Michelle: o antídoto do pesadelo Trump
Começaram as primárias para as presidenciais dos Estados Unidos e, com elas, emergiram uma certeza, uma dúvida e uma possibilidade. A resultante da conjugação destes três vetores não é indiferente para o mundo, que navega entre o pesadelo e a esperança.
Trump é a certeza. Vai ser o candidato republicano e apresenta-se com uma resiliência imbatível. Os seus disparates, quer enquanto presidente, quer enquanto ex-presidente, não o inibem de se lançar na disputa e, ao que tudo indica, o alegado dano reputacional não se faz sentir. Cada dificuldade, como as ações judiciais que, em vários Estados, o querem impedir de se candidatar, parece trazer-lhe um ímpeto ainda maior, o que é visto por muito eleitorado conservador como um sinal de demonstração de ter aquilo que a América precisa na presidência.
Trump é um meteoro de imoralidade na política americana e mundial. Num mundo perfeito, nunca teria chegado ao lugar de pessoa mais poderosa do mundo. Mas chegou e, como a História sempre nos relembra, não é caso único. O fascínio das eleições é o facto de serem exercícios de escolha, onde o valor absoluto dos candidatos, sendo um bem precioso, não é a variável crítica de decisão. No fim do dia é o valor relativo que conta: vota-se no melhor ou, o que vai dar ao mesmo, no menos mau. Trump tem beneficiado do facto de ter maus adversários. Em 2016, Hilary Clinton poderia ter sido uma boa presidente, face à preparação e experiência que ostentava no seu curriculum; contudo, era uma má candidata, circunstância que foi muito bem explorada pela máquina de comunicação digital ao serviço do populismo Trumpiano.
O adversário natural do protocandidato Trump é o atual presidente Joe Biden. E aqui está a dúvida. A estrutura moral e experiência política do atual inquilino da Casa Branca não tem qualquer paralelo com a do seu antecessor. Todavia, a sua avançada idade e a complexidade da situação geoestratégica mundial, onde os EUA jogam sempre um papel crítico, não têm de todo permitido um mandato de grande inspiração. O contexto internacional provocado pelos conflitos Ucrânia-Rússia e Israel-Palestina mexe com aliados e adversários de longa data e reclama da presidência americana um sangue-frio e um equilíbrio pouco dado a posições exuberantes e salvadoras. Por outro lado, os resultados económicos que Biden alega não correspondem propriamente ao período mais glorioso da nação americana, que agora tem de lidar com uma China cada vez mais refinada na estratégia e avançada na tecnologia. Neste quadro, a popularidade de Biden tem vindo a cair e já são muitos os que, mesmo entre os democratas, acham que o risco de perder para Trump é muito elevado.
Aqui chegados, surge a possibilidade: Michelle Obama. A mulher do ex-presidente Barack parece ter tudo para ser uma forte candidata, mesmo que isso pouco revele sobre vir a ser uma boa presidente. Nas hostes democratas, já há movimentos para fazer subir o seu nome aos boletins das primárias. Entre os republicanos, essa possibilidade é dada como provável. O que tem Michelle a seu favor? É mulher, mais jovem e instruída. Tem o apelido Obama. Entra bem nas minorias, necessárias para ganhar a presidência. Não tem um curriculum político problemático, como acontecia com Hillary. De que precisa
Michelle para avançar? Que Biden protagonize o grand finale da sua passagem pela História dos EUA e se retire da corrida à eleição. O mundo agradeceria.