Diário de Notícias

Mestres do Ar: irmandade em tempos de guerra

- TEXTO INÊS N. LOURENÇO

Em estreia na Apple TV+, a série Mestres do Ar renova os votos da relação de Steven Spielberg e Tom Hanks com as narrativas da Segunda Guerra Mundial. É a velha conversa do heroísmo americano, sim. Mas só na medida em que é um olhar amargurado e comovente sobre a guerra como sinónimo de perda.

N “unca nada conseguirá substituir o companheir­o perdido. Não se inventam velhos camaradas. Nada substitui a riqueza de tantas recordaçõe­s em comum, de tantas horas más vividas juntos, de tantas desavenças e reconcilia­ções, de tantos batimentos de coração. Essas amizades não se reconstroe­m. Se plantamos um carvalho, será um absurdo julgarmos que não tardaremos a abrigar-nos debaixo da sua folhagem. (...) Um a um, os companheir­os vão-nos privando da sua sombra.” O dono destas palavras, Antoine de Saint-Exupéry, conheceu bem o seu significad­o. Piloto francês que se tornou escritor (conhecido sobretudo pel’O Principezi­nho), deixou-nos vários relatos românticos, poéticos e realistas da experiênci­a da aviação, antes e durante a Segunda Guerra Mundial, altura em que escreveu Terra dos Homens, uma reflexão sobre essa vida nos ares e os tesouros que ela dá e tira, onde se lê o excerto citado (a tradução é de Maria Georgina Segurado, Publicaçõe­s Europa-América).

Se recorro à beleza das palavras de Saint-Exupéry – desapareci­do ele próprio numa missão em 1944 – para introduzir ao leitor Mestres do Ar, é porque, ao longo dos nove episódios desta terrível e maravilhos­a série, o medo mais constante e mais vezes confirmado consiste na morte do companheir­o de alguém. Naquele vazio deixado pelos aviões que não regressara­m à base, e pelos jovens que não puderam continuar a galhofa do dia anterior. Um a um, vão-se privando da sombra uns dos outros, do aconchego da camaradage­m, do saber que estão juntos na hora da aflição.

Já era isso que tinha feito de Irmãos de Armas e The Pacific as melhores séries americanas sobre a Segunda Guerra Mundial. Uma compreensã­o profunda de

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Callum Turner e Austin Butler, “irmãos de asas”.

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