Stubb está de volta à política e pode chegar a presidente
São nove os candidatos que hoje vão a votos para tentar suceder a Sauli Niinisto. O ex-primeiro-ministro Alexander Stubb está à frente nas sondagens, mas o mais provável é que haja uma segunda volta.
Os finlandeses vão hoje às urnas escolher quem sucederá a Sauli Niinistö, impedido por lei de se candidatar a um terceiro mandato como presidente, numa altura em que o país vive uma nova era da sua História, depois de aderir à NATO em abril na sequência da invasão da Ucrânia levada a cabo pela vizinha Rússia. A liderar as sondagens está o antigo primeiro-ministro (entre outros cargos governamentais) Alexander Stubb, que está de regresso à política após uma pausa (quase total) de sete anos. Mas o mais provável é que nem Stubb, nem nenhum dos outros oito candidatos, consiga a marca dos 50% da preferência dos eleitores, o que obrigará à realização de uma segunda volta, já marcada para 11 de fevereiro, entre os dois candidatos mais votados. A toma de posse será a 1 de março.
Alexander Stubb, de 55 anos, tem surgido nas sondagens com uma pequena vantagem em relação ao seu concorrente mais direto, Pekka Haavisto, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros que levou a Finlândia a entrar na NATO. De acordo com o estudo de opinião mais recente, feito pela Taloustutkimus entre os dias 17 e 23, o candidato do Partido da Coligação Nacional surgia com 27% das intenções de voto, quatro pontos à frente do representante dos Verdes, mas mesmo assim abaixo dos 31% de apoio que recolhia em dezembro. “As sondagens parecem bem agora, não o nego. Estou a sentir-me positivo, mas já estive em campanhas suficientes na minha vida para saber que as coisas podem mudar rapidamente”, afirmou Stubb numa entrevista dada esta semana ao Politico.
Ausente da política finlandesa há sete anos, primeiro no Luxemburgo no Banco Europeu de Investimento e depois em Itália a dar aulas, Stubb parece estar a sobreviver aos dramas políticos do governo de coligação do seu partido com o Partido dos Finlandeses, de extrema-direita. Visto como um representante da ala liberal do Partido da Coligação Nacional (de direita), e um grande defensor da integração europeia e do multiculturalismo, mesmo assim analistas políticos dizem que poderá atrair, numa segunda volta, o voto de eleitores da extrema-direita, que preferirão vê-lo na presidência em vez de Pekka Haavisto, um homossexual assumido apoiado pelos Verdes.
Mas Haavisto tem experiência governamental e até em campanhas presidenciais – foi candidato às presidenciais em 2012 e 2018, o primeiro homossexual assumido a fazê-lo, tendo ficado em segundo das duas vezes, perdendo para o atual presidente, Sauli Niinistö – podendo vir a surpreender numa potencial segunda volta. “Os eleitores teriam um presidente que teve uma posição chave como ministro dos Negócios Estrangeiros durante o processo de adesão à
NATO e que tem conhecimentos profundos em termos de política externa e de defesa, bem como formação e experiência como negociador de paz no Sul Global”, disse, em declarações à Euronews, Jenny Karimaki, da Universidade de Helsínquia.
O chamamento da pátria não se recusa
A carreira política de Alexander Stubb começou em 2004, quando foi eleito para o Parlamento Europeu, mas quatro anos depois trocou Bruxelas por Helsínquia, quando o então primeiro-ministro Jyrki Katainen o escolheu para a pasta dos Negócios Estrangeiros. Em 2014, quando Katainen decidiu abandonar o governo finlandês para assumir o cargo de comissário europeu, Stubb, então ministro dos Assuntos Europeus, passou a liderar o executivo e também o Partido da Coligação Nacional, acabando por ser derrotado nas eleições parlamentares do ano seguinte pelo Partido do Centro, mas mesmo assim garantindo o cargo de ministro das Finanças.
Enquanto responsável pelas finanças do país, Alexander Stubb foi alvo de muitas críticas e acusado de insensibilidade perante os efeitos dos cortes de gastos que introduziu e que afetaram áreas como o estado social e a educação. Como resultado destas políticas, mas também de uma série de gafes, nomeadamente através de tweets (Stubb é muito ativo da rede social X, onde tem quase 500 mil seguidores), a sua liderança partidária foi desafiada em junho de 2016, acabando por perder para Petteri Orpo, o atual primeiro-ministro. Na sequência desta vitória, Orpo anunciou que iria ficar com a pasta das Finanças, mas convidou Stubb a assumir o Ministério dos Assuntos Europeus, convite que o agora candidato a presidente declinou, optando por manter-se como deputado.
Um ano depois, Alexander Stubb foi escolhido para vice-presidente do Banco Europeu de Investimento como representante da Finlândia, referindo na altura não ter interesse em regressar à política do seu país, mas não afastando a possibilidade de candidatar-se à liderança da Comissão Europeia ou do Conselho Europeu. O que veio a acontecer em outubro de 2018, quando tentou ser, sem sucesso, o nomeado do Partido Popular Europeu à presidência do executivo de Bruxelas.
Desde o final do seu mandato no BEI, em 2020, tem sido diretor e professor da Escola de Governança Transnacional do Instituto Universitário Europeu, em Florença, estando atualmente, segundo o site da instituição, “de licença por ser candidato às eleições presidenciais finlandesas”.
