Cena “desagradável” em estação do Metro
Apágina 5 da edição do DN de há 50 anos está reservada para breves notícias: o caso do marido e mulher, doentes, terem falecido “com intervalo de duas horas”; a inauguração de uma estação de serviço em Alfragide; a lista das matrículas de 18 automóveis roubados e de 10 recuperados pela PSP; os prazos de pagamento da Contribuição Profissional e do Imposto Sobre Veículos.
Metade da página é dedicada à secção “A Cidade” a dar conta de um rol de crimes ocorridos em Lisboa: “Maníaco perigoso ataca crianças numa zona do Alto do Pina”; “Grande avio de gatunos num super-mercado dos Olivais”; “Três condutores sem carta intercetados numa operação ‘stop’”; “Roubaram 14 contos a um comerciante”; “Rusga policial na Baixa”; “Restaurantes na ‘ordem da noite’ da gatunagem”. Mas o destaque da secção vai para o “Desagradável incidente na estação do Metro dos Anjos”.
A notícia começa assim: “Sem grandes comentários – porque esses nos parece que deverão ser feitos pelos responsáveis dos serviços de pessoal do Metropolitano de Lisboa – eis o que anteontem se passou na estação do Metro dos
Anjos tal como no-lo contou uma senhora de 63 anos doente e indignada.”
A senhora – que garantiu ao repórter andar a tomar diuréticos – apeou-se nos Anjos e precisou de recorrer aos sanitários. A porta estava fechada. Mas ao lado, uma outra destinada a limpezas dava acesso às privadas. A passageira entrou – e, poucos minutos depois, ouvia uma empregada gritando inconveniências “como se de um crime público ali se estivesse tratando”.
A mesma funcionária do Metropolitano, “grosseira”, teve a ideia de fechar a senhora à chave – e, feito isso, ato de “requintado incivismo”, abandonou o local argumentando que já passava da hora. A história terminou com a intervenção de familiares da passageira que por acaso a acompanhavam. Estranharam a longa demora e correram a pedir auxílio a uma outra empregada que acabou por abrir a porta.
A notícia terminava com duas interrogações indignadas: “Que se passa com a preparação do pessoal que serve o público no Metropolitano? E que horários serão esses que mandam encerrar serviços de permanente utilização mais de cinco horas antes dos últimos comboios?”