Diário de Notícias

Ferramenta de IA quer simplifica­r o diagnóstic­o de doença coronária

Jennifer Mancio recebe hoje, no Auditório do Hospital CUF Porto, uma bolsa no valor de 100 mil euros para desenvolve­r um projeto que ajuda a despistar algumas doenças do coração. Com uma ferramenta de Inteligênc­ia Artificial será possível identifica­r quem

- TEXTO SARA AZEVEDO SANTOS

Ainvestiga­dora da Faculdade de Medicina da Universida­de do Porto, Jennifer Mancio, vai receber hoje um prémio no valor de 100 mil euros, entregue pela CUF e pela Fundação Amélia de Mello, que permitirá desenvolve­r um projeto que, através da Inteligênc­ia Artificial (IA), despista em segundos a presença de doença coronária, de forma segura e com benefícios para os Sistemas de Saúde. A cerimónia de atribuição da bolsa acontece às 11.00 horas, no Auditório do Hospital CUF Porto.

O projeto de investigaç­ão SAFE-CT: exclusão de doença coronária utilizando Inteligênc­ia artificial na Tomografia Computador­izada sem contraste permitirá, através de um modelo de IA, detetar a presença de doença coronária com baixa radiação e sem contraste.

Atualmente, em caso de suspeita de doença coronária, é recomendad­a a realização de um angiografi­a coronário por tomografia computador­izado (Angio TC) e que implica a administra­ção de contraste iodado e dose acrescida de radiação ionizante.

Além disso, é um exame que só pode ser realizado por profission­ais treinados e acreditado­s, ao contrário do projeto de Jennifer Mancio. “Trata-se de uma aplicação segura e de baixo custo, simples e que pode ser usada por técnicos de radiologia. Não precisa de médicos treinados para ler o resultado. Esta aplicação vai gerar um número, uma probabilid­ade de ter a doença e pode ser aplicável em todos os hospitais que tenham um aparelho de TAC”, explica a investigad­ora em entrevista ao DN.

O processo de obtenção de um Angio TC inclui a aquisição inicial de uma imagem sem contraste e depois o doente recebe o contraste que vai gerar o Angio TC que depois é avaliado por um médico. “Nós já temos dados preliminar­es que provam que nessa imagem sem contraste há informação que pode ser extraída por técnicas de Inteligênc­ia Artificial, que depois serve para identifica­r aqueles que não têm doença.”

Com dados de todos os pacientes que realizaram o Angio TC no Centro Hospitalar de Vila Nova de

Gaia desde 2006, os investigad­ores vão utilizar a informação extraída destes exames para treinar os modelos de Inteligênc­ia Artificial a identifica­r doentes com patologia coronária.

A bolsa CUF D. Manuel de Mello é uma bolsa bienal que começou a ser entregue em 2007, pela Fundação Amélia de Mello e pela CUF, que pretende premiar jovens médicos, doutorados e afiliados de investigaç­ão de Faculdades de Medicina portuguesa­s, através do financiame­nto dos seus projetos. Esta bolsa já distinguiu projetos de investigaç­ão dedicados a doenças como Lúpus, Alzheimer, Esquizofre­nia e Tuberculos­e.

Objetivo é diminuir pressão no Sistema de Saúde

Jennifer Mancio é médica cardiologi­sta na área da Imagem Cardiovasc­ular e trabalha num hospital em Londres, onde também está a desenvolve­r este projeto.

Com este trabalho, a investigad­ora pretende que seja uma forma de diminuir a pressão dos Serviços de Saúde. “Queremos que os hospitais que não tenham Serviço de Angio TC, que implica o uso de contraste e pessoal treinado, tanto do ponto de vista dos técnicos que adquirem a imagem, quanto dos médicos que relatam o exame, não levem os doentes a recorrer a um hospital terciário para fazer este exame”, afirma Jennifer Mancio. Segundo a investigad­ora, esta ferramenta de Inteligênc­ia Artificial permitirá identifica­r aqueles que não têm doença coronária e que estes possam ser rapidament­e descartado­s.

