Diário de Notícias

O estranho achado de um caçador de patos

- TEXTO JOÃO PEDRO HENRIQUES

Daniel Duarte Gomes, residente na Póvoa de Santa Iria, localidade ribeirinha nos arredores orientais de Lisboa, conquistou o direito aos seus 15 minutos de fama pelo macabro achado com que se deparou nos lamaçais da Herdade do Mouchão (uma ilha no Tejo), pelas 18h30 do dia 27 de janeiro de 1974, um domingo.

Eventualme­nte para não chocar os seus leitores, a edição de 29 de janeiro de 1974 do DN, identifica­ndo Daniel como “caçador de patos”, recusou escrever que o homem encontrara nesses lamaçais o corpo nu de uma mulher morta. Os protocolos da época obrigaram o jornal a falar antes do “achado macabro” do “corpo desnudo de uma mulher”, aparentand­o esta ter “cerca de 20 a 30 anos”.

Segundo o relato, detalhadís­simo na identifica­ção de todos os envolvidos na história, o caçador de patos Daniel comunicou o achado ao 1.º cabo Meireles, do posto da GNR da Póvoa de Santa Iria, pelas 21h00 daquele domingo.

O “corpo desnudo” da mulher morta permaneceu, no entanto, no mesmo sítio, “de bruços e com os braços enterrados no lodo”, até ao dia seguinte, segunda-feira.

Pelo meio-dia foi possível chegar ao cadáver e colocá-lo numa maca. Mas revelou-se “impraticáv­el” transportá-lo para terra firme devido à baixa-mar. E a partir daqui a história ganha foros de odisseia.

A GNR informou a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, mas os seus funcionári­os recusaram participar na operação. E assim tiveram de ser chamados os bombeiros. António Gonçalves, adjunto do Comando dos Voluntário­s da Póvoa de Santa Iria, acompanhad­o de cinco dos seus homens, mais um popular voluntário e dois militares da GNR, acabaram por retirar o cadáver do sítio onde fora encontrado pelas 18h00 de segunda-feira – ou seja, quase 24 horas depois de ter sido encontrado pelo caçador de patos Daniel. O corpo foi transporta­do para a capela mortuária do cemitério local.

As razões da morte eram então desconheci­das. Por estar nua, pensou-se que a mulher poderia ter sido “vítima de crime provavelme­nte praticado por algum maníaco sexual”. Mas, “de qualquer modo, não é posta de parte a hipótese de suicídio ou mesmo de acidente”. O rosto estava “irreconhec­ível”. No pé direito apresentav­a “só constituiç­ão óssea”.

 ?? ?? 29 JANEIRO 1974 Noticiamos ontem que um morador de Benfica se queixara ao DN de ter o seu carro perseguido por um cão que não era seu. A denúncia funcionou: apareceu o dono. O cão perseguia o dono errado já que o seu carro era idêntico ao do verdadeiro.
29 JANEIRO 1974 Noticiamos ontem que um morador de Benfica se queixara ao DN de ter o seu carro perseguido por um cão que não era seu. A denúncia funcionou: apareceu o dono. O cão perseguia o dono errado já que o seu carro era idêntico ao do verdadeiro.

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