Milhares de polícias em protesto exigem suplemento igual ao da PJ
Descontentamento das forças de segurança encheu as ruas da capital e promete não dar descanso durante a campanha eleitoral, caso não haja abertura para um acordo
Do protesto de um homem só até à manifestação de milhares pelas ruas de Lisboa levou pouco mais de duas semanas. O movimento iniciado pelo agente Pedro Costa, no passado 7 de janeiro, arrebatou milhares de outros polícias e elementos de outras forças de segurança, e desaguou ontem no mesmo local onde o pioneiro do protesto tem passado os dias em vigília: junto ao Parlamento, onde alguns pretendiam até passar a noite, segundo informação dada por Armando Ferreira, presidente do Sindicato Nacional da Polícia (Sinapol), um dos sindicatos que faz parte da plataforma que organizou o protesto.
Milhares de elementos da PSP e da GNR desfilaram entre o Largo do Carmo e a Assembleia da República numa marcha praticamente em silêncio, esporadicamente interrompido por palmas, assobios e pela entoação do hino. Os primeiros manifestantes chegaram à Assembleia da República cerca das 19.30, uma hora depois de terem iniciado o percurso. Quando o desfile chegou ao largo em frente ao Parlamento foi aplaudido por centenas de outros elementos das forças de segurança que os esperavam. Foi também aplaudido, então, o agente da PSP Pedro Costa que há mais de duas semanas iniciou sozinho o protesto.
A manifestação foi organizada pela plataforma composta por sete sindicatos da Polícia de Segurança Pública e quatro associações da Guarda Nacional Republicana, criada para exigir a revisão dos suplementos remuneratórios nas forças de segurança. As reivindicações em relação aos salários baixos e à falta de condições de trabalho são já antigas, mas o descontentamento ganhou nova dimensão depois de o Governo ter aprovado o pagamento de um suplemento de missão para as carreiras da PJ, sem que o equivalente tenha sido concedido às restantes forças policiais – a PJ é tutelada pelo Ministério da Justiça, PSP e GNR dependem do Ministério da Administração Interna.
Protestos podem repetir-se durante a campanha
Foi essa insatisfação que foi crescendo, a partir do rastilho aceso por Pedro Costa, e levou à grande manifestação que ontem percorreu as ruas de Lisboa. Onde Armando Ferreira, presidente do Sindicato Nacional da Polícia, deixou mesmo o aviso de que “sem um acordo, poderá haver protestos das forças de segurança durante a campanha para as eleições legislativas”.
O presidente do Sinapol garantiu, em declarações à Rádio Renascença, que os polícias estão “altamente motivados” e que os protestos por um suplemento idêntico ao aprovado para a Polícia Judiciária vão continuar. “Podem ter a certeza de que isso vai acontecer, se a situação não ficar resolvida antes das eleições ou da campanha eleitoral”.
A plataforma que convocou o protesto, no qual pediu que não marcasse presença nenhuma força partidária, estimou em 15 mil os polícias que acorreram à manifestação.
Bruno Pereira, presidente do Sindicato Nacional dos Oficiais de Polícia, disse que a grande adesão ao protesto mostra a dimensão do descontentamento dos profissionais das forças de segurança. O responsável salientou a presença de outras organizações não-policiais, que aderiram a uma causa “que transcende os polícias e é uma causa nacional”.
No último sábado, o ministro da Administração Interna, e cabeça de lista do PS por Braga, José Luís Carneiro, defendeu que os suplementos da PSP e da GNR sejam incorporados na base remuneratória, enquanto o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, recomendou a concessão de um suplemento igual ao da PJ.