz a mais recente versão da câmara no Pixel 8 Pro deixa a desejar: no Samsung vê-se que há um elemento estranho na imagem. A tecnologia da Google, a este nível, está nitidamente mais avançada (por enquanto) – veja exemplo em www.dn.pt.
De resto, as câmaras do S24 Ultra são de facto excecionais – mas também já eram as do seu antecessor. Como referido, houve nesta geração um upgrade – as câmaras de 10 megapíxeis (MP) com zoom 10x do S23 passaram a ser de 50MP 5x zoom. Isto porque, com o auxílio da IA, será possível fazer zoom ótico-digital de melhor qualidade, afirma o fabricante. Sem ter um S23 disponível para comprar, não podemos dizer.
Outra pequena alteração da geração anterior prende-se com o ecrã, que no S24 está mais brilhante (passa para um máximo anunciado de 2600 nits contra os antigos 1750 nits) e agora é (felizmente) mais antirreflexo.
Com um preço base de 1500 euros (256GB de armazenamento, 12Gb de RAM, ainda que, nesta fase de pré-venda, a versão de 500GB esteja ao mesmo preço, com as entregas a começarem no final do mês), justificam estas alterações e os novos serviços de IA investir neste upgrade? Para quem tem um S23, diríamos que não. Já quem vem de uma geração anterior, muito provavelmente sim.
Agora, se este é o telefone para levar alguém que nunca preferiu a Samsung para o seu ecossistema... é duvidoso. Não dizemos apenas pelo preço – afinal, os serviços de IA estão presentes em toda a linha S24 e o modelo base começa nos 940 euros – mas porque, afinal, continua a ser um Samsung, com o seu sistema operativo OneUI que, apesar de estar bem mais clean do que já foi, ou se ama ou se odeia.
Uma coisa é certa, entre a Google, com os Pixel, e agora a Samsung (estamos à vossa espera, Apple e Xiaomi!), a IA entra definitivamente nos nossos bolsos. Por enquanto, desde que sejam suficientemente fundos, mas mesmo isso será atenuado com o passar do tempo.
A mais-valia da nova linha S24 centra-se na introdução de serviços de Inteligência Artificial que, espera a Samsung, sejam suficientemente inovadores e/ou úteis para justificar o investimento nos seus telefones.