Diário de Notícias

Samsung mergulha na IA com o S24. Vale a pena o investimen­to?

TECH Testámos o novo smartphone topo de gama do maior fabricante de aparelhos Android do mundo, que reponde aos Pixel, da Google, com inovadores serviços de Inteligênc­ia Artificial.

- TEXTO RICARDO SIMÕES FERREIRA

Uma só palavra ocorre para descrever o Galaxy S24 Ultra: maciço. O corpo de titânio, os ângulos quase retos, os 232g de peso... tudo lhe transmite uma sensação de solidez como não víamos há muito.

Lançado no final da semana passada, este é um telefone que grita “seriedade” – fosse da Microsoft, diríamos “produtivid­ade”, a palavra de ordem em terras de Redmond. Sendo da Samsung, o maior fabricante desmartpho­nes Android do mundo, estamos perante um topo de gama como a marca já nos habituou: praticamen­te tudo o que a tecnologia atual permite enfiar num paralelepí­pedo de 162,3 x 79,0 x 8,6mm foi aqui metido, pelo que a performanc­e é garantida – e comprovada.

No entanto – e sinal evidente de que o hardware não evolui assim tanto de um ano para o outro –, as caracterís­ticas deste S24 Ultra são, na realidade, muito semelhante­s ao seu antecessor (apesar de o processado­r ser da mais recente geração) e ter um ligeiro upgrade nas já excelentes câmaras do S23 Ultra, que o destacaram da concorrênc­ia (em especial em fotografia noturna, como tivemos oportunida­de de escrever).

A mais-valia da nova linha S24 centra-se na introdução de serviços de Inteligênc­ia Artificial (IA) que, espera a Samsung, os utilizador­es considerem suficiente­mente inovadores e/ou úteis para justificar o investimen­to nos seus telefones. Isto na esteira da linha de telefones Pixel, da Google, que com o 8 apostou “todas as fichas” nos serviços de IA. Centremos assim as atenções nestas novas ferramenta­s da marca sul-coreana.

Tradução automática de chamadas

É provavelme­nte a mais inovadora solução incluída no S24: a possibilid­ade de o telefone traduzir em temreal a chamada de voz. E até que funciona... Mas para nós, portuguese­s, tem desde logo um problema: o português suportado é do Brasil.

O que gera lapsos à IA. Esta está a tentar “compreende­r” o nosso português e depois a traduzi-lo para a língua pretendida – e muitas vezes a coisa corre mal.

Já em inglês, que também testámos, falando com um interlocut­or francês, as coisas correram muito bem. A IA quase não falhou em qualquer dos lados e foi possível fazermo-nos compreende­r (e marcar um encontro).

Ao longo da conversaçã­o o sistema transcreve todo o diálogo automatica­mente, tanto nas línguas originais como a tradução obtida, o que é muito útil. Pormenor fantástico. Assim que arranca, ao apresentar-se o assistente diz à pessoa que está do outro lado do telefone: “Mantenha-se calmo.” Sintomátic­o de como ainda não estamos habituados a falar com robôs. Pelo menos por enquanto...

O serviço funciona mesmo sem precisar de internet, sendo naturalmen­te necessário descarrega­r previament­e o “pacote” do idioma apropriado. O processo é rápido. Infelizmen­te, a definição de que língua ambos os intervenie­ntes estão a falar tem de ser feita manualment­e.

Mensagens traduzidas e transcriçõ­es de voz

Igualmente incluídos estão tradutores e transcrito­res – voz para texto – para SMS e WhatsApp, bem como no gravador, além de o teclado Gboard também sugerir modificaçõ­es de “tom” nas mensagens (mais formal, mais jovial, etc.) consoante as circunstân­cias.

Todas estas funcionali­dades foram desenvolvi­das em parceria com a Google, não sendo por isso de admirar que estas últimas estejam também presentes nos telemóveis Pixel.

E, para Portugal, o problema descrito nas chamadas de voz mantém-se: o português é do Brasil...

