Diário de Notícias

O triângulo BES - Marquês - PT

- Daniel Deusdado Jornalista

Não se sabe se ainda antes ou apenas por essa altura, mas o facto é que José Sócrates e Ricardo Salgado passaram a partilhar uma esfera de interesses comuns aquando da tentativa de OPA da Sonae à Portugal Telecom. Foi-se criando uma frente avançada de poder que se terá reforçado aí e onde Salgado e Sócrates dominavam o BES, a Caixa, o BCP, a EDP, a PT, e a operaciona­l Ongoing. Esta, por sua vez, procurava um domínio dos média: tentativa de compra da TVI pela PT, tentativa de assalto à SIC, operaciona­lização de interesses via Diário Económico.

Mas comecemos pelo dinheiro. O Grupo Espírito Santo (GES) usava, pelo menos desde 2000, a liquidez de quase mil milhões da PT para ir mantendo as empresas do GES à superfície. Se a Sonae vencesse a OPA, os mil milhões não ficariam ali perigosame­nte concentrad­os. Mas era dinheiro crucial para Salgado. Final da história: os mil milhões mantiveram-se no GES até ao fim – e perderam-se totalmente.

Zeinal Bava era um brilhantís­simo gestor e estratega da PT, mas viveu subjugado ao poder do maior acionista, o BES, acolitado por uma série de acionistas/devedores – Berardo, Ongoing, Joaquim Oliveira, etc... Ricardo Salgado tinha ainda, entre outros poderes, o de influencia­r decisivame­nte a escolha do ‘chairman’ – exatamente o homem que podia e devia fazer a separação dos interesses da PT e dos acionistas. Esse ‘chairman’ foi, nesta fase, Henrique

Granadeiro, quase um irmão para Salgado. E eis então como um homem sério acabou envolvido nas teias de um servilismo funcional em redor do Dono Disto Tudo.

O polvo salgado-socrático era tão vasto que parece irreal acreditarm­os no que se passou: a Caixa Geral de Depósitos era liderada pelos socialista­s Carlos Santos Ferreira e Armando Vara, e esta CGD não deu sinais de neutralida­de no conflito aberto entre o BES e a Sonae quanto à PT. Ricardo Salgado, entretanto, vendeu a ilusão de um dinheiro infinito para distribuiç­ão de dividendos aos acionistas. E foi assim que a OPA falhou. A PT ficou com Salgado, Granadeiro e Zeinal até 2014, sonhando com uma fusão no Brasil. Depois da ruína do GES, e descapital­izada, está hoje nas mãos do arguido Armando Pereira. Entretanto, na Caixa, o Estado teve de meter cinco mil milhões de emergência.

Ainda aquando da OPA, acionistas comuns ao BES e PT avançam para a tomada do BCP, o que conseguem, sempre com dinheiro a crédito (e não pago até hoje). Objetivo: dominar o sistema bancário – Caixa, BES, BCP. E assim Carlos Santos Ferreira e ArmandoVar­a desaguam da socialista Caixa Geral de Depósitos para o ex-Opus Dei BCP, entretanto maçónico-socialista BCP.

Na Operação Marquês há milhares de outros detalhes sobre as relações entre Sócrates e o grupo Lena, entre os quais os 36 milhões parqueados em Carlos Santos Silva – alegadamen­te de Sócrates. Factos investigad­os pelo Ministério Público e agora reiterados pela Relação de Lisboa, clareando o nevoeiro com que Ivo Rosa não viu mais do que dois singelos milhões de euros na potencial esfera do ex-primeiro-ministro.

Cereja do bolo: o saco azul do BES. Meses depois do falhanço da OPA da Sonae, Salgado terá premiado, com 25 milhões de euros, Zeinal, Granadeiro e uma figura interposta de Sócrates – valor repartido de forma próxima entre os três, via offshores. Se o Ministério Público consegue provar que o dinheiro era para Sócrates, Zeinal e Granadeiro por causa da OPA, veremos. Quanto às consequênc­ias da perda da PT, não há condenação que nos devolva 10 anos de destruição da empresa mais estratégic­a do país.

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