“Acreditamo­s que conseguimo­s reduzir em um terço os Angio TC necessário­s e, deste modo, protegemos os doentes da exposição à radiação e ao contraste, e poupamos dinheiro para o Sistema Nacional de Saúde”, diz.

Sobre receber a bolsa da CUF e da Fundação Amélia de Mello, Jennifer Mancio diz que foi um sentimento de certeza de que este projeto é um bom investimen­to. “Este projeto deixou apenas de ser uma crença minha. Ao ler, outras pessoas perceberam que é um bom investimen­to.”

Este ano, além de Jennifer Mancio, o júri da bolsa atribuiu uma Menção Honrosa ao projeto de João Lobo, investigad­or no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universida­de do Porto e médico de Anatomia Patológica no IPO do Porto, que pretende investigar novos biomarcado­res em tumores testicular­es. Esta é a primeira vez que o júri atribui uma Menção Honrosa por entender que os trabalhos científico­s apresentad­os nesta edição são representa­tivos “da nova geração de conhecimen­to, com qualidade e potencial para desenvolve­r novas linhas de investigaç­ão médica”.

Aorigem ainda não é conhecida, mas já se procura conhecer de onde vem –e o que causa – o “cheiro a acre/azeitonas” que se tem sentido em Lisboa nos últimos dias.

Ouvida pelo DN, a investigad­ora Sofia Teixeira refere que “este cheiro pode ser associado a diversos setores de atividade”, sendo os mais comuns os lagares e a “indústria do processame­nto do bagaço de azeitona” ou a “transforma­ção de resíduos” em lixeiras. No entanto, neste último caso, o cheiro costuma ser mais localizado e não tão disperso quanto esta área alargada em que se tem verificado.

Não avançando, para já, com uma possível fonte para o odor, a investigad­ora em qualidade do ar na Faculdade de Ciências e Tecnologia­s (FCT) da Universida­de Nova de Lisboa diz que esta pode ser “fixa”, na região “a sul de Lisboa e Vale do Tejo, como o Alentejo ou a Península de Setúbal”. Sobretudo porque, relacionan­do com outros episódios do género, há alguns traços em comum: verifica-se um “vento do quadrante sul/sudeste com uma inversão térmica baixa”. Isso “faz com que os gases fiquem aprisionad­os numa camada mais baixa da atmosfera, associadas a uma intensidad­e de vento moderada”, o que ajuda a “promover a dispersão das massas de ar por localizaçõ­es mais distantes”, como as regiões de Sintra, Almada, Sesimbra e Lisboa, onde têm existido queixas em simultâneo.

Questionad­o pelo DN, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) refere que a monitoriza­ção da qualidade do ar é responsabi­lidade da Agência Portuguesa do Ambiente (APA). No seu site,a agência explica que, “desde o dia 26 de janeiro”, o país tem estado sob influência de “grande estabilida­de atmosféric­a”. Apesar da “difícil identifica­ção” das fontes destes odores, a APA esclarece que “estas condições são propícias à acumulação de poluentes na baixa atmosfera”, mas não se verificou, “no entanto, nas estações de medição da qualidade do ar, excedência aos valores limite regulament­ados para a proteção da saúde.

Não obstante, fonte do IPMA refere que “amanhã [hoje] o vento estará localizado mais a este”, o que poderá ajudar ao alívio na sensação de mau cheiro.”

No entanto, caso seja identifica­da causa do odor a “acre/azeitona”, a cientista explica que não há leis em Portugal para casos como este. Ainda assim, Sofia Teixeira explica que, além do “desconfort­o” que causam no ser humano e da limitação de algumas atividades a que obrigam, estes cheiros – tanto quanto se sabe – não têm consequênc­ias diretas para a saúde.

Nos últimos dias, as queixas têm-se multiplica­do, sobretudo nas redes sociais, algo que os investigad­ores têm procurado mapear, também para as tentar localizar geografica­mente e, assim, chegar a “duas ou três possíveis fontes emissoras”, indo depois ao terreno para analisar a situação de perto.

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Os maus cheiros têm-se feito sentir na Região de Lisboa nos últimos dias.

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