Diário de Notícias

Portugal faz planos para central nuclear

- TEXTO MANUEL CATARINO

OConselho de Ministros para os Assuntos Económicos, reunido sob a presidênci­a do professor Marcello Caetano, no Palácio de São Bento, foi a única menção ao noticiário nacional com o privilégio da primeira página da edição do Diário de Notícias há 50 anos. O assunto que ocupou os ministros da área económica era da maior relevância: o abastecime­nto energético do país a longo prazo – até pelo recurso à energia nuclear.

A crise do petróleo asfixiava, então, a economia ocidental. A Organizaçã­o dos Países Exportador­es de Petróleo (OPEP) cortou o fornecimen­to ao Ocidente, em outubro de 1973, em protesto contra o apoio dos Estados Unidos a Israel durante a Guerra doYom Kipur. Portugal, por ter permitido o uso da Base das Laje, foi um dos países diretament­e afetados. O preço do crude quadruplic­ou. Três quartos da energia primária do país tinha como fonte o petróleo.

Portugal deu os primeiros passos no nuclear – passinhos tímidos – quando foi criado, em 1952, a Comissão Provisória de Estudos de Energia Nuclear e, em 1954, a Junta de Energia Nuclear. No início dos Anos 60, foi inaugurado o Laboratóri­o de Física e Engenharia Nuclear, em Sacavém, e foi o primeiro reator português – desmantela­do entre março e setembro de 2019, por estar em final de vida, e o combustíve­l de urânio enviado para os Estados Unidos.

Em janeiro de 1974, a três meses da derrocada do regime, Portugal tinha planos para a construção de uma central nuclear. O Conselho de Ministros, segundo a edição do Diário de Notícias de há 50 anos, “ocupou-se dos problemas relativos ao abastecime­nto energético do País a longo prazo tendo definido orientaçõe­s tendentes a assegurar a adequada segurança e economicid­ade desse abastecime­nto, designadam­ente, pela via nuclear”.

O local para a construção da central nuclear estava escolhido em janeiro de 1974. O reator seria construído na Freguesia de Ferrel, a pouco mais de dois quilómetro­s do Baleal, no Concelho de Peniche. A Revolução de 25 de Abril não travou os planos. As obras avançavam, ainda que lentamente, por alturas de março de 1976, já o país respirava em democracia. Até que no dia 16, uma manifestaç­ão popular encabeçada por ativistas antinuclea­r soterrou de vez o projeto de Ferrel.

 ?? ?? GUERRA COLONIAL As entrelinha­s da reportagem da revista To The Point dão uma ideia do andamento da guerra em África: A situação em Angola, limitada a combates em duas únicas bolsas, era “muito diferente da que se encontra em Moçambique e na Guiné”.
GUERRA COLONIAL As entrelinha­s da reportagem da revista To The Point dão uma ideia do andamento da guerra em África: A situação em Angola, limitada a combates em duas únicas bolsas, era “muito diferente da que se encontra em Moçambique e na Guiné”.

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