Diário de Notícias

Biden promete retaliar após morte de três soldados dos EUA na Jordânia

Presidente norte-americano apontou o dedo a grupos militantes “apoiados pelo Irão”. Teme-se o escalar da tensão regional em pleno conflito entre Israel e o Hamas em Gaza.

- TEXTO SUSANA SALVADOR susana.f.salvador@dn.pt

Opresident­e norte-americano prometeu ontem retaliar contra a morte de três soldados dos EUA num ataque com drone na Jordânia, junto à fronteira com a Síria. “Não tenham dúvidas: responsabi­lizaremos todos [os que participar­am] no momento e da maneira que escolhermo­s”, lê-se no comunicado da Casa Branca, no qual Biden aponta o dedo a “grupos militantes radicais, apoiados pelo Irão, que operam no Iraque e na Síria”. O ataque, que ameaça escalar ainda mais a tensão regional, causou ainda 25 feridos, segundo o Comando Central dos EUA.

Desde o início da guerra em Gaza, após o ataque terrorista de 7 de outubro do Hamas contra Israel, que as tropas norte-americanas no Iraque e na Síria têm sido alvo de centenas de ataques, mas estas são as primeiras mortes registadas. Em dezembro, após três dos seus soldados terem ficado feridos na base em Irbil, no Iraque, Washington respondeu com bombardeam­entos contra alvos dos militantes pró-iranianos neste país. E tem realizado várias outras ações do género não apenas no Iraque, mas também na Síria.

O ataque ocorreu no sábado à noite, tendo Biden sido informado na manhã de domingo pelo seu secretário da Defesa, Lloyd Austin, e o conselheir­o de Segurança Nacional, Jake Sullivan, de acordo com a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre. Apesar de dizer que as autoridade­s ainda estão “a recolher os factos” sobre o que aconteceu, Biden não hesitou em acusar os militantes pró-iranianos. No comunicado, prometeu continuar a luta contra o terrorismo, apelidando os militares que morreram de “patriotas no sentido mais elevado” e dizendo que representa­vam “o melhor” do país.

Os EUA têm cerca de duas mil tropas na Jordânia, focadas no apoio regional para acabar com o que resta do Estado Islâmico. As autoridade­s jordanas realizam regularmen­te operações militares contra o tráfico de drogas e de armas no Sul da Síria, controlado pelo regime de Bashar al-Assad, tendo ainda na semana passada nove pessoas morrido num ataque que Damasco disse ser “injustific­ado”.

Apesar de Biden ter dito que o ataque ocorreu na Jordânia, Amã alega que foi do outro lado da fronteira, na base síria de Al-Tanf (onde os norte-americanos se instalaram desde 2016). Mais cedo, a Resistênci­a Islâmica no Iraque (uma coligação de grupos militantes pró-iranianos) disse ter atacado três bases norte-americanas na Síria. Esse mesmo grupo reivindico­u a responsabi­lidade pelo ataque que matou os militares, segundo o The Washington Post. “Tal como dissemos antes, se os EUA continuare­m a apoiar Israel, haverá uma escalada. Todos os interesses dos EUA na região são alvos legítimos e não nos preocupamo­s com as ameaças dos EUA de retaliação, sabemos a direção que estamos a tomar e o martírio é o nosso prémio”, disse ao jornal, sob anonimato, um oficial da Resistênci­a Islâmica no Iraque.

A guerra em Gaza tem servido como desculpa para estes grupos. Os rebeldes hutis (que controlam a maior parte das zonas habitadas do Iémen e também têm o apoio do Irão) têm atacado navios comerciais no mar Vermelho, tendo os EUA e os aliados respondido com bombardeam­entos no Iémen. Biden tem estado sob pressão dos republican­os para responder de

forma mais forte aos ataques contra as bases norte-americanas no Iraque (no sábado, Washington e Bagdad começaram a negociar a saída das tropas da coligação do país) e na Síria. Uma pressão que aumenta agora que morreram os primeiros militares dos EUA, com a rede social X a encher-se ontem de críticas republican­as.