Quando o seu nome começou a ser falado como potencial candidato do Partido da Coligação Nacional às presidenciais, Stubb referiu que iria considerar seriamente esta possibilidade caso viesse mesmo a ser convidado, o que veio a acontecer em agosto do ano passado. “Nesta situação geopolítica a resposta é inequívoca: quando a pátria chama, nós vamos”, disse na altura da sua nomeação.
Os desafios do próximo presidente
Sauli Niinistö, também do Partido da Coligação Nacional, vai abandonar a presidência da Finlândia ao fim de 12 anos no cargo por não poder concorrer a um terceiro mandato. Chegou a ser chamado de “encantador de Putin”, pela sua capacidade de dialogar com o presidente russo, mas estas relações próximas entre os dois países depressa se esboroaram depois da invasão da Ucrânia e a consequente adesão da Finlândia à NATO em abril do ano passado – passo que contou com o apoio de cerca de 80% da população e de quase todos os partidos políticos.
Mas, mesmo com a adesão já consumada, há uma série de questões que Helsínquia ainda tem de determinar em relação ao seu papel na à Aliança Atlântica, como em que medida tropas dos Estados Unidos poderão ser destacadas para este país nórdico e a possibilidade de receber armas nucleares, o que é proibido pela atual lei finlandesa.
O sucessor de Niinistö terá também de tentar aliviar as relações agora tensas com Moscovo, o que
VERDES
Voltou ao Parlamento em 2007, tendo sido também deputado 1987 e 1995. Como ministro dos Negócios Estrangeiros (2019-2023) esteve envolvido na entrada da Finlândia na NATO, e já ocupou as pastas do Ambiente e do Desenvolvimento Internacional.
PARTIDO DOS FINLANDESES
Ocupa desde 2023 o cargo de presidente do Parlamento finlandês, tendo sido deputado entre 2011 e 2014 e novamente desde 2019. Foi líder do seu partido de extrema-direita entre 2017 e 2021 e eurodeputado entre 2014 e 2019.
PARTIDO DO CENTRO
É governador do Banco da Finlândia desde 2018. Foi comissário europeu para o Alargamento (2004-2010) e para os Assuntos Económicos e Monetários e o Euro (2010-2014) e ministro dos Assuntos Económicos (2015-2016). Foi também deputado.
PARTIDO SOCIAL DEMOCRATA DA FINLÂNDIA
Foi a primeira mulher a liderar o SDP (2008-2014), tendo sido ministra das Finanças e vice-primeira-ministra entre 2011 e 2014. Desde 1 de dezembro de 2019 que é comissária europeia para as Parcerias Internacionais. Foi deputada entre 2003 e 2019. não é uma tarefa fácil, já que a pressão do Kremlin sobre Helsínquia tem sido muito e justificada por uma suposta “atitude antirrussa”. De recordar que a Finlândia partilha a mais longa fronteira europeia com a Rússia, a seguir à Ucrânia, e tem mantido esses cerca de 1340 quilómetros fechados, de forma a evitar que Moscovo continue a instigar um afluxo maciço de refugiados como forma de desestabilização.
Estas eleições presidenciais revestem-se também de uma importância maior devido ao facto de o chefe de Estado na Finlândia ter a seu cargo áreas como a Defesa e a Política Externa, como está estipulado nos artigos 58 e 93 da Constituição. Nessa capacidade, é o presidente que decide as nomeações militares, mas também é ele que assiste às cimeiras da NATO e se dirige às Nações Unidas, tem o poder de declarar guerra ou paz e recebe líderes estrangeiros. Tendo por base estes poderes, o sucessor de Niinistö terá de decidir também matérias como o fornecimento ou não de caças F-18 Hornet à Ucrânia assim que a Finlândia receber os novos F-35, um tema que tem gerado ampla discussão interna.
De acordo com o Euroactiv, os nove candidatos à presidência têm prometido um forte apoio à entrada da Ucrânia à União Europeia, mas também ao fornecimento de mais ajuda militar ao país.
Numa entrevista dada já este mês à Reuters, Alexander Stubb defendeu que a NATO deve tornar-se “mais europeia” e que a Finlândia manter-se-á um importante parceiro dos Estados Unidos seja Donald Trump eleito ou não em novembro. O candidato prometeu também um apoio incondicional à Ucrânia, excluindo qualquer relação entre Helsínquia e Moscovo enquanto Vladimir Putin não desistir da guerra contra Kiev. “Eles são o agressor, e nesse sentido não existe relação política. Num nível pragmático, obviamente que os nossos guardas fronteiriços continuam a cooperar e os nossos diplomatas continuam a cooperar, mas não existe nenhum pilar russo de política externa”, garantiu.
Já em declarações ao Financial Times, Alexander Stubb deixou claro que a Finlândia não tem medo da Rússia e que o país é seguro, devido a três fatores essenciais: umas forças armadas fortes, a adesão à NATO e a recente assinatura de um acordo de cooperação em termos de defesa com os Estados Unidos. “A Finlândia está numa das posições mais seguras da sua História. O que estamos a fazer é dissuadir [a Rússia], e penso que estamos a ser muito bem sucedidos”, afirmou ao mesmo jornal.