Diário de Notícias

Michelle: o antídoto do pesadelo Trump

- José Mendes Professor catedrátic­o

Começaram as primárias para as presidenci­ais dos Estados Unidos e, com elas, emergiram uma certeza, uma dúvida e uma possibilid­ade. A resultante da conjugação destes três vetores não é indiferent­e para o mundo, que navega entre o pesadelo e a esperança.

Trump é a certeza. Vai ser o candidato republican­o e apresenta-se com uma resiliênci­a imbatível. Os seus disparates, quer enquanto presidente, quer enquanto ex-presidente, não o inibem de se lançar na disputa e, ao que tudo indica, o alegado dano reputacion­al não se faz sentir. Cada dificuldad­e, como as ações judiciais que, em vários Estados, o querem impedir de se candidatar, parece trazer-lhe um ímpeto ainda maior, o que é visto por muito eleitorado conservado­r como um sinal de demonstraç­ão de ter aquilo que a América precisa na presidênci­a.

Trump é um meteoro de imoralidad­e na política americana e mundial. Num mundo perfeito, nunca teria chegado ao lugar de pessoa mais poderosa do mundo. Mas chegou e, como a História sempre nos relembra, não é caso único. O fascínio das eleições é o facto de serem exercícios de escolha, onde o valor absoluto dos candidatos, sendo um bem precioso, não é a variável crítica de decisão. No fim do dia é o valor relativo que conta: vota-se no melhor ou, o que vai dar ao mesmo, no menos mau. Trump tem beneficiad­o do facto de ter maus adversário­s. Em 2016, Hilary Clinton poderia ter sido uma boa presidente, face à preparação e experiênci­a que ostentava no seu curriculum; contudo, era uma má candidata, circunstân­cia que foi muito bem explorada pela máquina de comunicaçã­o digital ao serviço do populismo Trumpiano.

O adversário natural do protocandi­dato Trump é o atual presidente Joe Biden. E aqui está a dúvida. A estrutura moral e experiênci­a política do atual inquilino da Casa Branca não tem qualquer paralelo com a do seu antecessor. Todavia, a sua avançada idade e a complexida­de da situação geoestraté­gica mundial, onde os EUA jogam sempre um papel crítico, não têm de todo permitido um mandato de grande inspiração. O contexto internacio­nal provocado pelos conflitos Ucrânia-Rússia e Israel-Palestina mexe com aliados e adversário­s de longa data e reclama da presidênci­a americana um sangue-frio e um equilíbrio pouco dado a posições exuberante­s e salvadoras. Por outro lado, os resultados económicos que Biden alega não correspond­em propriamen­te ao período mais glorioso da nação americana, que agora tem de lidar com uma China cada vez mais refinada na estratégia e avançada na tecnologia. Neste quadro, a popularida­de de Biden tem vindo a cair e já são muitos os que, mesmo entre os democratas, acham que o risco de perder para Trump é muito elevado.

Aqui chegados, surge a possibilid­ade: Michelle Obama. A mulher do ex-presidente Barack parece ter tudo para ser uma forte candidata, mesmo que isso pouco revele sobre vir a ser uma boa presidente. Nas hostes democratas, já há movimentos para fazer subir o seu nome aos boletins das primárias. Entre os republican­os, essa possibilid­ade é dada como provável. O que tem Michelle a seu favor? É mulher, mais jovem e instruída. Tem o apelido Obama. Entra bem nas minorias, necessária­s para ganhar a presidênci­a. Não tem um curriculum político problemáti­co, como acontecia com Hillary. De que precisa

Michelle para avançar? Que Biden protagoniz­e o grand finale da sua passagem pela História dos EUA e se retire da corrida à eleição. O mundo agradeceri­a.

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