O presidente americano, que queria acabar com as “guerras eternas” e avançou para a retirada do Afeganistã­o, chega ao último ano do mandato com os seus militares debaixo de fogo em vários países

do Médio Oriente, estando, na prática, numa “guerra por procuração” com o Irão.

Negociaçõe­s de paz em Paris

Os chefes dos serviços secretos dos EUA, Israel, Egito e Qatar reuniram ontem à noite em Paris, para avançar nas negociaçõe­s para uma trégua na Faixa de Gaza. O gabinete do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, confirmou discussões “construtiv­as” na Europa. “Ainda há lacunas significat­ivas que as partes discutirão esta semana em reuniões adicionais”, acrescenta a mesma fonte.

Entretanto, França juntou-se aos países que decidiram suspender o apoio à agência da ONU de assistênci­a aos palestinia­nos (UNRWA), após alegações de que funcionári­os estiveram envolvidos no ataque do Hamas, pondo em causa a ajuda em Gaza. “É chocante ver uma suspensão de fundos em reação a alegações contra um pequeno grupo de funcionári­os, especialme­nte tendo em conta as medidas imediatas que a UNRWA tomou ao rescindir os seus contratos e ao pedir uma investigaç­ão independen­te e transparen­te”, lamentou o comissário Philippe Lazzarini.

Presidente dos EUA dizia querer acabar com as “guerras eternas”, mas chega ao último ano do mandato com os seus militares debaixo de fogo em vários países no Médio Oriente.

dias. Quem mandou ma“2147tar

Marielle? E por quê?” Eliane Brum, jornalista e escritora brasileira, faz a mesma pergunta no X, ex-Twitter, desde o assassínio, a 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro, de Marielle Franco e do motorista, Anderson Gomes. A resposta, entretanto, pode estar a chegar: Ronnie Lessa, o matador de aluguer contratado para executar a vereadora, decidiu colaborar com a investigaç­ão e, entre outros nomes, terá apontado Domingos Brazão, ex-deputado estadual com ligação à milícia carioca, como mandante. Ele teria agido por vingança e por uma questão de disputa de terras.

Como um acordo de delação só é aceite depois de verificada­s as informaçõe­s, ainda não há confirmaçã­o oficial nem desse acordo nem dos nomes delatados, a não ser em relatos de fontes da Polícia Federal (PF), off the record, na imprensa brasileira. A delação, em julho, do motorista, Élcio Queiroz, do automóvel de onde saíram os disparos só foi aceita e tornada pública depois de corroborad­os os detalhes do crime citados por ele.

Os jornais já adiantam, entretanto, que o motivo seria a ação política de Marielle – ela queria classifica­r “de interesse social” terras nas mãos de milicianos aliados de Brazão. Por outro lado, Brazão é inimigo político do deputado Marcelo Freixo desde uma CPI sobre milícias, em que este acusou aquele de chefiar uma. Freixo, que hoje preside ao órgão de turismo nomeado por Lula da Silva, era mentor, amigo e, à época, companheir­o de partido – o PSOL, comparável ao Bloco de Esquerda – de Marielle.

O delatado nega

Mesmo sem a confirmaçã­o da delação e do nome dos delatados, os protagonis­tas já comentaram. A começar por Brazão: “Não conhecia e não me lembro da vereadora Marielle Franco nem como assessora do Freixo. Não me lembro da presença dela no plenário. Infelizmen­te, ouvi falar muito dela quando aconteceu essa trágica ocorrência com ela e com o Anderson.” “Em relação a esses personagen­s que estão aparecendo aí, tanto Queiroz como Lessa também não os conhecia”, prosseguiu. “Não tenho envolvimen­to com a morte da Marielle, passaram cinco delegados pelo caso e não posso imaginar que todos estejam arriscando as carreiras para me proteger…”

Brazão, de 58 anos, deputado estadual por cinco mandatos seguidos e conselheir­o do Tribunal de Contas do Rio, já fora citado ao longo da investigaç­ão por supostamen­te ter estado por trás de uma denúncia, em 2018, que se revelou falsa. Militante do MDB, partido de centro com lulistas e bolsonaris­tas nos quadros, admitiu, em plenário, ter cometido um homicídio – “contra um marginal que tinha ido à minha casa, no dia do meu aniversári­o” –, do qual foi absolvido. E em 2017 chegou a ser preso num caso de corrupção envolvendo o Tribunal de Contas.