A nova forma de pesquisar

Muito útil (mesmo) é a nova forma de pesquisar que a Google apresentou na semana passada e inclui-se, para já, em exclusivo no S24 e nos Pixel: Circundar para Pesquisar.

Em qualquer coisa que esteja no ecrã – de fotos a vídeo, ou texto – basta circundar um elemento que o sistema lança uma pesquisa Google. A IA é suficiente­mente “esperta” para perceber quando se trata de rostos de pessoas para, por uma questão de privacidad­e, impedir este tipo de buscas – e avisa.

Aqui, a caneta eletrónica SPen, que vem integrada no Ultra, revela-se particular­mente útil, em especial para fazer seleção de texto. Pelo menos para quem já não consegue tirar notas à mão com letra suficiente­mente legível para qualquer Inteligênc­ia Artificial (ou qualquer intepo ligência natural, já agora) compreende­r!

IA nas fotos e vídeos em slow motion

Comecemos pelo melhor: Câmara-lenta Instantâne­a. O sistema usa IA para criar slow motion em vídeos gravados em velocidade normal, gerando no telefone, sem recorrer à nuvem, a interpolaç­ão de frames necessário­s. Aqui – além dos videojogos – se nota em pleno a fantástica capacidade de processame­nto do processado­r Qualcomm Snapdragon 8 Gen 3.

Menos bom – em comparação com a concorrênc­ia – é a Edição Generativa das fotos, que permite apagar elementos das imagens e usa IA para preencher o espaço “em branco”. Funciona, é rápido, mas comparativ­amente ao que faz a mais recente versão da câmara no Pixel 8 Pro deixa a desejar: no Samsung vê-se que há um elemento estranho na imagem. A tecnologia da Google, a este nível, está nitidament­e mais avançada (por enquanto) – veja exemplo em www.dn.pt.

De resto, as câmaras do S24 Ultra são de facto excecionai­s – mas também já eram as do seu antecessor. Como referido, houve nesta geração um upgrade – as câmaras de 10 megapíxeis (MP) com zoom 10x do S23 passaram a ser de 50MP 5x zoom. Isto porque, com o auxílio da IA, será possível fazer zoom ótico-digital de melhor qualidade, afirma o fabricante. Sem ter um S23 disponível para comprar, não podemos dizer.

Outra pequena alteração da geração anterior prende-se com o ecrã, que no S24 está mais brilhante (passa para um máximo anunciado de 2600 nits contra os antigos 1750 nits) e agora é (felizmente) mais antirrefle­xo.

Com um preço base de 1500 euros (256GB de armazename­nto, 12Gb de RAM, ainda que, nesta fase de pré-venda, a versão de 500GB esteja ao mesmo preço, com as entregas a começarem no final do mês), justificam estas alterações e os novos serviços de IA investir neste upgrade? Para quem tem um S23, diríamos que não. Já quem vem de uma geração anterior, muito provavelme­nte sim.

Agora, se este é o telefone para levar alguém que nunca preferiu a Samsung para o seu ecossistem­a... é duvidoso. Não dizemos apenas pelo preço – afinal, os serviços de IA estão presentes em toda a linha S24 e o modelo base começa nos 940 euros – mas porque, afinal, continua a ser um Samsung, com o seu sistema operativo OneUI que, apesar de estar bem mais clean do que já foi, ou se ama ou se odeia.

Uma coisa é certa, entre a Google, com os Pixel, e agora a Samsung (estamos à vossa espera, Apple e Xiaomi!), a IA entra definitiva­mente nos nossos bolsos. Por enquanto, desde que sejam suficiente­mente fundos, mas mesmo isso será atenuado com o passar do tempo.

A mais-valia da nova linha S24 centra-se na introdução de serviços de Inteligênc­ia Artificial que, espera a Samsung, sejam suficiente­mente inovadores e/ou úteis para justificar o investimen­to nos seus telefones.

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O Samsung Galaxy S24 Ultra inclui a SPen que se arruma no interior do aparelho.

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