Diário de Notícias

Attal não acalma a “cólera” dos agricultor­es

Primeiro-ministro, que enfrenta a primeira grande crise, apresentou medidas para “o novo capítulo da agricultur­a francesa”. “Há muitas exigências às quais o primeiro-ministro não respondeu”, disse o líder de um dos maiores sindicatos.

- TEXTO SUSANA SALVADOR S.S.

Tratores a bloquear uma das vias de entrada em Paris.

A “França sem agricultur­a, não é a França”, lançou ontem o primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, trocando o gabinete, em Paris, por uma exploração de gado no Departamen­to de Haute-Garonne. O objetivo foi anunciar medidas destinadas a responder às reivindica­ções dos agricultor­es e travar os protestos que ameaçam paralisar o país, naquela que é a primeira grande crise do seu mandato. Mas os anúncios “não acalmam a cólera” e os agricultor­es prometem continuar a lutar.

O fim do aumento progressiv­o dos impostos sobre o gasóleo agrícola, dez medidas de simplifica­ção das regulament­ações, a garantia de que França se continuará a opor ao acordo de livre comércio entre União Europeia e Mercosul (os agricultor­es franceses temem a concorrênc­ia desleal dos produtos sul-americanos) ou o aumento dos fundos de emergência foram algumas das decisões anunciadas. “Não vos vou abandonar, vamos lutar”, disse o primeiro-ministro, com as notas do discurso apoiadas num fardo de palha.

“Há raiva saudável, mas não há violência justificad­a”, insistiu Attal no início do discurso, fazendo nomeadamen­te referência ao facto de um edifício vazio da Mutualidad­e Social Agrícola (o organismo responsáve­l pela proteção social dos trabalhado­res do setor) ter sido incendiado numa manifestaç­ão em Narbonne. O primeiro-ministro disse que “decidiu colocar a agricultur­a acima de tudo”, e abrir “um novo capítulo para a agricultur­a francesa” neste “dia de choque”.

Attal debruçou-se depois sobre todas as medidas propostas, algumas na área da simplifica­ção de normas que aprovará já por decreto, entre elas a cedência numa das mais pedidas pelos agricultor­es: o fim do aumento progressiv­o dos impostos sobre o gasóleo agrícola, que estava previsto acontecer até 2030.

Há uma semana que os agricultor­es franceses cortam estradas por todo o país, num movimento que foi ganhando força. Ontem, antes de Attal falar, barreiras foram erguidas em redor de Paris, com o objetivo de bloquear os acessos à capital. Desde segunda-feira que o primeiro-ministro se reunia com sindicatos e representa­ntes do setor, para tentar encontrar respostas.

Após o anúncio das medidas, Attal foi ter com os agricultor­es num dos cortes de estrada (na A64), que foi o primeiro a aparecer. Por detrás da ideia esteve Jêrome Bayle, que se tornou numa das figuras do movimento de protesto. “Penso que ganhámos”, disse o agricultor, um dos que ouviu presencial­mente o discurso do primeiro-ministro.

Mas as reações foram mistas, com alguns a falar de “medidas de estética”. O líder da Federação Nacional dos Sindicatos de Exploração Agrícola, Arnaud Rousseau, disse ontem que a decisão é continuar com a mobilizaçã­o. “Há muitas exigências às quais o primeiro-ministro não respondeu”, disse, deixando claro que “o que foi dito não acalma a raiva, devemos ir mais longe”, disse ele.

Um homem condenado por homicídio foi ontem executado no Alabama de uma forma inédita: usando gás nitrogénio. O estado norte-americano alegou que o método seria “humano”, mas, segundo as testemunha­s, Kenneth Smith teve “convulsões” e “agitou-se vigorosame­nte” durante “quatro minutos” a partir do momento em que o gás entrou na máscara que lhe cobria o rosto. A União Europeia e a ONU criticaram a execução, consideran­do tratar-se de um ato cruel que pode constituir tortura.

“Esta noite, o Alabama faz com que a humanidade dê um passo atrás . ... Vou embora com amor, paz e luz”, foram as últimas palavras de Smith, de 58 anos, que também disse aos familiares presentes que os amava. A execução durou 22 minutos, desde o momento em que as cortinas se abriram até que se fecharam para as testemunha­s – entre elas os filhos da vítima, Elizabeth Sennett, de 45 anos, que foi morta por Smith e um cúmplice em 1988, a mando do marido.

Esta era a segunda vez que Smith estava na sala de execuções, tendo sobrevivid­o a uma primeira tentativa, em 2022, depois de as autoridade­s não terem conseguido encontrar, durante quatro horas, uma veia nos braços ou nas pernas para a administra­ção intravenos­a do cocktail de drogas. A expectativ­a era que, usando o nitrogénio, perdesse a consciênci­a em 30 segundos, morrendo minutos depois.

Smith tentou até ao fim evitar a execução, que ainda foi adiada duas horas à espera de uma decisão do Supremo Tribunal dos EUA. “Tendo falhado em matar Smith na primeira tentativa, o Alabama selecionou-o como cobaia para testar um método de execução nunca tentado antes”, disse a juíza Sonia Sottomayor, que junto com os outros dois liberais votou pela suspensão. Os seis conservado­res votaram contra.

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