Attal não acalma a “cólera” dos agricultores
Primeiro-ministro, que enfrenta a primeira grande crise, apresentou medidas para “o novo capítulo da agricultura francesa”. “Há muitas exigências às quais o primeiro-ministro não respondeu”, disse o líder de um dos maiores sindicatos.
Tratores a bloquear uma das vias de entrada em Paris.
A “França sem agricultura, não é a França”, lançou ontem o primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, trocando o gabinete, em Paris, por uma exploração de gado no Departamento de Haute-Garonne. O objetivo foi anunciar medidas destinadas a responder às reivindicações dos agricultores e travar os protestos que ameaçam paralisar o país, naquela que é a primeira grande crise do seu mandato. Mas os anúncios “não acalmam a cólera” e os agricultores prometem continuar a lutar.
O fim do aumento progressivo dos impostos sobre o gasóleo agrícola, dez medidas de simplificação das regulamentações, a garantia de que França se continuará a opor ao acordo de livre comércio entre União Europeia e Mercosul (os agricultores franceses temem a concorrência desleal dos produtos sul-americanos) ou o aumento dos fundos de emergência foram algumas das decisões anunciadas. “Não vos vou abandonar, vamos lutar”, disse o primeiro-ministro, com as notas do discurso apoiadas num fardo de palha.
“Há raiva saudável, mas não há violência justificada”, insistiu Attal no início do discurso, fazendo nomeadamente referência ao facto de um edifício vazio da Mutualidade Social Agrícola (o organismo responsável pela proteção social dos trabalhadores do setor) ter sido incendiado numa manifestação em Narbonne. O primeiro-ministro disse que “decidiu colocar a agricultura acima de tudo”, e abrir “um novo capítulo para a agricultura francesa” neste “dia de choque”.
Attal debruçou-se depois sobre todas as medidas propostas, algumas na área da simplificação de normas que aprovará já por decreto, entre elas a cedência numa das mais pedidas pelos agricultores: o fim do aumento progressivo dos impostos sobre o gasóleo agrícola, que estava previsto acontecer até 2030.
Há uma semana que os agricultores franceses cortam estradas por todo o país, num movimento que foi ganhando força. Ontem, antes de Attal falar, barreiras foram erguidas em redor de Paris, com o objetivo de bloquear os acessos à capital. Desde segunda-feira que o primeiro-ministro se reunia com sindicatos e representantes do setor, para tentar encontrar respostas.
Após o anúncio das medidas, Attal foi ter com os agricultores num dos cortes de estrada (na A64), que foi o primeiro a aparecer. Por detrás da ideia esteve Jêrome Bayle, que se tornou numa das figuras do movimento de protesto. “Penso que ganhámos”, disse o agricultor, um dos que ouviu presencialmente o discurso do primeiro-ministro.
Mas as reações foram mistas, com alguns a falar de “medidas de estética”. O líder da Federação Nacional dos Sindicatos de Exploração Agrícola, Arnaud Rousseau, disse ontem que a decisão é continuar com a mobilização. “Há muitas exigências às quais o primeiro-ministro não respondeu”, disse, deixando claro que “o que foi dito não acalma a raiva, devemos ir mais longe”, disse ele.
Um homem condenado por homicídio foi ontem executado no Alabama de uma forma inédita: usando gás nitrogénio. O estado norte-americano alegou que o método seria “humano”, mas, segundo as testemunhas, Kenneth Smith teve “convulsões” e “agitou-se vigorosamente” durante “quatro minutos” a partir do momento em que o gás entrou na máscara que lhe cobria o rosto. A União Europeia e a ONU criticaram a execução, considerando tratar-se de um ato cruel que pode constituir tortura.
“Esta noite, o Alabama faz com que a humanidade dê um passo atrás . ... Vou embora com amor, paz e luz”, foram as últimas palavras de Smith, de 58 anos, que também disse aos familiares presentes que os amava. A execução durou 22 minutos, desde o momento em que as cortinas se abriram até que se fecharam para as testemunhas – entre elas os filhos da vítima, Elizabeth Sennett, de 45 anos, que foi morta por Smith e um cúmplice em 1988, a mando do marido.
Esta era a segunda vez que Smith estava na sala de execuções, tendo sobrevivido a uma primeira tentativa, em 2022, depois de as autoridades não terem conseguido encontrar, durante quatro horas, uma veia nos braços ou nas pernas para a administração intravenosa do cocktail de drogas. A expectativa era que, usando o nitrogénio, perdesse a consciência em 30 segundos, morrendo minutos depois.
Smith tentou até ao fim evitar a execução, que ainda foi adiada duas horas à espera de uma decisão do Supremo Tribunal dos EUA. “Tendo falhado em matar Smith na primeira tentativa, o Alabama selecionou-o como cobaia para testar um método de execução nunca tentado antes”, disse a juíza Sonia Sottomayor, que junto com os outros dois liberais votou pela suspensão. Os seis conservadores votaram contra.