Diário de Notícias

Será o fim de uma era? Sinner acaba com lenda de Djokovic na Austrália

TÉNIS A melhor versão do italiano ganhou à pior versão do sérvio, que colocou um ponto final a 2195 dias sem perder em Melbourne. Final do Open australian­o é amanhã contra Medvedev.

- TEXTO NUNO FERNANDES

Jannick Sinner nunca ganhou um Grand Slam e nem sequer tinha chegado uma final de um major. Mas ontem a história mudou. Em Melbourne, o N.º 4 do Mundo cometeu a grande proeza de eliminar o N.º 1 Mundial Novak Djokovic (6-1, 6-2, 6-7 e 6-3), e vai discutir amanhã o troféu frente ao russo Daniil Medvedev, que na outra meia-final bateu Alexander Zverev.

O enorme feito do italiano de 22 anos ganha ainda maior projeção pelo facto de Melbourne ter sido sempre uma verdadeira praia para Djokovic (venceu 10 edições), que 2195 dias depois voltou a perder no seu open de eleição, quebrando um ciclo de 33 vitórias consecutiv­as. Com esta derrota, Djokovic falhou também o objetivo de ultrapassa­r o recorde de Margaret Court – continuam empatados com 24 Grand Slams cada.

Premonição ou não, em dezembro, quando o jovem italiano venceu Djokovic na Taça Davis e conquistou a competição (também bateu o sérvio no ATP Finals), o seu compatriot­a Adriano Panatta fez a seguinte declaração: “Se Sinner o vencer mais duas ou três vezes em 2024, vai tornar-se o pesadelo de Djokovic e pode levá-lo à reforma. A história ensina e, muitas vezes, repete-se: [Björn] Borg saiu com a chegada de [ John] McEnroe e depois McEnroe aposentou-se quando [Boris] Becker chegou.” Será?

O italiano admitiu que jogar três vezes com Djokovic no espaço de duas semanas no final de 2023 ajudou-o a alcançar este feito histórico. “Os Grand Slams são diferentes, mesmo mentalment­e. Isto foi um grande teste, até para ver como estou fisicament­e, e foi muito importante, para mim, superá-lo. Melhorei muitas coisas, mas acredito que ainda posso melhorar mais. Estou muito contente por jogar a minha primeira final. Vou chegar com um sorriso e dar o meu melhor”, referiu após o jogo terminar.

Já Djokovic não escondeu a sua frustração com a derrota, mas deixou um aviso aos mais céticos. “Isto é só o início da época e não é a sensação a que estou habituado, porque a maioria das minhas épocas começou com uma vitória na Austrália. Não estive ao meu nível, mas não significa que seja o princípio do fim”, referiu, admitindo que foi um dos seus piores jogos do Grand Slam. Prova disso foi o facto de, pela primeira vez na carreira, não ter feito qualquer ponto para quebrar o serviço ao adversário.

Um bom esquiador

Jannik Sinner, 22 anos, nasceu na região do Tirol, no norte de Itália, muito perto da fronteira com a Áustria. Filho de um casal que trabalhava numa estância de esqui, começou, com o irmão, a praticar desportos de neve e ténis logo aos 3 anos de idade. E chegou a ser um dos melhores praticante­s de esqui italianos, entre os 8 e os 12 anos, vencendo várias provas.

Colocou de lado o ténis durante um ano, mas, desafiado pelo pai, voltou a praticar a modalidade, numa altura em que também jogava futebol (é adepto do AC Milan). Foi aos 13 anos que tomou a decisão: largou o esqui e o futebol para se dedicar às raquetes, mudando-se para Bordighera para frequentar o Centro de Ténis Piatti, onde começou a ser treinado por Riccardo Piatti e Massimo Sartori.

Como júnior participou apenas em torneios internos, nunca chegando a um Grand Slam ou provas importante­s. Tornou-se profission­al em 2018 e a primeira prova que venceu foi um torneio de pares.

A primeira conquista individual deu-se em 2019, quando triunfou no Challenger de Bergamo, com 17 anos e seis meses. Começou a dar nas vistas e, pouco tempo depois, venceu o seu primeiro torneio ATP em Itália.

A primeira aparição num Grand Slam foi no Open dos Estados Unidos, mas foi derrotado logo na 1.ª ronda por Stan Wawrinka. Mesmo assim, com os pontos amealhados em outros torneios, acabou o ano de 2019 no top-100.

A partir daqui foi sempre a subir. Em 2020 atingiu os quartos-de-final de Roland Garros, em 2022 chegou à mesma fase no Open dos Estados Unidos e no ano passado às meias-finais de Wimbledon. Terminou 2023 em grande estilo com boas atuações no ATP Finals (onde bateu Djokovic) e fechou o ano em grande a ajudar a Itália a vencer a Taça Davis (com nova vitória sobre Djokovic).

Agora, pode tornar-se no terceiro tenista italiano a ganhar um Grand Slam (depois de Pietrangel­i, em 1959 e 1960, e Panatta,1976, ambos em Roland Garros). Mas para tal terá de bater o russo Daniil Medvedev, que ontem venceu Zverev por 3-2 (5-7, 3-6, 7-6, 7-6 e 6-3), e assim colocar o nome ao lado dos seus grandes ídolos: Novak Djokovic e Roger Federer.

“É o meu maior feito até agora. É uma sensação muito boa ganhar a um jogador assim. Domingo é a final e serão emoções diferentes porque a final é sempre distinta, não importa o torneio.” Jannik Sinner Tenista

“É um dos piores jogos do Grand Slam que já joguei. Foi uma sensação muito desagradáv­el. Não estive ao meu nível, mas não significa que seja o princípio do fim.”

Novak Djokovic

Tenista

 ?? ?? Tenista italiano só perdeu um set num jogo onde, pela primeira vez, Djokovic não fez qualquer ponto para quebrar o serviço do rival.
Tenista italiano só perdeu um set num jogo onde, pela primeira vez, Djokovic não fez qualquer ponto para quebrar o serviço do rival.

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