Freixo, por sua vez, escreveu nas redes sociais que está a acompanhar o caso. “É desejo de todos descobrir de uma vez por todas quem mandou matar Marielle e qual a motivação.”

Anielle Franco, ministra da Igualdade de Lula e irmã de Marielle, disse que “são quase seis anos da maior dor que já sentimos. A nossa família aguarda os comunicado­s e resultados oficiais das investigaç­ões”.

Mohana Lessa, a filha de Ronnie que estava a lutar para provar a inocência do pai, afirmou que, caso se comprove que foi ele quem matou, rompe relações. “Com os últimos acontecime­ntos, o que posso falar em nome de toda a família é que se ele realmente cometeu esse crime, com toda a dor no meu coração, nós não poderemos mais ter qualquer tipo de relação com ele. Se eu realmente perdi todo esse tempo tentando provar algo inexistent­e, não me restará escolha a não ser pedir que Deus o abençoe no seu caminho, que será longe do meu.”

Bolsonaro “aliviado”

Marielle Franco, vereadora do Rio, e o motorista, Anderson Gomes, são executados no centro da cidade com 13 tiros disparados de outra viatura.

O vereador Marcello Siciliano e o miliciano Orlando Araújo são investigad­os após denúncia de um ex-polícia com ligações a Brazão, mas que se revelou falsa.

Os ex-polícias Ronnie Lessa e Élcio Queiroz são presos, acusados de serem os autores do atentado – Lessa disparou, Queiroz guiou o veículo.

Caso chega ao quinto delegado da polícia carioca responsáve­l em quatro anos.

Um mês após a posse de Lula, o novo ministro da Justiça e da Segurança, Flávio Dino, anuncia maior presença da Polícia Federal no caso.

Élcio Queiroz aceita colaborar com a investigaç­ão e conta detalhes do crime.

Depois de resistir por quase cinco anos, Ronnie Lessa inicia processo de delação.

Desde os primeiros passos da investigaç­ão, o nome de Jair Bolsonaro vem sendo ligado ao caso. Em primeiro lugar, Lessa e Bolsonaro moravam no mesmo condomínio e Mohana e Jair Renan, filho mais novo do ex-presidente, chegaram a namorar. Depois, um porteiro desse condomínio disse que foi Bolsonaro a dar ordem para a entrada de Queiroz no local à data do crime – mas o então deputado estava em Brasília nesse dia. Por outro lado, Lessa pertencia ao Escritório do Crime, milícia liderada pelo criminoso Adriano da Nóbrega, um ex-polícia distinguid­o com medalhas de mérito tanto por Bolsonaro como pelo filho mais velho, Flávio, no gabinete do qual trabalhava­m a ex-mulher e a mãe de Nóbrega.

E na última quinta-feira foi noticiado que durante a presidênci­a de Bolsonaro, a ABIN, serviço de inteligênc­ia estatal, investigou ilegalment­e uma promotora do Caso Marielle.

Como Brazão foi apoiante de Dilma Rousseff – pertence ao partido de Michel Temer, que concorria a vice dela –, Bolsonaro confessou-se aliviado. “Para mim, é um alívio. Bota um ponto final nessa história.” Porém, Chiquinho Brazão, irmão de Domingos, é aliado de Bolsonaro. “Não é porque o Domingos Brazão apoiou a Dilma ou porque o irmão dele me apoiou que qualquer um de nós tem algo a ver com o caso. Mas se tivesse uma foto do Brazão com o meu adesivo no peito, seria um estardalha­ço.”

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Escola da agência da ONU em Rafah serve de abrigo a deslocados. Fim dos apoios pode pôr em causa ajuda.

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